Resumo
O lactato é um importante metabólito intermediário energético produzido constantemente pelas células. Contudo, sua produção é preponderante em situações de alta demanda energética. Atualmente, esse metabólito é compreendido como elemento chave em um mecanismo importante de compartilhamento de substrato energético, uma vez que diferentes tecidos podem compartilhar de uma mesma fonte energética por meio de oxidação ou gliconeogênise. Assim, os mecanismos de transporte desse metabólito podem interferir diretamente em sua concentração plasmática no período entre sua produção e consumo. Nossa hipótese é que o aumento na concentração de lactato induzida pelo exercício possa promover aumento na expressão gênica dessas proteínas em tecidos inativos durante o exercício, promovendo maior capacidade de manter a lactacidemia durante exercícios em intensidades equivalentes à máxima fase estável do lactato (MFEL), por aumentar a participação dos músculos inativos na remoção do lactato sanguíneo. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi avaliar a expressão gênica dos transportadores MCT1 e MCT4 em tecidos ativos e inativos, bem como nos órgãos coração (COR) e fígado (FIG) de camundongos em resposta à uma única sessão de natação em intensidade equivalente a MFEL. Inicialmente, 24 camundongos tiveram avaliadas, individualmente, a intensidade equivalente a MFEL no exercício de natação. Em seguida, todos os animais foram submetidos à sessão de exercício de natação na intensidade referente à MFEL durante 25 minutos ou até exaustão. Após a sessão aguda de exercício, os animais foram divididos em 3 grupos e sacrificados nos períodos imediatamente (n=6); 5 horas (n=6); e 10 horas (n=6) após a sessão de exercício. Como controle foram utilizados animais (n=6) com a mesma característica, exceto pelo fato de não terem realizado a sessão de exercício de natação. Os músculos sóleo (SOL), as porções branca (GB) e vermelha (GV) do gastrocnêmio e o bíceps (BIC), considerado músculo inativo, foram obtidos, assim como o FIG e o COR. A expressão gênica foi determinada pela técnica semi-quantitativa RT-PCR. Como tratamento estatístico foi utilizado ANOVA com post-hoc de Tukey interpretado a 95% (p<0,05). A determinação da MFEL em camundongos durante o exercício de natação mostrou que os valores lactacidêmicos ficam em torno de 5,5mmol/L de lactato. Com relação ao MCT1, observou-se aumento significativo da EG no FIG (39%) 10 horas após o exercício. No GB observou-se pico de expressão imediatamente após o exercício (62,3%). No SOL a expressão aumentou imediatamente após o exercício (202,1%) e se manteve elevada até 10 horas após (227,3% e 230%, 5 e 10 horas após o exercício respectivamente). Nos tecidos COR, BIC e GV não foram encontradas alterações relevantes na EG do MCT1. Já em relação ao MCT4, observou-se redução significativa da EG no coração em todos os momentos em relação ao controle (-28,2%; -35,5% e -38,3%, imediatamente, 5 e 10 horas após o exercício respectivamente) e aumento na EG imediatamente e 10 h após no SOL (82% e 55,9% respectivamente). Nota-se que a cinética de EG do MCT1 em tecidos consumidores de lactato ocorre tardiamente, após 10 h. Já em relação a EG do MCT4, o exercício proposto parece não promover alteração nos tecidos FIG, GB, GV e BIC. Vale destacar ainda que em tecidos ativos, o exercício com predominância aeróbia promove adaptações agudas na EG do MCT1 tanto em tecidos com predominância de fibras tipo I quanto em tecidos com predominância de fibras tipo II. Entretanto, nenhuma alteração foi identificada no BIC, tecido inativo durante o exercício proposto. Assim, conclui-se com esse estudo, que a concentração de lactato obtida durante o exercício moderado em intensidade de MFEL não promoveu aumento significativo na expressão de MCT1 e MCT4 na musculatura pouca ativa do bíceps e que a manutenção da lactacidemia nessa intensidade de esforço pode ser controlada principalmente pela ação dos MCT1 no músculo sóleo e no coração.