Filmes Infantis na Escola Inclusiva: Shrek, o Mundo Moderno e o Mundo Atual
Por Leonardo Docena Pina (Autor).
Em X EnFEFE - Encontro Fluminense de Educação Física Escolar
Integra
Primeiras palavras
No segundo semestre de 2005, quando ainda era acadêmico do curso de Educação Física da Universidade Federal de Juiz de Fora, tive a oportunidade de cursar a disciplina MTE-106 - A diversidade na mídia cinematográfica -, oferecida pela Faculdade de Educação da mesma universidade e orientada pelo professor Carlos Alberto Marques. Nessa ocasião, foi possível compreender que os filmes infantis constituem um importante objeto de reflexão, já que expressam marcas do pensamento hegemônico do período no qual foram criados.
Como os filmes infantis são comumente utilizados como recurso pedagógico por educadores e educadoras, torna-se indispensável a reflexão e compreensão dos efeitos de sentidos produzidos por seu discurso, sobretudo para que a utilização de tais recursos caminhe no sentido da superação do preconceito e da discriminação.
O presente trabalho utiliza como metodologia a análise de discurso(AD) em sua perspectiva francesa e traz reflexões sobre os sentidos produzidos por "Shrek", um dos filmes trabalhados na disciplina citada anteriormente e que constitui o corpus discursivo deste trabalho. Utilizou-se a versão brasileira, dublada, do filme "Shrek".
Vale mencionar que o presente texto não finaliza a reflexão sobre o filme analisado, apenas traz à tona a certeza de que vivemos um momento de transição, e que reflexos dessa transição podem ser identificados na mídia cinematográfica.
Os paradigmas moderno e atual
Estudos realizados pelo núcleo de Educação Especial da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora nos permitem afirmar que houve, ao longo da história da civilização ocidental, três momentos em que as transformações ocorridas na sociedade se intensificaram a ponto de caracterizar o que se denomina de ruptura paradigmática. O primeiro momento consiste na passagem de Cristo pela Terra, marco histórico que acarretou inclusive a divisão do calendário cristão em antes e depois do nascimento de Cristo; o segundo, consiste no advento do Renascimento, que instaurou o antropocentrismo como vetor cognitivo e permitiu a consolidação da burguesia como classe dominante; e, finalmente, a Atualidade, marcada pela transição do paradigma Moderno ao Atual.
Este trabalho utiliza como referencial teórico-metodológico o processo de ruptura de paradigma apresentado na Atualidade, momento histórico que alguns autores chamam de pós-Modernidade.
Marques e Marques (2003) explicam que para compreendermos melhor os acontecimentos Atuais, que vêm inclusive redefinindo os rumos da própria humanidade, torna-se necessário descortinar o processo de transição do pensamento Moderno ao pensamento Atual. Cabe, então, compreendermos e caracterizarmos alguns pontos que diferenciam os dois períodos envolvidos nessa transição.
Na Modernidade, o conhecimento científico passou a ser compreendido como a verdade absoluta. O monopólio da explicação das questões do mundo transferiu-se da Igreja para a ciência, que se apoiou em dualismos e buscou reconhecimento social por meio da explicação das causas dos acontecimentos. Pautada no paradigma da ciência Moderna e guiada pelo lema do positivismo, ordem e progresso, a Modernidade adotou inúmeros dispositivos de controle para impor a disciplina e homogeneizar a sociedade. Nesse processo, suas concepções de tempo e espaço assumiram importante papel.
Marques (2001, p.35) explica que o tempo foi "concebido de forma linear, onde os eventos constituem uma sucessão de acontecimentos cronologicamente ordenados". A íntima relação estabelecida entre passado, presente e futuro, criou uma dimensão temporal evolutiva que qualifica e controla os indivíduos, de modo que as possibilidades de cada um passaram a ser determinadas pela forma como as etapas foram por eles percorridas (VAZ APUD MARQUES, 2001). Associada a essa concepção de tempo, encontra-se a de espaço, que se caracterizou, segundo Marques (2001, p.34), pelo estabelecimento de limites rígidos e, quase sempre, definidos fisicamente, com tendência para a centralização, isto é, "para a convergência do olhar e ação humanos para pontos específicos do espaço vivido".
Outra importante marca do pensamento Moderno é a compreensão da diferença como um desvio do padrão de normalidade. Marcados por estereótipos, quase sempre relacionados à incapacidade, improdutividade e/ou doença, os grupos desviantes foram vítimas de discriminações e preconceitos, sendo, na maioria das vezes, isolados em instituições especializadas, como nas escolas especiais, por exemplo.
