Experiências de Lazer e Jovens Universitários Consumo de álcool e Vivências Noturnas
Por Heloisa Freitas (Autor).
Resumo
Em um cenário de valorização e de diversas possibilidades de vivências de lazer, investigar os modos com que as juventudes experienciam o lazer pode contribuir para compreender os sentidos dados a essas experiências, bem como as realidades heterogêneas das próprias juventudes. Assim, esta investigação objetivou conhecer as vivências de lazer do público jovem universitário do curso de Educação Física da Universidade Federal do Espírito Santo. Para tanto, a pesquisa se divide em três partes principais: a primeira, que trata das práticas de lazer referentes às preferências, vontades e barreiras que impossibilitam a concretização das vivências de lazer do público investigado; a segunda, que versa sobre o lazer noturno, as expectativas e os itinerários de lazer desses jovens na noite; e a terceira, que observa os usos de drogas lícitas e ilícitas envolvidos nesse contexto. A investigação é uma pesquisa de abordagem quantitativa descritiva com aplicação de questionário online para coleta de dados de uma população de 217 graduandos (41,5% mulheres e 58,5% homens). Foram realizados intercruzamentos por meio do pacote estatístico IBM SPSS relacionando preferências, vontades, tempos disponíveis e recursos de lazer dos jovens universitários, bem como as questões que envolvem o lazer noturno e o consumo recreativo de drogas entre essas juventudes. As vivências de lazer dessa população se fazem mediante um amplo repertório, evidenciando a procura por experiências de socialização, físico-esportivas e de descanso da rotina da vida. Identificamos que as vivências que compõem interesses turísticos, intelectuais e artísticos (com exceção do cinema) configuram os anseios de lazer entre essas jovens expressões, principalmente pela falta de tempo ou de recurso financeiro para sua realização. A pesquisa apontou também que os cenários de lazer noturno, em especial nos fins de semana, apresentam um momento de ruptura com a vida corriqueira promovendo a socialização perante uma diversidade de itinerários de lazer, sendo também, para uma parcela da população pesquisada, contextos de usos de drogas. Entre os homens e mulheres investigados, 63,6% afirmaram consumir bebidas alcoólicas na noite, e 49% da população bebedora apresentou padrão binge drinking, modalidade que aparece com porcentagens mais altas quando o uso é atribuído a espaços informais, como ruas e praças, potencialmente pelo menor controle regulatório em comparação com bares e pubs. Quanto aos consumos ilícitos, 19,3% dos jovens estudados declararam fazer uso, e a maconha aparece entre 95,3% desses consumos, entre os quais 20% apresentaram uso diário. Outros consumos relatados são de ecstasy (32,6%), solventes (14%) e cocaína (9,3%). Sugerimos que essas juventudes apresentam amplo repertório de lazer com ênfase em práticas de socialização. O lazer noturno é caracterizado por diversos itinerários e pela ruptura com o cotidiano. Para uma parte dos universitários, os consumos de drogas estão intrinsecamente relacionados às pautas de lazer noturno e tangenciam questões como a expressão autônoma de suas identidades e preferências, as quais estão menos ligadas à ideia de desvio e muito mais a questões de estilo de vida e identidade nas sociedades contemporâneas.