Resumo

O objetivo deste trabalho foi analisar e interpretar as experiências e expectativas de jovens do gênero masculino relacionadas à prática do voleibol, a fim de compreender os marcadores de gênero que perpassavam a mesma. Para tanto, o corpus da pesquisa foi construído a partir de um questionário aberto, sobre as experiências e expectativas com relação ao voleibol. A amostra da pesquisa foi retirada da equipe de voleibol de uma escola técnica federal do estado de Minas Gerais, estudantes de ensino médio, composta por 16 jovens do sexo masculino, com idades entre 14 e 19 anos. Para análise de dados, organizamos as respostas a partir das relações que elas possuíam entre si, dividindo em dois grupos: daqueles que possuíam experiências esportivas em outras modalidades, além do voleibol (9 sujeitos); e aqueles que construíram suas experiências esportivas unicamente a partir dessa modalidade (7sujeitos). Do primeiro grupo, os jovens declararam possuir experiências em modalidades e práticas corporais diversas. Apesar disso, a motivação para a prática do voleibol se deu em função, das características presentes na modalidade que agiam sobre seus corpos, como a força, preparo físico, agilidade, habilidades. Tais atributos podem ser interpretados a luz de características que representam uma ideia de uma masculinidade hegemônica, normativa, relacionada a ideais de virilidade, força, agressividade. As respostas dos jovens, entretanto, demonstram que eles tentam articular à prática do voleibol essas características relacionadas à virilidade, de modo a construir em torno dessa modalidade, considerada culturalmente como feminina, um ideal particular de masculinidade. Ao analisarmos as respostas do segundo grupo, notamos outras duas justificativas para a prática do voleibol. A mais predominante delas diz respeito às relações sociais anteriores ou que foram possibilitadas pela prática esportiva. Percebe-se nessas respostas que a prática esportiva em si não era o elemento que despertou o interesse dos jovens, o que ajuda a compreender porque a única experiência esportiva deles é por meio do voleibol. Por fim, quando perguntados sobre a existência de preconceito, apenas um afirma não perceber nenhuma forma de discriminação com a prática do voleibol. As respostas atestam uma consequência do ideal normativo de masculinidade hegemônica, que interdita a prática de modalidades relacionadas à feminilidade a homens. Ao dizerem também que não se importam com o rótulo, esses jovens reafirmam outras possibilidades de vivenciarem masculinidades. Com este trabalho, percebemos que o voleibol tem permitido a esses jovens a performatização de identidades de gêneros distintas. Nota-se que não se sobrepõe um ideal de masculinidade normativo, ao passo que os próprios sujeitos articulam características de diferentes matrizes de masculinidades em suas identidades, possibilitando a expressão de uma diversidade de masculinidades.

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