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Existem temáticas na Educação Física (EF) que vem suscitando debates, em diferentes locais pertinentes. O mercado de trabalho, a formação profissional, a História e a concepção de EF são algumas delas. A proposta de pesquisa ora apresentada surgiu de discussões decorrentes no interior do Grupo de Estudo e Pesquisa em História da Educação Física e do Esporte (GEPHEFE), e especificamente dos conflitos dos autores desse trabalho, alguns deles vividos ainda enquanto discentes do curso de licenciatura em Educação Física.

Verifica-se na formação profissional, dificuldades do corpo discente em conceituar Educação Física, a sua função em cada campo de atuação e as possíveis influências na escolha e no status quo de seus segmentos de área. Aparentemente, o professor atuante em academias de ginástica, por exemplo, é um profissional considerado reconhecido e, por vezes, bem remunerado, enquanto o profissional que atua na área escolar estaria vinculado de forma desprestigiada e com baixos rendimentos. Essas influências podem colaborar para os discentes em sua maioria, optarem pela busca do prestígio, ou seja, o campo de atuação da Educação Física na área do chamado Fitness, compreensão esta fortalecida por informações veiculadas nos meios de comunicações. Daí também pode ser decorrente a preferência de determinadas disciplinas em detrimento de outras por grande parte dos discentes.

A formação profissional, o currículo, a concepção de EF, no entanto, não podem ser compreendidas na sua essência sem considerarmos fatores de influência historicamente estabelecidos. Nesses termos, nos remeteremos a alguns fatos históricos para, em seguida, apresentarmos o questionário proposto.

No panorama histórico, verifica-se que a EF no Brasil tem passado por tendências recorrentes. Ainda na época do Brasil-Império a compreensão de EF atende também a perspectiva dos médicos higienistas. Nessa época, os médicos eram responsáveis não só por assuntos da saúde como também por grande parte dos conteúdos que formavam o pensamento da sociedade. A Educação Física estava vinculada a conceitos higiênicos de prevenção de doenças visando a formação de homens fortes e viris para representarem a sua pátria. (Oliveira, et alli, 2001). Atualmente, ainda verifica-se uma influência na formação de opinião da sociedade por parte dos médicos. Isto pode acarretar em uma legitimação dos médicos pela sociedade em relação a outras áreas do conhecimento, como a Educação Física.

No final do século XIX, um período marcado pelo declínio do Império, da sociedade escravocrata e a ascensão das forças produtivas e da República, Matta Machado um médico higienista questionava o sistema educacional e propunha sua mudança devido as condições ruins de instalações dos colégios e da saúde dos alunos, além da falta de atividade física orientada (Malina & Azevedo, 2000).

Matta Machado defendia a prática de atividade física de forma sistemática, moderada, continuada e com orientação visando a boa saúde. Os exercícios recomendados eram em sua maioria, os associados às instituições militares como a natação, a esgrima e a ginástica (Malina & Azevedo, 2000).

Em 1922, foi criado o Centro Militar de Educação Física, que tinha como orientadores os médicos e militares e apresentava como objetivo

"proporcionar o ensino do método da Educação Física regulamentar e orientar e difundir a aplicação do método" (Amaríllio, 1999, p. 51). Para Denys (1921), apud Amaríllio (1999), "os tenentes adquiriam conhecimentos necessários ao papel de instrutores e os sargentos e cabos desempenhariam funções de monitores"(p.51).

Com o surgimento do Estado Novo, houve uma ampliação da aliança que havia entre os militares e médicos com o Estado visando à criação do curso superior de Educação Física, pois esta poderia assegurar a propagação dos ideais da ditadura que eram segundo Faria Júnior (1987), o fortalecimento do estado e o aprimoramento da raça brasileira.

Com isso o interesse dos três segmentos seria atendido através da Escola Nacional de Educação Física e Desportos (ENEFD), criada em 1939 na Universidade do Brasil (atual UFRJ).

Segundo Malina & Azevedo (1998) o objetivo da ENEFD era de "promover a formação do pedagogo para atuar na área escolar, apesar de não conter disciplinas de cunho pedagógico" (p.23). A formação do corpo docente foi baseada nos médicos para ministrarem disciplinas com caráter teórico e nas pessoas que obtiveram destaque esportivo na época para ministrarem as disciplinas de caráter prático.

O ingresso no curso superior de Educação Física, que tinha duração de dois anos, era permitido diante apresentação do diploma de primeiro grau. Os professores que se formavam pela ENEFD saiam do curso com um caráter técnico desenvolvido, mas eram desprovidos de fundamentação teórica.

Após a contextualização da formação da área da Educação Física e o confrontamento com os primeiros questionários respondidos, percebemos que apesar de muitos anos terem se passado observa-se que a Educação Física parece ainda ser influenciada pelo discurso dos médicos e da pedagogia militarista. Desta forma, é pertinente aprofundarmos estudo sobre a formação profissional e a concepção de EF permeando-o pelo processo histórico, pois entendemos ser a melhor maneira de se compreender um fenômeno.

Portanto, a partir das dúvidas relatadas, foram elaboradas as seguintes questões-piloto, iniciando o levantamento de dados relativos à temática. Este questionário foi composto visando os discentes do curso de graduação de Educação Física de quatro universidades:

1) O que você entende por Educação Física *

2) Por que você escolheu o curso de Educação Física *

3) Qual é a área em que pretende atuar (atua) e por quê *

4) Qual (is) disciplina (s) do curso que considera mais importante para sua formação e por quê *

As primeiras coletas, em número de 38, foram realizadas em uma Universidade, privada, com alunos de diferentes períodos e duração de trinta minutos para resposta. Preliminarmente, as respostas tem seguido o quadro exposto. Cabe ressaltar, no entanto, a necessidade de ampliação e aprofundamento no número e análise dos questionários, visando melhor elucidação das questões propostas. Além disso, busca-se ultrapassar o limite da aparência das respostas, através de categorias de análise qualitativa, utilizando-se do método dialético.

Obs. Os autores, professores Juliana Costa, Marcelo Rangel, Ms. André Malina e Ms Ângela Celeste Barreto de Azevedo são membros do GEPHEFE da UGF e os dois últimos doutorandos na Universidade Gama Filho


 Referências bibliográficas

  • Azevedo, Ângela Celeste Barreto de.
  • Faria Júnior, Alfredo Gomes de. Professor de Educação Física, Licenciado Generalista. In: Oliveira, Vítor Marinho de. Fundamentos Pedagógicos da Educação Física. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, p. 15-33, 1987.
  • Ferreira Neto, Amarílio. A Pedagogia no Exército e na Escola: A educação física brasileira (1880- 1950). Aracruz: FACHA, 1999.
  • Malina, André & Azevedo, Ângela Celeste Barreto de. Os Intelectuais da Educação Física no Século XIX: A tese de Matta Machado. In: VII Congresso Brasileiro de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança. Gramado: UFRGS/ESEF, 2000.
  • __________.Os Significados que Emergem da Formação do Primeiro Corpo Docente da ENEFD. In: Oliveira, Vitor Marinho de (Org.). História Oral Aplicada à Educação Física Brasileira. Rio de Janeiro: Central da Gama Filho, 1998.
  • Oliveira, Vitor Marinho de et alli. As Teses da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro: Origens da relação educação física e saúde na Escola. In: XII Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte. Caxambu: 2001, p. 76.