Resumo
Apesar de a maior parte das doencas cardiovasculares ocorrerem na fase adulta da vida, o processo e conhecido por iniciar, muitas vezes, na infancia e na adolescencia. O objetivo deste estudo foi analisar fatores de risco cardiovascular em adolescentes do municipio de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil. Neste estudo, epidemiologico de corte transversal, foram analisados dados de 1675 adolescentes de 11 a 17 anos de Caxias do Sul-RS, selecionados de forma aleatoria por conglomerados a partir do setor do municipio, tipo de escola e serie de ensino. As variaveis analisadas foram divididas em fatores associados (faixa etaria, numero de pessoas com quem reside, escolaridade do chefe da familia, TV no quarto, comportamentos sedentarios, forma de deslocamento a escola e atividade fisica do pai e da mae) e fatores de risco para doencas cardiovasculares (historico familiar, sedentarismo, dieta aterogenica, tabagismo, etilismo, consumo abusivo de alcool, baixa aptidao cardiorrespiratoria, excesso de peso, perimetro da cintura elevado, excesso de gordura corporal e pressao arterial elevada). O sedentarismo e a aptidao cardiorrespiratoria (ACR) foram utilizados como variaveis dependentes. As prevalencias de fatores de risco cardiovascular ocorreram, de forma decrescente: historico familiar (82,4%), dieta aterogenica (74,7%), baixa ACR (61,6%), sedentarismo (55,8%), pressao arterial elevada (28,4%), adiposidade abdominal aumentada (27,7%), excesso de gordura corporal (26,5%), etilismo (22,3%), excesso de peso corporal (19,7%), tabagismo (6,2%) e consumo abusivo de alcool (4,3%). O teste qui-quadrado indicou que os rapazes apresentaram maior prevalencia de dieta aterogenica (79,4% e 70,7%; p<0,001), enquanto as mocas apresentaram prevalencias mais elevadas de sedentarismo (66,8% e 43,2%; p<0,001), baixa ACR (69,4% e 53,0%; p<0,001), tabagismo (7,9% e 4,3%; p=0,004), adiposidade abdominal aumentada (32,9% e 21,7%; p<0,001) e excesso de gordura corporal (32,5% e 19,7%; p<0,001). As razoes de prevalencia ajustadas hierarquicamente (RP) e os respectivos intervalos de confianca apontaram, por meio da regressao de Poisson, que os fatores associados ao sedentarismo nas mocas foram: a faixa etaria de 15-17 anos (RP=1,30), residir em ate 4 pessoas (RP=1,17) e apresentar comportamentos sedentarios superior a 14 horas/semana (RP=1,21). Nos rapazes, nao foram verificadas associacoes (p¡Ã0,05). Os fatores de risco cardiovascular associados ao sedentarismo nas mocas foram apresentar dieta aterogenica (RP=1,12) e possuir baixa ACR (RP=1,21). Nos rapazes, o sedentarismo associou-se a baixa ACR (RP=1,21). Os fatores associados a baixa ACR nas mocas foram: faixa etaria de 15-17 anos (RP=1,43) e possuir mae sedentaria (RP=1,13). Nos rapazes, o deslocamento passivo a escola associou-se a baixa ACR (RP=1,18). Os fatores de risco cardiovascular associados a baixa ACR foram, para ambos os sexos, o sedentarismo (RP=1,17 nos rapazes e RP=1,19 nas mocas), o excesso de peso (RP=1,24 nos rapazes e RP=1,16 nas mocas) e o excesso de gordura corporal (RP=1,51 nos rapazes e RP=1,14 nas mocas). Intervencoes em atividade fisica devem ser realizadas com maior foco nas mocas, com idades de 15 a 17 anos, que residem em ate 4 pessoas e com comportamentos sedentarios elevados. Recomenda-se maior atencao as mocas em intervencoes em atividade fisica, tabagismo e excesso de peso, e nos rapazes, recomenda-se maior atencao nos habitos alimentares.