Exercício da Informação: Governo dos Corpos no Mercado da Vida Ativa
Integra
INTRODUÇÃO:
A partir do programa de promoção de atividade física "Agita São Paulo", analiso como se constitui/dissemina/fixa, contemporaneamente, o estilo de vida ativo como objeto de valor pleno na educação dos corpos, regulação da saúde e no governo de si. Fundamentado nos aportes teóricos pós-estruturalistas, procuro mostrar através do exame de relatórios científicos, artigos acadêmicos, manifestos, decretos, boletins informativos, informes publicitários, peças de marketing e matérias jornalísticas captadas em diferentes sites da internet, de que modo a disseminação de informações sobre os benefícios da atividade física moderada e os riscos do sedentarismo foram se tornando centrais à promoção da saúde e, mais notadamente, à educação física.
METODOLOGIA:
Numa incursão analítico-textual mais genérica, procuro movimentar a estrutura aparentemente estável do discurso da vida ativa e desatar alguns nós que amarram significados positivos e negativos em torno da equação "estilo de vida ativo x sedentarismo". De modo mais específico, sigo um caminho investigativo alinhado à genealogia foucaultiana para analisar as relações de poder-saber que projetaram um programa regional de promoção da atividade física no campo da promoção da saúde internacional, dando especial ênfase ao funcionamento, formação e inserção do que venho chamando de "maquinaria do agito" no mercado da vida ativa. Através das formulações pontuais de Gilles Deleuze acerca da passagem das sociedades disciplinares às sociedades de controle, articuladas à noção de risco em saúde como uma forma de governo à distância, o exercício da informação ganha visibilidade como um modo privilegiado de governar os corpos nesta perspectiva biopolítica.
RESULTADOS:
Ao final da pesquisa foi possível identificar duas questões principais: (1) Programas de incentivo à adoção de estilos de vida ativos não dependem da prática física em si para viabilizarem seus propósitos, mas sim da capacidade de mobilização, habilidade persuasiva e versatilidade midiática, características principais do Agita São Paulo, para fazer circular as recomendações que vêm movimentando o mercado da vida ativa. Para programas deste tipo, mais do que simplesmente pôr o corpo em movimento, é fundamental pôr a mensagem para "correr", disseminar seu palavreado, fazer penetrar a crença físico-sanitária no imaginário social contemporâneo. (2). Na série de documentos examinados durante a pesquisa, uma noção particular de sedentário foi ganhando visibilidade. Não é simplesmente aquele sujeito a quem falta atividade física, mas o que não sabe que é ativo, isto é, aquele que muitas vezes atinge o patamar de atividades físicas recomendadas em tarefas rotineiras, porém não faz idéia de que essa movimentação compulsória faz "bem a saúde" e pode retirá-lo dessa posição de sujeito indesejável. Essa espécie de "sedentário informacional" é um dos principais combustíveis da "maquinaria do agito".
CONCLUSÕES:
Neste trabalho não tratei de fazer apologia ao sedentarismo ou pregar contra o estilo de vida ativo, afirmar/refutar que atividade física faz bem/mal, avaliar se a dosagem recomendada produzia ou não os propalados efeitos de proteção à saúde, estabelecer um "juízo final" sobre a conduta dos condutores da maquinaria do agito. Tratei, isto sim, de mergulhar nos sistemas de significação destes "trinta minutos que fazem diferença", desfiar seu vocabulário, seguir os fios dados por essa urdidura ativa e puxar as linhas de força que vêm consolidando esse palavreado dentro da educação física. Dentro desta perspectiva, uma inversão pura e simples na ordem da equação "estilo de vida ativo x sedentarismo" até poderia ajudar a desfazer alguns nós que têm atado significados positivos e negativos em torno de cada um destes pólos, mas dificilmente abalaria as leis que governam este jogo político-econômico-sanitário, pois o que sustenta uma relação assimétrica num dado campo não é a supremacia de um dos lados, mas a própria polaridade.