A Atualidade colocou em crise as concepções Modernas. Vive-se um momento marcado por intensas e rápidas mudanças. Marques (2001, p.28) alerta para o fato de que "experimentamos a transição de um modo de se ver o homem, o mundo e a vida para um novo modo de ser". Tal fato não pode ser desvinculado das transformações ocorridas nas concepções de ciência, espaço e tempo.
Na Atualidade, o conhecimento científico deslocou o foco de suas preocupações, das causas para as conseqüências dos acontecimentos. Conforme explica Santos (1989), a ciência passou a ser socialmente reconhecida pelo desenvolvimento tecnológico por ela possibilitado. É deste desenvolvimento, sobretudo dos avanços da informática, que emerge a concepção Atual de espaço, que é, segundo Marques (2001), o espaço expandido, interativo, que permite aos usuários, estabelecer os pontos de parada conforme seus próprios interesses.
A concepção de tempo também foi modificada na Atualidade: o modelo linear de tempo deu lugar ao da simultaneidade de eventos. Daí a metáfora do leque, apontada por Marques (2001): o tempo nos dias de hoje é como um leque constituído por várias varetas. Por um lado, cada vareta representa a ocorrência de um acontecimento; por outro lado, em conjunto, elas representam a simultaneidade de todos os eventos.
As mais importantes marcas da Atualidade, no entanto, são as rupturas de paradigmas do universal ao múltiplo, da exclusão à inclusão, assim como a transição do modo de se compreender a diferença: do modelo Moderno, pautado no padrão, que compreende a diferença como um desvio do padrão de normalidade, ao modelo Atual, vinculado ao princípio da diversidade, que compreende que todos os indivíduos são diferentes e que ser diferente não significa ser normal ou anormal, capaz ou incapaz, melhor ou pior etc, significa apenas ser diferente.
Em decorrência dos questionamentos atuais que visam superar as concepções Modernas, os filmes infantis contemporâneos têm absorvido o referencial atual - do múltiplo, da diversidade. Não se pode negar a influência das transformações que vêm ocorrendo na literatura infantil, já que grande parte desses filmes é oriunda das histórias narradas em livros. Machado (2005), ao analisar obras da literatura infantil clássica e atual, percebeu que houve um deslocamento de sentidos sobre diversidade: da exclusão à inclusão.
Independentemente do referencial adotado pelo filme - ou livro - utilizado pelos educadores e educadoras no processo educacional, impera a necessidade de refletir criticamente com os educandos, a fim de auxiliar a dissolução das "velhas idéias", incompatíveis com o paradigma da inclusão.
Shrek na transição do mundo moderno ao atual
Shrek é um ogro que vive sozinho em sua casa na floresta. Certo dia, ele se depara com um grande número de criaturas do conto de fadas habitando seu pântano. Inconformado com a situação, ele se reúne com os novos habitantes para compreender o porquê de sua migração para aquele local. Ao descobrir que Farquaad é o responsável pelo isolamento das criaturas, Shrek, para restaurar a tranqüilidade de seu pântano, parte ao encontro desse indivíduo, o qual promete remover os "invasores" caso o ogro resgate uma certa princesa, vítima de um feitiço e que vive isolada na torre de um castelo; trata-se da princesa Fiona, com a qual Farquaad pretende se casar. Shrek resgata a princesa e a entrega a Farquaad. Porém, durante o casamento de Fiona com Farquaad, o ogro surge, para dizer que ama a princesa. Nesse momento, o sol se põe e o feitiço de que Fiona é vítima vem à tona; assim, todos descobrem seu segredo: de dia uma forma e à noite outra. Fiona então, como sempre ocorre ao pôr-do-sol, se transforma: de humana para ogra. Com isso, Farquaad desiste de se casar com Fiona e, na confusão formada, ele acaba sendo engolido por um dragão. Shrek e Fiona se beijam; a princesa se liberta do feitiço, mas não se torna humana como esperava; ela mantém-se ogra - sua verdadeira forma - e se casa com Shrek. A história termina com uma festa no pântano, na qual participam as criaturas do conto de fadas, isoladas por Farquaad.
Assim, em síntese, a história do filme "Shrek" pode até parecer um típico conto Moderno, transmissor de seus ideais homogeneizadores, excludentes etc. Porém, o filme traz consigo importantes marcas de um novo referencial: o pensamento Atual, como mostra a análise a seguir.
