Resumo
Este estudo tratou de identificar e interpretar o processo civilizatório da Capoeira no que toca à sua desportivização. Foi adotado como procedimento metodológico o levantamento de fontes primárias e secundárias sobre a história do Brasil em geral e da Capoeira em particular, bem como a revisão bibliográfica sobre essa temática e sobre as teorias referentes a processos civilizacionais de distintas nações e convenções humanas que propiciaram o surgimento de novas tecnologias, inclusive corporais. Procedeu-se à categorização e interpretação dos elementos coletados sobre o processo de desportivização da luta brasileira, o que caracteriza este estudo como etnográfico, de natureza qualitativa. Consideraram-se os contextos social, cultural, político e legal do Brasil nos séculos XIX e XX para o desenvolvimento da idéia desportiva para a Capoeira. Desse aporte verificou-se que do momento da institucionalização da Capoeira desportiva em 1941 foram necessários mais de trinta anos para a produção do seu primeiro regulamento pretensamente técnico/desportivo (1972) e mais vinte anos para a sua autonomização (1992). As principais marcas de todo esse percurso foram o distanciamento do ponto fulcral da discussão – a luta –, o baixo grau de maturidade organizativa do grupo de pessoas que representa a modalidade e as permanentes disputas por aquisição ou manutenção de poderes por parte dos seus praticantes. Conclui-se que a Capoeira autonomizou-se e passou a reeditar os erros e problemas existentes em relação à sua organização antes desse evento, fazendo permanecer uma pseudomodalidade de luta entendida por Capoeira-desporto.