Resumo

Paralelamente à transição demográfica em nosso país, ocorre umatransição epidemiológica, relacionada à mudança no perfil de morbimortalidade da população, sendo as doenças infecto-contagiosas substituídas pelas crônico-degenerativas.Esta realidade aponta para uma complexidade crescente na atenção às necessidades desse novo grupo populacional, com impacto na saúde e nos níveis de independência e autonomia dessa população que envelhece. Assim há interesse em promover saúde e qualidade de vida dos idosos e isso pode ser possível realizando exercícios físicos regulares, o que leva a uma melhora funcional e especificamente no desempenho dasAtividades de Vida Diária. Porém, evidências sugerem que 50% da população que inicia um programa de exercícios interrompe em até seis meses, enquanto a adesão mínima preconizada varia de 80 a 85% para que os resultados da intervenção sejam satisfatórios. A medida da adesão é baseada na razão entre o número de sessões ofertadas, mas de acordo com a literatura essa relação frequentemente é muito baixa. Esse estudo foi dividido em duas etapas e o objetivo principal foi identificar os fatores associados à adesão de idosas a trêsdiferentes programas de exercícios terapêuticos: o primeiro artigo comparou a adesão a um programa de fortalecimento muscular com um programa aeróbico; e o segundo artigo investigou a adesão em um programa domiciliar, póstreinamento ambulatorial. Trata-se de um estudo observacional exploratório, com uma amostra de 151 (média de idade 70,7 ± 4,9) no grupo de fortalecimento, 231 idosas (média de idade 70,5 ± 4,6) no grupo aeróbico, e 96 (média de idade 70,8 ± 5,1) no grupo domiciliar, que foi um follow-up do grupo de fortalecimento. Para avaliar as medidas clínicas e funcionais foi construído um questionário estruturado com testes padronizados para a população idosa.Além desse, os pesquisadores desenvolveram um questionário específico para avaliar adesão e seus motivadores e barreiras. Foram realizados três modelos de regressão logística múltipla para cada grupo, para verificar a associação da adesão de idosas com as barreiras aos exercícios, com os motivadores e com as variáveis clínicas e funcionais, que foram selecionadas a partir de um marco teórico sobre impacto das mesmas na adesão de idosos a exercícios. Comoresultado do primeiro estudo encontrou-se que a taxa de adesão foi de 49,70% no grupo aeróbico e de 56,20% no fortalecimento. O modelo de regressão logística múltipla com os motivadores à prática de exercícios, foi significativo (p=0,003) para o grupo de fortalecimento muscular, com R2= 0,310 e para o aeróbico (p=0,008) com R2= 0,154. O modelo de regressão com as barreiras à prática de exercícios foi significativo apenas para o grupo de fortalecimento (p=0,003), com R2= 0,236. O modelo clínico-funcional não apresentou significância estatística para nenhum dos grupos. No estudo domiciliar, a taxa de retenção ao programa foi de 86,4% e a taxa de adesão foi de 36,03%.Foram realizados três modelos de regressão logística múltipla para explicar a adesão: um para as variáveis clínicas e funcionais (p= 0,09), outro para os motivadores (p=0,053) e o terceiro para as barreiras à prática de exercícios (p=0,053), mas nenhum foi significativo. Dessa maneira, não ficou estabelecida uma relação direta entre a adesão das idosas com piores condições de saúde, como pior desempenho em testes funcionais ou piores escores nos testes padronizados - GDS, MEEM, estresse auto-percebido e auto-percepção de saúde. Apesar de os modelos não terem apresentado variáveis preditoras de adesão, foi verificado nas análises descritivas, a alta incidência de fatores negativos que dificultaram a prática de exercícios terapêuticos, o que podenortear os profissionais de saúde quanto à maneira de gerenciá-los,estimulando à prática dos exercícios. Os fatores relacionados à adesão dos idosos aos exercícios físicos são multifatoriais e estudos que elucidem os fatores passíveis de controle devem ser incentivados.

Acessar Arquivo