Na Modernidade, o processo de criação da figura do anormal (MARQUES, 2001) acarretou a classificação dos indivíduos em normais e anormais de acordo com a norma estabelecida, sendo os "desviantes", quase sempre, rotulados como incapazes, improdutivos, doentes etc. Assim, à luz do pensamento Moderno, Shrek, por ser um ogro, seria considerado um desviante da norma, recebendo, conseqüentemente, a "marca da anormalidade". Porém, não é isso que ocorre no filme, já que Shrek é considerado diferente, como todos os outros personagens.
Vale mencionar que Farquaad mantém-se enraizado ao pensamento Moderno. A idéia da padronização, do quadriculamento do espaço, assim como a tendência Moderna de considerar inferior tudo que é diferente (SANTOS, 1995), pode ser percebida no discurso de Farquaad. Para ele, Shrek é um desviante do padrão de normalidade, um ser inferior, que não tem sentimentos. Além do mais, quando descobre que Fiona é ogra, Farquaad demonstra interesse em isolá-la, idéia típica da Modernidade.
Marques (2001) explica que a Modernidade foi concebida a partir de uma concepção funcionalista de sociedade, ou seja, como um corpo estruturado em órgãos, e onde cada órgão tem uma função social muito precisa. De acordo com essa concepção, o funcionamento inadequado em algum desses órgãos poderia comprometer o funcionamento dos órgãos em conjunto. Por isso, na Modernidade, os ditos desviantes foram isolados nas instituições especializadas; como eram considerados anormais, improdutivos e/ou doentes, temia-se que sua "desordem" afetasse os demais e /ou prejudicasse a saúde corpo social. Atrelada a essa idéia, encontra-se a concepção positivista de ciência, que pautada na concepção linear de tempo, defendia a perfeição hoje, para obter o progresso amanhã. Farquaad pauta-se nesses pensamentos Modernos, buscando intensamente ordem e perfeição. Por isso ele isola as criaturas do conto de fadas no pântano, longe de seu reino, para não perturbarem a ordem com sua "desordem". Seu próprio discurso corrobora essa idéia: "existe um reino mais perfeito do que o meu?", questiona Farquaad. "Quer ser a noiva perfeita para um noivo perfeito?", pergunta o personagem à princesa Fiona. Outro discurso que corrobora a afirmação defendida anteriormente ocorre quando uma criatura do conto de fadas diz a Farquaad: "você é mostro". E Farquaad responde: "eu não sou monstro aqui, você sim, você e o resto daquele lixo do conto de fadas, que sujam meu mundo perfeito".
Apesar de Farquaad manter-se enraizado ao pensamento Moderno, não é esse o pensamento que prevalece no filme. Além de esse personagem aparecer como o malvado - e talvez por isso tenha sido punido ao ser engolido pelo dragão - o filme, em algumas cenas, contraria explicitamente muitas das coisas que são ditas por Farquaad, uma delas, por exemplo, é a de que ogro(a) não tem sentimentos.
É possível perceber um deslocamento de sentidos no que diz respeito ao modo de se compreender a diferença: do modelo Moderno, pautado no princípio do padrão, ao modelo Atual, vinculado ao princípio da diversidade. Tal deslocamento pode ser exemplificado pela fala do burro - amigo de Shrek-, que sem vontade de voltar ao local onde vivia, tenta convencer o ogro a deixá-lo ficar com ele. O burro diz: "por favor, eu não quero voltar para lá, é muito chato ser considerado anormal". Esse discurso tem como base o dado de que todos são diferentes e que não há padrão de normalidade. O burro falante percebeu que, onde vivia, o consideravam anormal, mas agora, onde vive, livre, o consideram normal, como todos. Além de expressar a idéia de que é melhor ser considerado normal do que anormal, o discurso do burro ainda significa algo muito importante: a não introjeção de valores. É justamente por não ter hospedado dentro de si o discurso produzido a seu respeito, que o burro pôde considerar-se normal, ainda que muitos dissessem o contrário.
