Resumo

A prática do "Fútbol Callejero" (FC) emergiu como um projeto de Educação Popular na Argentina, em meados de 2001. Seu desenvolvimento é balizado pela "Cooperação", "Solidariedade" e "Respeito" ("Princípios Fundantes"). Esta prática também possui outras peculiaridades, tais como a formação de equipes mistas (homens e mulheres jogam juntos), presença de um mediador em lugar de um arbitro e, por fim, o desenvolvimento de uma partida em "três tempos". A saber: "1° Tempo" - momento em que os jogadores combinam as regras da partida; "2º Tempo" - desenvolvimento do jogo pautado pelas regras combinadas; "3º Tempo" ou "Mediação" - momento final no qual o mediador intervém estimulando o diálogo acerca das situações e atitudes manifestadas durante o jogo. Neste diálogo, para além dos gols, o (des)respeito aos "princípios fundantes" também é problematizado, possibilitando a emersão do resultado final a partir de um censo de justiça que é compartilhado entre os jogadores. Diante desta metodologia realizamos uma intervenção com objetivo de apresentar a metodologia do FC e refletir acerca dos desafios para sua implementação. Para tanto, desenvolvemos o "Festival de Fútbol Callejero" na UFSCar. Deste, participaram 27 adolescentes (24 meninos e 3 meninas) com idade entre 10 e 13 anos, advindos de diferentes instituições educativas de São Carlos - SP. Orientados pela perspectiva qualitativa nos apropriamos do método de "Sistematização de Experiência", decorrendo as seguintes etapas: 1º Momento - participação e registro da experiência através de organização do evento e captação de áudio e vídeo das partidas e das entrevistas abertas desenvolvidas com os participantes; 2º Momento - Aprofundamento teórico-político acerca do FC; 3º Momento - recuperação do processo vivido através da análise do desenvolvimento do festival; 4º Momento - Análise, síntese e interpretação crítica do processo vivido; 5º Momento - Apresentação das "Considerações". Com isso, consideramos que a metodologia do FC teve boa aceitação. Todavia, mostrase desafiadora a necessidade de desconstruir valores alicerçados na competição e de incorporação dos princípios fundantes do FC. A "Mediação" possibilitou uma convivência pautada pelo diálogo para resolução de conflitos e para a tomada de decisão. Vislumbramos que tais processos educativos não se esgotem "em campo", mas que sejam transferidos para os demais contextos da vida de seus praticantes.

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