Resumo

RESUMO – Ao estudar a introdução da Educação Física/Ginástica no Maranhão, encontra-se o portugues Fran Paxeco como um dos incentivadores. Miguel Hoherann, o primeiro Diretor da Divisão de Educação Física do Estado expediu um diploma ‘aos propugnadores da educação física’, estando o consul portugues entre os agraciados. Anos depois, quando da realização do I Congresso Pedagógico do Maranhão, 1922, Fran Paxeco inclui a Educação Física como uma área a ser estudada, buscando sua regulamentação nas escolas públicas.

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FRAN PAXECO – UM DOS PROPUGNADORES DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

IF-MA / IHGM / ALL

vazleopoldo@hotmail.com

RESUMO – Ao estudar a introdução da Educação Física/Ginástica no Maranhão, encontra-se o portugues Fran Paxeco como um dos incentivadores. Miguel Hoherann, o primeiro Diretor da Divisão de Educação Física do Estado expediu um diploma ‘aos propugnadores da educação física’, estando o consul portugues entre os agraciados. Anos depois, quando da realização do I Congresso Pedagógico do Maranhão, 1922, Fran Paxeco inclui a Educação Física como uma área a ser estudada, buscando sua regulamentação nas escolas públicas.

EDUCAÇÃO FÍSICA. MARANHÃO. FRAN PAXECO

Manuel Fran Paxeco (nascido Manuel Francisco Pacheco), mais conhecido como Fran Paxeco (Setúbal, 9 de Março de 1874Lisboa, 17 de Setembro de 1952) foi um jornalista, escritor, diplomata e professor português; cônsul de Portugal no Maranhão, no Pará, em Cardiff e em Liverpool. Chegou a São Luís do Maranhão em 2 de Maio de 1900, sendo autor de diversas obras sobre temas de interesse para a região.

Primeiro ocupante da Cadeira 14 do IHGM, patroneada por Antonio Bernardino Pereira do Lago, o seu amor pelo Maranhão levou-o a recusar transferências para postos da carreira diplomática muito mais prestigiosos que o consulado de São Luís do Maranhão. Fica mais de 20 anos no Brasil, período durante o qual empenhou muitos esforços para desenvolver as relações literárias entre os dois países.

Em Setembro de 1902 é convidado para sub-secretário da Associação Comercial do Maranhão. Organizou, por exemplo, um congresso literário luso-brasileiro em 1903.

A 21 de Agosto de 1911 é nomeado cônsul de Portugal no Maranhão por Teófilo Braga (Chefe do Governo Provisório da República Portuguesa). De Novembro de 1913 a Fevereiro de 1914 está no Rio chamado pelo primeiro Embaixador de Portugal no Brasil, Bernardino Machado para o secretariar; em 1916 publica "Angola e os Alemães" e segue para Lisboa onde chega a 27 de Maio para ocupar entre outros cargos o de secretário particular do Presidente da República, Bernardino Machado, mas continuando como cônsul de Portugal no Maranhão (tinha sido promovido a cônsul de 2ª classe em 4 de Julho de 1914). Exerce as funções de secretário da Comissão Portuguesa de Acção Económica contra o inimigo e da Comissão de Fomento da Exportação Portuguesa. Em 1919 vai ao Pará resolver a “Questão dos Poveiros” o que conseguiu com êxito.

A 18 de Agosto de 1919, em reunião de professores da Faculdade de Direito do Maranhão, propõe a realização do Primeiro Congresso Pedagógico do Maranhão, o que veio a realizar-se no ano seguinte. Em 8, 28 e 31 de Janeiro de 1920, houve sessões preparatórias. A sessão inaugural teve lugar a 22 de Fevereiro.

Em São Luis, no mês de agosto de 1922 recebe Sacadura Cabral, festejando a travessia aérea do Atlântico Sul; em 1923 o encontramos em Belém do Pará como cônsul, lugar que deixa em Junho de 1925, quando volta para Lisboa; em 1927 vai para Cardiff, desempenhar idênticas funções diplomáticas. Escreve "Portugal não é Ibérico". Faz parte da "South Wales Branch" da Ibero American Society, contribuindo para que o nome fosse mudado para "Hispanic and Portuguese Society". Com o cônsul do Brasil consegue abrir e manter no Technical College uma cadeira de língua portuguesa;

No ano de 1933 está de volta a Lisboa ocupando a Direcção Geral dos Serviços Centrais do Ministério dos Estrangeiros. A 24 de Novembro já está em Liverpool a cumprir mais uma missão diplomática onde se mantém até 1935, quando regressa a Portugal, de onde nunca mais saíu.