Somente a partir do momento em que o oprimido toma consciência de sua situação de oprimido, somente quando não é hospedeiro do opressor, ele de fato pode lutar por sua libertação (FREIRE, 2004). Mas quando o dominado hospeda dentro si os preconceitos a que lhe foram atribuídos, aceitando os valores impostos pelos dominadores, tem-se um eficiente instrumento de dominação, que dispensa a força física e aprisiona pela mente, sendo, por isso, muito mais eficaz. Essa idéia é transmitida por Servan citado por Marques (2001 p.74):
"Quando tiverdes conseguido formar assim a cadeia das idéias na cabeça de vossos cidadãos, poderei então vos gabar de conduzi-los e de ser seus senhores. Um déspota imbecil pode coagir escravos com correntes de ferro; mas um verdadeiro político os amarra bem mais fortemente com a corrente de suas próprias idéias; é no plano fixo da razão que ele ata a primeira ponta; laço tanto mais forte quando ignoramos sua tecitura e pensamos que é obra nossa; o desespero e o tempo roem os laços de ferro e de aço, mas são impotentes contra a união habitual das idéias, apenas conseguem estreita-las ainda mais; e sobre as fibras moles do cérebro, funda-se a base inabalável dos mais sólidos ‘impérios’".
O filme preocupa-se em superar estereótipos e estigmas, como demonstra a cena em que Shrek se queixa do fato de que as pessoas o julgam antes mesmo de conhecê-lo. Nesta ocasião, além de explicitar que não há problema algum com ele, Shrek afirma que o problema parece ser o mundo, que o trata injustamente. Diz ele:
"Olha, não sou eu que tenho problemas, ok? É o mundo que parece ter um problema comigo. As pessoas olham para mim e: Ah! Socorro! Um ogro enorme e horrível! Elas me julgam antes de me conhecerem".
Oliveira (2006, p. 40) explica que "os estigmas definem não pelas características totais da pessoa, definem-se, sim, pela leitura social que se faz delas". No caso das pessoas a que se refere Shrek, elas lêem o "ser ogro", como um estigma. Ao ver Shrek, a imagem visual capitada por elas relaciona-se à imagem imaginária, já legitimada em suas mentes como preconceito e estereótipo. Então, julgam Shrek antes mesmo de conhecê-lo, como se todos os ogros e ogras possuíssem as mesmas características pessoais.
Outra ruptura trazida pelo filme diz respeito à aceitação da diferença, atitude que juntamente com o respeito e valorização das diferenças, constitui fundamental importância para avançarmos rumo à escola inclusiva. No filme, é superada a idéia de que para ser feliz é preciso ajustar-se à norma, deixando de ser diferente pela correção dos "desvios" ou pela união a seus iguais. Em "O Patinho Feio", por exemplo, conforme explica Machado (2005, p. 76), o final feliz se dá quando, ao crescer, o "patinho" que era discriminado - por ser feio e diferente dos outros patos - torna-se um belo cisne, juntando-se aos iguais a ele, "passando-nos a idéia de que só é possível ser feliz com o nosso igual". Em "Shrek", o burro, falante, alcança a felicidade quando se torna livre para viver junto aos que não o tratam como desviante. Ele não precisou se juntar a outros burros falantes, nem deixar de falar para torna-se igual aos outros burros; ou seja, suas características foram mantidas.
Pode haver, porém, o seguinte questionamento: por que Fiona não se transformou em humana após libertar-se do feitiço? Por que teve que ser ogra, como Shrek, para ficar com ele? Não é produzido aí o sentido de que a felicidade só pode ocorrer entre iguais?
É preciso mencionar que para a AD - metodologia adotada neste trabalho - "não existe um sentido nuclear no [discurso], sendo todos os sentidos possíveis" (MARQUES, 2001, p.24). Segundo Orlandi (2002, p.26), a AD "não procura um sentido verdadeiro (...). Não há verdade oculta atrás do texto". Então, o sentido de que Fiona "precisou" tornar-se ogra para ficar com Shrek, unindo-se a seu igual, pode estar sim presente. No entanto, o burro falante "namora" um dragão, rompendo claramente com a idéia da felicidade entre iguais; talvez por eles serem personagens coadjuvantes, isso não tenha causado tanto impacto.
