Resumo

O futebol é tido como o maior fenômeno social brasileiro, representando uma identidade nacional e proporcionando à população a sensação do país enquanto uma potência reconhecida em todo o mundo. Desta forma, ele acaba se tornando mais que um simples esporte, ou seja, uma construção sócio-histórica que não está dissociada dos desdobramentos da vida política, econômica e cultural do país, sendo muitas vezes expressão de aspectos importantes destes âmbitos da vida. A tradição futebolística está ainda nos dias de hoje, associada às masculinidades, principalmente por envolver competições, desafios e manutenção de honra. A inserção da mulher neste meio homossocial masculino é algo ainda pouco conhecida, principalmente no que tange a assistência do futebol. Historicamente atribuída às mulheres, a torcida foi se tornando um espaço cada vez mais masculino com a popularização deste “esporte” e o surgimento de uma paixão direcionada a clubes e jogadores específicos. Isto se dá principalmente no contexto das torcidas organizadas, constantemente associadas à violência no meio futebolístico, não sendo, desta forma, um espaço adequado às mulheres. Contudo, ainda que haja esta representação dos lugares de gênero, vemos muitas mulheres lutando para ocupar seu espaço no futebol, tendo seu torcer reconhecido dentro e fora destas organizações. Porém, estas mulheres são desconhecidas, até mesmo no contexto belo-horizontino, em que há um histórico de participação feminina neste universo. Assim, os objetivos deste trabalho foram analisar a inserção da mulher em torcidas organizadas de futebol tentando apreender as formas de integração às torcidas "permitidas" e proibidas para as mulheres, e os significados destas permissões e proibições. Para tanto, entrevistamos cinco (5) mulheres filiadas a uma torcida organizada de futebol de um dos principais clubes da capital mineira, buscando observar a dinâmica destas torcidas em suas sedes e nos estádios. Os resultados apontam para uma diferença nas relações que se estabelecem entre homens e mulheres, principalmente no que tange os cargos e lugares ocupados por estes nas entidades. Há também uma questão da apropriação da ideia de que o torcedor ideal sempre está vinculado ao masculino, o que legitima uma lógica machista dentro e fora destas instituições, permeando as vivências destas mulheres que tiveram uma socialização diferenciada que permitiu a participação delas neste meio. Por fim, vemos a inclusão perversa das mulheres nesta instituição, bem como sua invisibilização neste contexto – a fim de uma manutenção do espaço legítimo de masculinidade –, sendo explicitadas nas relações estabelecidas dentro da torcida. Porém, vale ressaltar que estas violências que aparecem no futebol podem ser observadas num contexto mais amplo do cenário sociocultural do nosso país. 

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