Resumo

A investigação teve como objeto de conhecimento o estudo compreensivo-critico das experiências de movimento corporal das crianças no contexto da educação infantil. A questão de partida perguntou como essas experiências ocorrem no dia a dia de um CMEI, do sistema de ensino público de Vitória (ES). A investigação foi inspirada nos postulados propostos por Sarmento (2000, 2003a, 2003b) e Sarmento, Thomás, Fernandes (2004). Nosso objetivo foi contribuir para que a Educação Física constitua elementos teóricos e metodológicos específicosplausíveis, capazes de orientar a atuação e a formação do professor envolvido no processo de educação das crianças na educação infantil. A observação em contexto nos permitiu compreender que as experiências de movimento corporal das crianças tendem a ser sistematicamente interditadas pela cultura institucional; que as crianças na educação infantil não têm direito a movimentar a si e ao seu mundo como precisam e gostariam de fazê-lo; que o sentido interpretativo desenvolvimentista corrente na educação infantil indica que quando a criança move a si e ao seu mundo provoca um forte conflito entre sua perspectiva cultural ética estética e a ordem cultural estética ética institucional. Ao compreender a tentativa sistemática de interdição das experiências de movimento corporal das crianças, passamos a considerar que essas experiências são uma chave de socialização das crianças; pois, movimentos corporais executados por elas são fundamentais para a configuração de ações inerentes aos jogos e às brincadeiras no momento em que ocorrem; são uma necessidade e um interesse típico e parte significativa do ofício de criança. Se essas necessidades e interesses não forem considerados no dia a dia da educação infantil, expropria-se a chave e compromete-se sensivelmente o desenvolvimento, a educação, socialização da criança como sujeito de direitos. Experiências de movimentos corporais vividas pelas crianças são necessárias como fontes e possibilidades efetivas de aquisição de um tipo de conhecimento objetivo, estruturante, regulador e revelador das experiências, das ações, das linguagens, da subjetividade, das representações das dimensões reais e virtuais da vida e das condições efetivas de socialização da criança. Radicalizando na compreensão crítica, sugerimos que no processo de escolarização, as experiências de movimento corporal configuram ações ontologicamente violentas. Concorrentes indóceis às nossas boas intenções para com as necessidades e interesses pessoais e sociais das crianças. Assim, chamamos o debate para o campo do direito a ter direitos e, nos valendo das proposições de Rosenfield (2001), consideramos as experiências de movimento corporal como um acontecimento existencial, pedagógico, social, cultural produzido pelas crianças e um momento fundador de novos direitos. A escola infantil não pode continuar a ignorar as experiências de movimento corporal das crianças no seu fazer pedagógico, tampouco manter o seu fazer pedagógico intacto, exigindo que as crianças continuem se adaptando à sua ordem cultural. 

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