Integra

Caros Amigos:
Por sugestão do nosso querido “guru” Laércio, estou reproduzindo aqui um texto recentemente publicado na Revista do Panathlon-Brasil.
Faço parte dessa organização há mais de 30 anos e atualmente também atuo no seu Comitê Internacional de Pesquisa e Cultura. Esse grupo de seis pessoas de distintos países vem debatendo como fazer da prática esportiva um ambiente em que prevaleça a ética nas relações humanas.

Este texto se propõe a oferecer um breve relato do Festival de Esportes de Rapallo, no qual durante uma semana panathletas de várias partes do mundo participaram de diversas atividades na cidade sede do Panathlon Internacional, tais como a reunião da Comissão de Cultura e Pesquisa, o 19º Congresso Internacional, 46ª Assembléias Gerais Extraordinária e Ordinária, cerimônia de Premiação de Comunicação, a entrega da premiação Flambeau d’Or, além da Praça de Esportes montada especialmente para a ocasião, com a Panathiardi Rapallo envolvendo a competição de escolares e a Panasporthiardi, com iniciação esportiva de vários esportes além do concurso fotográfico do esporte.
Como membro da Comissão de Cultura e Pesquisa do PI (CCP), já em março do ano passado realizamos a primeira reunião da CCP na Bélgica com os novos membros (dos seis anteriores permaneceram dois, sendo eu um deles) e sob nova presidência, além da presença do Presidente de PI Giacomo Santini. Pela primeira vez, o CCP contava com duas mulheres, uma do Canadá e outra da Inglaterra, com vasta experiência no campo da ética esportiva para crianças e adolescentes que, por não serem panathletas, foram consideradas como “consultoras” junto ao grupo. Os membros da CCP atualmente são: Victor De Donder (Bélgica) – Presidente – Piermarco Zen-Ruffinen (Suíça), Eugênio Guglielmino (Itália), Yves Vanden Auweele (Bélgica) Elaine Cook (Canadá), Anne Tiivas (Inglaterra) e eu, além de termos em Antonio Spallino, reconhecidamente, o Presidente Honorário da CCP.
Já nessa reunião pudemos constatar que o novo Presidente de PI é uma pessoa muito identificada com a mídia, o que daria uma renovada imagem pública ao movimento como um todo, através do uso intensivo dos meios de comunicação. O novo site do PI é um exemplo, assim como a formatação desse evento em Rapallo. Quanto ao conteúdo, focamos mais na preparação do Congresso Internacional do PI deste ano e já naquela ocasião o tema foi proposto e aceito foi “A Chama Olímpica continua queimando?”, numa clara alusão ao esmaecimento dos valores olímpicos num mega-evento permeado pelos interesses políticos e econômicos. Também discutimos as bases para a celebração dos dez anos da Declaração da Ética para o Esporte Juvenil do PI, que será realizada nos dias 04 e 05 de Outubro em Leuvain/Bélgica. Nessa ocasião também foi apresentada a proposta de livro em andamento pelo Prof. Yves da CCP com o título preliminar “O futuro desejado do esporte”, cujo tema, em princípio, poderá ser a proposto para o próximo Congresso Internacional do PI em 2016. Além disso, constaram da pauta temas como a emergência do esporte entre o segmento LHBT (Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender) no futebol o debate do Esporte Centrado no Atleta e suas implicações para o PI e para o Comitê Olímpico Internacional e estratégias para implementação da “Declaração”.
Durante o XIX Congresso Internacional do PI foram realizadas palestras por reconhecidos conhecedores do esporte enquanto manifestção cultural e educativa, tais como Norbert Muller, Presidente do Comitê Internacional Pierre de Coubertin, Bruno Grandi, Presidente da Confederação Internacional de Ginástica, Joseph Maguire, Professor de Sociologia da Universidade de Loughborough/Reino Unido, Franco Ascani, Presidente da Federação Internacional de Cinema e Televisão esportiva, Elaine Cook, Doutorando em Administração de Esportes pela Universidade de Brock/Canadá e consultora-membro do CCP/PI e Susan Bissel, Diretora da UNICEF, responsável pelo setor da Proteção Global das Crianças.
