Resumo
Motivados por tratar as questões de gênero na prática esportiva, que há muito tempo se constituem como uma das problemáticas da Educação Física Escolar, e partindo de nossa prática cotidiana como professor, centramos neste tema o nosso estudo. Como objetivo geral este se centrou em revelar e discutir aspectos de gênero e preconceito sofridos pelas meninas que jogam futebol em um projeto esportivo, de uma escola pública no município de Fortaleza – Ceará, visando apresentar características educacionais e estratégias de enfretamento que contribuíram para caracterizar um esporte democrático e inclusivo para essas meninas. Nossa opção metodológica contemplou a conjugação de dois tipos de pesquisa: a participante, envolvendo as 8 alunas selecionadas para o presente estudo, e a narrativa docente, considerando a trajetória formativa do professor-pesquisador. Como instrumento de coleta de dados utilizamos a entrevista temática aplicada às meninas, a observação participante do professor, durante o ano de 2019, na vivência de jogos e treinos do projeto, que foram registrados nas rodas de conversa e no diário de campo; assim como a narrativa profissional do professor. Realizamos a análise do corpus das entrevistas temáticas, com base na análise de conteúdo, na qual entrelaçamos as narrativas das alunas, com as inferências, de acordo com as nossas premissas, e a interpretação, apoiados pela fundamentação teórica. Pesquisas envolvendo o preconceito contra a mulher no esporte, mais precisamente na escola, podem contribuir tanto para a promoção de uma consciência corporal crítica das alunas sobre a condição histórica e cultural da mulher, como para subsidiar uma prática pedagógica ligada às questões de gênero, por parte dos professores de educação física. Como síntese constatamos que atualmente a iniciação das meninas no futebol, acontece comumente, e com o apoio dos meninos, nos jogos e brincadeiras de bola na rua; que as influências dos familiares são muitas vezes preponderantes para a permanência ou desistência no futebol; que o nível de habilidade técnica no futebol, ainda é aspecto determinante para inclusão ou exclusão das meninas durante as aulas de educação física; que o pertencimento ao mundo do futebol desperta nas meninas sentimentos agradáveis; como também, sensações de dores, que nesse caso, relacionam-se com as agressões simbólicas do preconceito; e que atitudes de resistências e de empoderamento através da prática de esporte pelas alunas, apontam um avanço na configuração social do esporte. Concluímos então, ser cada vez mais urgente, lançar olhares sobre a cultura do futebol, hegemonicamente masculino, afim de reconstruí-la mais democrática e menos excludente.