O fato da princesa Fiona não ter se tornado humana significa uma importante -senão a maior - ruptura apresentada pelo filme. É rompida a norma de que, para ser princesa, é preciso enquadrar-se aos padrões impostos pelo sistema. Fiona é ogra e é princesa. Além disso, Shrek e Fiona se casam, superando a idéia de que ogro e princesa não podem unir-se. Há mais: na primeira cena do filme, Shrek, ao ler um livro, diz: "era uma vez uma linda princesa, mas havia um terrível feitiço sobre ela, que só poderia ser quebrado pelo primeiro beijo do amor". Em outra cena, Fiona revela o feitiço de que é vitima ao burro, dizendo: "à noite é de um jeito, de dia é de outro, esta será a norma, até achar o primeiro beijo do amor verdadeiro e assumir a verdadeira forma". Quando Fiona se liberta desse feitiço, mantendo a forma de ogra, tem-se dois sentidos: o manifesto e o latente. O sentido manifesto é que, antes do feitiço, Fiona era ogra e não humana. Já o sentido latente, é que o castigo de Fiona consistia em ser humana durante o dia. Por ter introjetado o preconceito, a princesa acreditava que a punição era ter que assumir a forma de ogra, durante a noite.
Quando pensamos no feitiço a que Fiona foi submetida, vem à tona o que Orlandi (2002) denomina de interdiscurso; nossa memória aciona as condições de produção de sentidos e, a partir do já-dito, damos o significado. Para muitas pessoas, ser ogro significa ser anormal, inferior, pior do que ser humano etc; por isso esperavam que Fiona se transformasse em humana ao libertar-se do feitiço, como se a única punição possível para ela fosse assumir a forma de ogra. Se a princesa se tornasse humana após a transformação, assumindo o padrão estético imposto pela sociedade, talvez esse preconceito não seria superado.
Considerações finais
Apesar da crescente luta para consolidar o paradigma inclusão em nossas escolas, é possível perceber que atitudes discriminatórias e preconceituosas ainda se mantêm presentes no âmbito educacional, constituindo mais uma dificuldade para concretizar a escola inclusiva.
Juntamente com os demais educadores e educadoras, professores e professoras de educação física devem trilhar os caminhos da inclusão escolar, comprometendo-se com a formação de educandos críticos e conscientes da realidade na qual estão inseridos. É refletindo sobre os problemas da sociedade, compreendendo a razão de ser dos fatos, que os educandos se tornam aptos a intervir no mundo e a rejeitar quaisquer forma de discriminação e segregação social.
Os filmes infantis podem assumir importante papel como recurso pedagógico, desde que auxiliem a conscientização (FREIRE, 2004) dos educandos. Para tal, é preciso utilizá-los numa perspectiva crítica, que requer mais do que a simples "visualização" do filme; requer além do assistir, o refletir, levando os educandos a constatar, interpretar e compreender as questões relacionadas à realidade opressora.
Descortinar a opressão para que os educandos de fato compreendam o mundo; refletir com eles para que percebam que sua vocação ontológica é ser sujeito da História; fazê-los compreender que o mundo não é, está sendo (FREIRE, 2002) e que, por isso, a realidade pode ser mudada. Esses são apenas alguns desafios que instigam educadores e educadoras comprometidos com a mudança. Optar pela superação desses desafios pode ser um passo decisivo na caminhada rumo a construção de uma sociedade justa, onde oprimidos e opressores, livres da relação que os aprisiona, possam, de fato, usufruir a vida, em liberdade.
Obs. O autor, Leonardo Docena Pina (leodocena@yahoo.com.br) é integrante do NESP/FACED/UFJF
Referências bibliográficas
- Freire, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 21. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
- ¬¬¬__________ Pedagogia do Oprimido. 39. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004.
- Machado, Carla Silva. Nem belo nem feio, apenas diferente: literatura infantil e diversidade. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2005.
- Marques, Carlos Alberto. A Imagem da alteridade na mídia. Tese (Doutorado em Comunicação e Cultura). Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2001.
- Marques, Calos Alberto; Marques, Luciana Pacheco. Do universal ao múltiplo: os caminhos da inclusão. In LISITA, Verbena Moreira S.S.; SOUSA, Luciana Freire E. C P. (org). Políticas educacionais, práticas escolares e alternativas de inclusão escolar. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. p. 223-239.
- Oliveira, Fernanda Dias de. Abram seus livros... O discurso sobre diferença nos livros didáticos. Dissertação (Mestrado em educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2006.
- Orland, Eni Puccinelli. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 4. ed. Campinas: Pontes, 2002.
- Santos, Boaventura de Sousa. Introdução à uma ciência pós Moderna. Rio de Janeiro: Graal, 1989.
- ¬¬¬__________.Entrevista. Coimbra, 27 de dezembro de 1995. Disponível em: <http//www.dhi.uem.br/docente/Jurandir/Jurandir-boaven1.htm> Acesso em 20 de agosto de 2004.