Resumo
O comportamento sedentário (CS) tem sido encarado como importante fator de risco modificável para doenças cardiovasculares. Com avanço tecnológico, adolescentes têm despendido elevado tempo frente à TV, a jogar videogame e a usar computador. Identificar os fatores associados, em especial os modificáveis, é primordial para proposição, elaboração e execução de intervenções de sucesso. Tempo de tela (TT) tem sido empregado como estimativa válida para avaliar tempo em CS entre adolescentes, no entanto, pouco se sabe sobre a relação das novas tecnologias de mídia portáteis (NTMP) e o TT. Este estudo objetiva a) testar a validade e reprodutibilidade do questionário de Tecnologias Portáteis e Internet Móvel (Tecno-Q) em adolescentes brasileiros; b) determinar a prevalência do CS e analisar os fatores associados entre adolescentes; e c) testar a correlação entre o TT e o uso de tecnologias de mídia portáteis. Quatro etapas foram empregadas para validar o Tecno-Q: construção do questionário; validade de face e conteúdo; clareza do instrumento; reprodutibilidade. Para o segundo objetivo foi desenvolvido um estudo epidemiológico de base escolar e amostra representativa de adolescentes (14-19 anos; escolas públicas e particulares de Uberaba, MG). Amostra alcançada: 1.009 adolescentes. Adolescentes responderam a dois questionários: o Questionário COMPAC e o Tecno-Q. O CS foi classificado a partir do TT (a assistir TV, a jogar videogame e/ou a usar computador) ≥ 2 h/dia. A medida de associação foi a regressão logística binária hierárquica (OR). Empregou-se o coeficiente de correlação de Pearson para testar correlação entre o TT e uso das NTMP. Significância p < 0,05. O Tecno-Q obteve 93% para face, 81% para conteúdo, 95% para clareza. Reprodutibilidade do Tecno-Q: questões qualitativas: Kappa: 0,77 a 1,00; p < 0,01); questões quantitativas discretas: CCI: 0,94 a 0,98; questões quantitativas contínuas: vieses do Bland-Altman: -1,93 a 61,12 minutos/dia. Prevalência do CS foi 81,6% (IC95%: 78,8 - 84,4), maior entre os rapazes (84,9%; IC95%: 82,6 - 87,2) que em moças (78,6%; IC95%: 75,9 - 81,3, p = 0,018). Os rapazes (OR = 1,78; IC95%: 1,23 - 2,56), os do 1º ano (OR = 1,89; IC95%: 1,22 - 2,94), do 2º ano (OR = 1,97; IC95%: 1,22 - 3,17), os sem estágio/trabalho (OR = 2,23; IC95%: 1,54 - 3,23) e com menor consumo de frutas (OR = 1,43; IC95%: 1,01 - 2,14) apresentaram maiores chance de exposição ao CS. Houve correlação entre TT e NTMP para rapazes, r = 0,13 a 0,50; e moças, r = 0,27 a 0,37. Tecno-Q apresentou propriedades psicométricas satisfatórias para validade, reprodutibilidade e aplicação. A prevalência do CS foi alta em ambos os sexos. Os adolescentes identificados com maior exposição ao CS representam grupos para intervenções que objetivem a redução do entretenimento sedentário baseado em tela.