Resumo
O objetivo deste estudo foi verificar a presença de fatores de risco cardiovasculares em escolares obesos e eutróficos, na faixa etária de 10 à 16 anos, de ambos os gêneros, relacionando-os com a espessura da camada médio-intimal (EMI) da artéria carótida. O estudo foi dividido em duas fases. A 1ª fase da pesquisa (Fase 1) constou de estudo epidemiológico com delineamento observacional e transversal, em que foram selecionados 928 alunos (473 meninos e 455 meninas) para avaliação, escolhidos de forma estratificada e por sorteio, de uma população de 5534 alunos provenientes de 8 escolas públicas urbanas (3 municipais e 5 estaduais) da cidade de Francisco Beltrão-PR. Na Fase 1, os estudantes foram avaliados durante o horário escolar e mensurados quanto a massa corporal (kg) e estatura (m). O índice de massa corporal em kg/m2 foi calculado e classificado por critérios de referência nacional. Após o diagnóstico de IMC adequado e excesso de peso nos escolares, iniciou-se a 2ª fase da pesquisa (Fase 2). Na Fase 2, os escolares foram selecionados por conveniência e divididos em dois grupos: Grupo obeso (n=22) e Grupo eutrófico (n=21). Nessa fase foram mensuradas a circunferência abdominal (CA), pressão arterial (PA) e exames laboratoriais de glicemia e insulinemia em jejum, triacilglicerol (TG), colesterol total e frações. Os participantes foram avaliados, também, por exame de ultrassonografia dos vasos carotídeos para obter medições da EMI da artéria carótida. Utilizou-se questionário de recordatório de atividade física (3DPAR) e questionário sócio-econômico (ABEP). Na fase 1 foram utilizadas a estatística descritiva e o teste qui-quadrado (x2) para as diferenças de proporções. Na Fase 2, a normalidade das variáveis foi avaliada pelo teste de Kolmogorov-Smirnov, sendo utilizado o teste t de Student ou o teste U de Mann-Whitney. As análises foram realizadas considerando significante p<0,05. Os resultados encontrados na Fase 1 foram 16,8% de escolares com excesso de peso (15,8% nas meninas e 17,7% nos meninos) e 7,8% com obesidade (9,6% meninas e 5,8% meninos). As proporções de obesos e eutróficos foram semelhantes entre os gêneros (x2=0,024; p=0,876). Na fase 2, os obesos apresentaram médias maiores de massa corporal, índice de massa corporal, índice de massa corporal-z, circunferência abdominal, pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica, glicemia em jejum e insulina de jejum do que os eutróficos (p<0,05). As médias de idade e estatura foram semelhantes. Os valores médios de EMI das artérias carótidas direita e esquerda foram maiores nos obesos (0,45mm) do que nos eutróficos (0,41mm; p<0,05). Não houve diferenças quanto às concentrações de colesterol total e frações, TG e nível de atividade física. Houve maiores proporções de medidas hipertensivas e de HDL reduzido no grupo obeso em relação ao eutrófico (p<0,05). Conclui-se que avaliação do risco cardiovascular é fundamental em populações pediátricas e que a medida da EMI das artérias carótidas pode ser utilizada como diagnóstico precoce da aterosclerose. A abordagem preventiva serve como ferramenta para a redução dos fatores de risco nesta faixa etária, possibilitando a orientação de crianças e adolescentes para tornar os seus hábitos de vida mais saudáveis.