É perseguido pelo Estado Novo, e o Ministério dos Negócios Estrangeiros nunca mais lhe atribuíu nenhuma missão diplomática (graças ao Secretário-Geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Teixeira de Sampayo, monárquico convicto), o que muito o fez sofrer.

1939,  um AVC com graves sequelas: fica sem fala, sem poder escrever e paralítico, as suas grandes formas de comunicação como grande orador e escritor que era.

A Biblioteca do Grémio Literário Português em Belém do Pará e a Praça do Comércio em São Luís do Maranhão têm o seu nome. O seu nome encontra-se presente nas toponímias de Setúbal, de São Luís do Maranhão e de São Paulo.

Foi fundador da Academia Maranhense de Letras, da Faculdade de Direito, da Universidade Popular, do Centro Republicano Português, do Instituto de Assistência à Infância, do Casino Maranhense, da Associação Cívica Maranhense, da Câmara Portuguesa do Comércio, da Oficina dos Novos, da Legião dos Atenienses, participou do revigoramento e reorganização da Associação Comercial do Maranhão, entre outros organismos, todas as iniciativas relevantes.

Profere palestras literárias, cortejos e homenagens cívico-culturais, luta por modernos meios de transporte, pelo incentivo à agropecuária, pela criação de um parque industrial, pela melhoria dos serviços de saúde, pela urbanização da cidade. E tudo isso de par com atividades no magistério público e particular, com diuturna atuação na imprensa, com viagens e trabalhos na Amazônia, com a publicação de livros, com idas ao Rio de Janeiro e a Portugal.

Na imprensa maranhense deixou uma colaboração tão diversificada e ao mesmo tempo copiosa, que ainda hoje aguarda e reclama a seleção temática da qual resultarão seguidos volumes de interesse para o estudo da vida maranhense. Tais volumes viriam somar-se às obras maranhenses desse autor de vasta bibliografia que compreende assuntos tão variados quanto foram os campos de interesse de seus estudos.

Casou com Isabel Eugénia de Almeida Fernandes, natural de São Luís do Maranhão, de quem teve uma filha, Elza Paxeco, primeira senhora doutorada pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

PROPUGNADOR DA EDUCAÇÃO FÍSICA

Djard MARTINS (1989) registra que com o nascimento das atividades esportivas no Maranhão, o hábito de repousar nos fins de semana é substituído pelas festas, corridas de cavalo, partidas de tênis, regatas, corso nas avenidas, matinês dançantes, e pelo futebol. A “gymnástica” era praticada pelas elites, que tomavam aulas particulares, conforme se depreende de anúncios publicados nos jornais. O Euterpe, fundado em 1904, também passou a difundir atividades esportivas, como o “tiro ao alvo“, tênis, o tênis de mesa (ping-pong), etc.

Nessa primeira década do século XX, a juventude maranhense estava principiando a entender o quanto era importante praticar esportes e desenvolver a formação física. Miguel Hoerhan foi nosso primeiro professor de Educação Física, tendo prestado relevantes serviços à mocidade ludovicense, como professor na Escola Normal, Escola Modelo, Liceu Maranhense, Instituto Rosa Nina, nas escolas estaduais e até nas municipais, estimulando a prática da cultura física: "E para coroar de êxito esse idealismo, esteve à frente da fundação do Club Ginástico Maranhense..." (MARTINS, 1989). 

Em 1911, Miguel Hoerhan ministrava “exercícios de gymnastica sueca, de esgrima, de espada e florete” no Colégio Militar – Rio de Janeiro. É listado junto com outros professores – “dirigidos pelos instructores professor Miguel Hoerhan, tenente Migrel Ayres e capitão Valério Falcão” – durante visita dos membros do Conselho Superior de Ensino. (Diário Oficial da União (DOU) de 12/08/1911), Pg. 14. Seção 1).

Para Karina Cancella (2012) a prática esportiva em meio militar foi intensificada na virada do século XIX para o XX sob o argumento de que para a estruturação de Forças Armadas era fundamental o desenvolvimento físico do pessoal militar. Estas atividades eram consideradas importantes para a formação não somente de militares mais preparados, mas também de potenciais “soldados-cidadãos” e “cidadãos-marinheiros” entre os praticantes civis.

