Resumo

A carreira de um atleta compreende o processo longitudinal que ocorre desde a iniciação até a aposentadoria de um atleta (GALATTI, et al, 2017; MENDES, 2017; BARREIROS; CÔTÉ; FONSECA, 2013). A maneira como esse processo acontece pode influenciar a relação do indivíduo adulto com o fenômeno esportivo. Portanto, é importante que na formação esportiva, essa relação se dê de forma saudável em todos os contextos, inclusive nas competições. Compreendemos que a competição para crianças deve ser ajustada às necessidades e anseios dos praticantes, recebendo um tratamento pedagógico, que construa um significado que supere a ênfase na comparação e no resultado, se ocupando do desenvolvimento pessoal para além da formação do atleta (BALBINO, et al, 2013). Focamos este estudo na ginástica rítmica (GR). Em busca de uma formação competitiva que contribua para a continuidade da participação esportiva e para o desenvolvimento integral da atleta, o presente estudo teve como objetivo analisar os eventos de ginástica rítmica promovidos por federações estaduais de ginástica, com foco nos anos iniciais da prática, a fim de compreender seu papel no processo de formação de ginastas em longo prazo. Para tanto, o estudo foi realizado por meio de uma pesquisa qualitativa, do tipo documental e de campo. Como critérios para obtenção da amostra, analisamos os resultados dos campeonatos brasileiros da categoria pré-infantil de individual (por equipe) e de conjuntos, entre 2013 e 2018, e incluímos as equipes que foram medalhistas em pelo menos dois anos. Essa análise indicou cinco clubes de três federações estaduais, das quais foram entrevistadas: 11 treinadoras que trabalham diretamente com a categoria mirim e/ou coordenam a equipe; três gestoras, uma de cada federação estadual. A coleta dos dados foi realizada em três momentos: a. análise dos regulamentos de eventos de GR para a categoria mirim das federações estaduais, por meio de ficha de avaliação elaborada com base no Modelo da Participação Competitiva (LEONARDO; GALATTI; SCAGLIA, 2017); b. Entrevistas com gestoras e treinadoras c. observações de seis eventos da categoria mirim, registradas em Diário de Campo. A análise das entrevistas foi realizada por meio da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2011), com foco na análise qualitativa. Realizamos posteriormente um processo de triangulação entre as diferentes fontes, para conferir maior confiabilidade ao estudo (FLICK, 2004). Os resultados apontaram para a existência de um movimento institucional das federações na direção de ofertar para a categoria mirim, competições pedagogicamente elaboradas, ajustadas de forma coerente à fase de desenvolvimento das ginastas em questão, contudo, destacamos que é necessária maior fundamentação em propostas teóricas que visam elaboração e realização de eventos esportivos para crianças, bem como em modelos de competição orientados à formação de atletas em longo prazo. Verificamos que tanto as federações, quanto as treinadoras entrevistadas buscam ampliar as oportunidades de participação das crianças, visando à massificação da modalidade e a preparação para as competições das categorias oficiais, e manter a motivação das crianças pela prática. Entretanto, identificamos uma tendência da maioria das treinadoras a enfatizar já nessa idade aspectos voltados para o alto rendimento, tanto no treinamento quanto nas competições, o que reflete a necessidade de mudança da cultura da ginástica em toda sua complexidade, para que o esporte para crianças possa assumir características coerentes com esse público e desenvolver seu potencial educativo e formativo, inclusive no contexto competitivo

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