Resumo

Diversos estudos têm demonstrado benefícios ao desempenho aeróbio (DA) da inclusão de estímulos de força e potência nos programas de treinamento. Entretanto, ainda não está claro qual o papel da força na predição do DA; a influência da aptidão neuromuscular no DA em corrida com inclinação; e a associação de estímulos concorrentes de força sobre o DA na corrida. A presente tese, organizada em dois estudos, investigou essas questões. OBJETIVOS. (a) verificar o efeito da realização prévia de uma sessão de treinamento contra resistência (TCR) sobre o DA na corrida a 1 e 10 % de inclinação; (b) verificar a associação das variáveis neuromusculares com a variação no DA observada nas duas inclinações investigadas; (c) estabelecer as variáveis neuromusculares preditoras do DA, nas duas inclinações; e (d) comparar o trabalho total (TT) realizado a 1 e 10 % de inclinação em dois grupos equilibrados para VO2Máx e diferentes em força. MÉTODOS. Vinte indivíduos do sexo masculino, fisicamente ativos (25,6  3,7 anos, 75,9  11,9 kg, 9,7  4,4 % de gordura, 47,5  5,7 mLkg-1min-1 e 445,6  78,8 kg de força absoluta) participaram voluntariamente do estudo. Foram realizados os seguintes procedimentos: teste progressivo máximo (a partir de 5 kmh-1, incremento de 1 kmh-1 a cada 2 min até exaustão) com monitoração de variáveis de troca gasosa respiratória para determinação do VO2Máx e sua velocidade de ocorrência (VVO2Máx); testes de impulsão vertical com e sem contramovimento; teste de corrida anaeróbia máxima (MART); teste de força isoinercial para 9-10 RM (leg-press, cadeira extensora e flexão plantar); e quatro testes de tempo limite (TLim) na VVO2Máx, em ordem aleatória: sem (STCR) e com (CTCR) a realização prévia de uma série de 9-10 RM dos exercícios isoinerciais, a 1 e 10 % de inclinação. Foram calculados o índice do ciclo alongamento-encurtamento a partir dos testes de impulsão vertical, o TT a partir do teste de TLim nas duas inclinações e condições, e a potência a partir do teste de salto vertical. Todas as análises estatísticas utilizaram o nível de significância de  ≤ 0,05. RESULTADOS. (a) Um teste t pareado demonstrou não haver diferença significativa entre STCR e CTCR a 1 % de inclinação (11,3  2,8 kJ vs. 10,3  3,7 kJ, t = 1,418, P = 0,175, tamanho do efeito = 0,30), contudo houve diferença significativa a 10 % de inclinação (82,5  29,4 kJ vs. 61,3  21,7 kJ, t = 4,129, P = 0,01, tamanho do efeito = 0,83). (b) As alterações observadas no TT após a sessão de TCR não se relacionaram significativamente com qualquer das variáveis neuromusculares investigadas. (c) O intervalo de confiança de 95 % dos coeficientes de correlação estabelecidos entre as variáveis preditoras e o DA oscilaram entre 0,00 - 0,64 para TT a 1 % e 0,00 - 0,28 para TT a 10 %, independente de a relação ser direta ou inversa. As regressões lineares múltiplas (utilizando o método de entrada) para predição do DA a 1 % (r2 = 0,456, P = 0,024, EPE = 2282,6 J) e 10 % de inclinação (r2 = 0,078, P = 0,245, EPE = 27487,8 J) demonstraram um baixo poder de estimativa, especialmente a 10%. (d) O TT do grupo mais forte foi mais alto, porém não significativamente, tanto a 1 % (9,9  1,3 kJ vs. 12,2  2,9 kJ, P = 0,078, tamanho do efeito = 0,94) quanto a 10 % de inclinação (79,5  19,3 kJ vs. 93,0  34,6 kJ, P = 0,383, tamanho do efeito = 0,49). CONCLUSÕES. Os resultados do presente estudo parecem não dar suporte às conjecturas acerca dos benefícios de uma superior aptidão neuromuscular para um melhor DA. Diferente do que era de se esperar, a atividade a 10 % de inclinação não demonstrou superior dependência da aptidão neuromuscular com a condição quase plana. 

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