Identificado Fran Paxeco com o Maranhão, vemos que no referido diploma de mérito consta ‘aos propugnadores da educação physica’ e está assinada por Miguel Hoerhann, passado em 18 de maio de 1904.

 

O que nos chama atenção, são elementos icnográficos que aparecem no Diploma: na bandeira com as cores nacionais (verde e amarela) onde está impresso os “4Fs”, traduzidos na parte de baixo, esquerda, do referido diploma como ‘Firme, Forte, Franco, Fiel”.

 

Mazo e Gaya (2006), ao estudar as associações esportivas de Porto Alegre-RS trazem que nas bandeiras adotadas por essas associações sempre havia a inscrição dos quatro “efes” posicionados no formato quadrangular: frish, fromm, frölink e frei, que significavam, respectivamente: saudável, devoto, alegre e livre.

Os “efes” também eram encontrados em todas as bandeiras desportivas da Alemanha. Em Porto Alegre a bandeira da Turnerbund reproduziu o símbolo dos “efes”, além da simbologia da insígnia com as datas históricas do turnen. Afirmam que a adoção de símbolos e exaltação dos heróis alemães aparecia nos uniformes da Turnerbund, símbolos que identificavam a pátria de origem. (MAZO e GAYA, 2006).

Traz ainda imagens de ginástica sendo executadas em diversos aparelhos, em claras referencias ao turnen – movimento criado por Friedrich Ludwig Jahn, pedagogo alemão, além de ativista político.

A utilização de discursos esportivos para a difusão de ideias e sentimentos nacionalistas tem um significado histórico:

 Está relacionada com a identificação de um esporte com os interesses e desejos de um determinado grupo social que pode ser uma etnia, uma classe, etc., ou um conjunto mais heterogêneo representado numa nação. Compreendo a nação como sendo uma entidade que se insere no final de um processo de construção de símbolos e convenções de identificação nacional, ocorrido em diversos países da Europa e da América, iniciado a partir do final do século XVIII até fins do século XIX e início do século XX (HOBSBAWM, 1990). Nesse contexto o esporte tornou-se um dos mecanismos do nacionalismo que contribuíram para a construção da identidade nacional.

 

Fran Paxeco idealiza e organiza o Primeiro Congresso Pedagógico do Estado do Maranhão entre o final de 1919 e início de 1920:

Por estes dias, reunidos em sessão pedagógica da Faculdade de Direito, o diplomata português Fran Paxeco, presidente administrativo do Instituto da Assistência à Infância, diretor-geral do jornal local “A Pacotilha”, professor da Faculdade de Direito no Estado do Maranhão e lenthe da Congregação do Lyceu Maranhense, propôs aos colegas bacharéis e docentes do Instituto Superior acima mencionado a realização de um Congresso Pedagógico para apresentar teses e reflexões sobre a instrução pública maranhense, suas limitações e possibilidades. (OLIVEIRA, 2012)59.

O QUE DIZ O DIPLOMA DE FRAN PAXECO

Não é sem grande risco da futura humilhação e grave comprometimento da nossa raça que poderá continuar a indiferença, o abandono e desprezo da educação física da infância do Brasil”.

Dr. Eduardo de Magalhães”.

“Concedido ao Exmo. Sr. Fran Paxeco pela propaganda literária que tem feito a favor da Educação Física”.

“Para que uma raça se assinale na história como um fator poderoso de civilização e de progresso, para que possa distinguir-se pelo seu amor enérgico e viril à liberdade e à gloria, é preciso que a educação física do homem seja objeto de serias preocupações e desvelado cuidado.

“O Diretor de Educação Física

“(MIGUEL HOERHANN)

“Maranhão, 18 de maio de 1904”.

 

 

Dos documentos que consultamos, não encontramos referencias de sua participação em atividades esportivas realizadas no período de 1902-19, quer como atleta, quer como organizador ou homenageado. Ainda...

Mas encontramos propostas referentes à Educação Física no I Congresso Pedagógico, por ele proposto (1919) e organizado (1920).

Temos um diploma de mérito concedido a Fran Paxeco, ainda em 1904, “pela propaganda literária que tem feito a favor da Educação Física”.

Quanto a Miguel Horhann, apenas aquela referencia de Dejard Martins:

Miguel Hoerhan foi nosso primeiro professor de Educação Física, tendo prestado relevantes serviços à mocidade ludovicense, como professor na Escola Normal, Escola Modelo, Liceu Maranhense, Instituto Rosa Nina, nas escolas estaduais e até nas municipais, estimulando a prática da cultura física.”