No Prêmio Anual de Comunicação do PI, recebeu o destaque merecido a Revista PANATHLON – Distrito Brasil, editada em português (papel) e em inglês, espanhol e italiano (forma eletrônica). Esteve lá para receber essa premiação Prof. William Saad Abdulnur, Presidente do Distrito Brasil, maior responsável por essa bela iniciativa. É importante destacar que para todos aqueles que tiveram acesso à referida revista, a mesma era recebida com grande entusiasmo.
Como conclusões preliminares vale destacar alguns tópicos:
1. O evento como um todo contribuiu e muito para potencializar a Imagem pública do PI;
2. O verdadeiro companheirismo é ainda a “marca registrada” de todo movimento panathlético;
3. As palestras foram de alto nível, com informações essenciais sobre o estado do esporte na atual conjuntura, com repercussões para a atuação do PI em geral e nos Panathlon Clubes em particular;
4. É perceptível, na atualidade, um descompasso no campo do esporte entre o discurso do PI pautado pela ética e a sua práxis, especialmente quando representada pelo COI e pelos CON, pautado pela sua exacerbada comercialização. A “espetacularização” do esporte está tomando o lugar dos componentes educativos e culturais de suas práticas;
5. Há uma distância quase ”olímpica” entre o que é discutido num evento como esse e o que a maioria dos Panathlon Clubes realiza, não só no Brasil como em todo mundo;
6. Observa-se que para muitos ainda não está claro o verdadeiro “DNA” do PI, ou seja, qual é a “razão de sua existência” (MISSÃO, em termos de Planejamento Estratégico);
7. Se no ambiente da obrigação – notadamente o TRABALHO – o valor do significado daquilo que se faz é essencial para o sucesso do empreendimento, no campo das “não obrigações” – caso típico do VOLUNTARIADO – ele é vital! Se não houver SIGNIFICADO para as ações dentro do Panathlon, dificilmente haverá ADESÃO de novos membros, que dirá ADERÊNCIA;
8. Observa-se um processo de esgarçamento do tecido social na atualidade, resultando em uma crescente falta de comprometimento para as questões coletivas em relação aos interesses individuais. Com isso, a vida dos clubes de serviços, de qualquer natureza, vem enfrentando desafios não somente de crescimento, mas de sua própria sobrevivência;
9. O relatório da 46ª Assembléia Geral aprovado em Rapallo aponta para uma redução crescente no número de clubes, panathletas e arrecadação, caso típico do que está ocorrendo com o movimento brasileiro, apesar do esforço extraordinário de tantos companheiros;
10. Há uma crescente urgência de “rejuvenescimento” nas organizações que prestam serviços à comunidade para que elas sobrevivam. Embora a idéia do Panathlon Clube Junior seja uma realidade, ao completar quase 10 anos de existência, esse tema não parece ser prioritário dentro da organização;
11. É rara a presença das mulheres panathletas em eventos dessa natureza. Enquanto não houver uma política de atração e retenção do segmento feminino dentro do Panathlon, estaremos perdendo “50%” de nossa capacidade de crescimento.
Para finalizar, participar de um evento dessa magnitude oferece a real oportunidade para avaliar o potencial do Panathlon Internacional como um movimento global dedicado a desenvolver o esporte com finalidades educativas e culturais. Por outro lado, devido aos inúmeros entendimentos da razão de sua existência, sinaliza para a necessidade da realização de um Planejamento Estratégico para determinar seu futuro. É fundamental criar um cenário de curto, médio e longo prazo, tanto interno (pontos forte e pontos frágeis) como externo (oportunidades e ameaças) para que possamos definir mais claramente a nossa MISSÃO, VISÃO e VALORES. Isso feito, poderemos então nos aproximar, com mais propriedade, das ações necessárias que farão jus à nossa existência.

Antonio Carlos Bramante

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