Futebol de Mulheres: a Insurgência do Corpo e o Questionamento do Binário
Por Talita Machado Vieira (Autor), Danielly Christina de Souza Mezzari (Autor).
Em Arquivos em Movimento v. 15, n 1, 2019. Da página 189 a 210
Resumo
Este artigo, de natureza teórico-conceitual, se propõe a discutir a prática do futebol por mulheres enquanto uma possibilidade de questionamento das divisões binárias que operam na produção dos nossos corpos. O futebol é comumente considerado uma prática eminentemente masculina, tendo em vista sua vinculação histórica com a produção de uma masculinidade hegemônica. O próprio corpo, na medida em que se converte em objeto de interesse na esfera pública, torna-se um campo político a ser disputado, governado, controlado. Entendemos que as mulheres futebolistas apontam para uma potência questionadora dessa ordem, produzindo também fissuras na superfície lisa e linear das normas de gênero.
Referências
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.199, de 14 de abril de 1941. Estabelece as bases de organização dos desportos em todo o país. Rio de Janeiro, RJ, 1941.
BUTLER, J. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do “sexo”. In: LOURO, G. L. (Org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p. 151-167.
BUTLER, Judith. Cuerpos que importan. Sobre los límites materiales y discursivos del «sexo». Buenos Aires: Paidós. 2002.
_______. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
CARVALHAES, F. F. Mulheres no crime: deslizamento de fronteiras. 2015. 190 f. Tese (Doutorado em Psicologia) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Florianópolis, 2015.
CARVALHO, B. Sensualidade e beleza eram prioridades no regulamento do Paulistão feminino. UOL Esporte. São Paulo. Set. 2017. Disponível em: https://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2017/09/24/sensualidade-e-beleza-eram-prioridades-no-regulamento-do-paulistao-feminino.htm. Acesso: 24/09/2017.
COSTA, C. L. O sujeito no feminismo: revisitando os debates. Cadernos pagu (19) 2002: pp.59-90. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cpa/n19/n19a04.pdf
DUNNING, E. O desporto como uma área masculina reservada: notas sobre os fundamentos sociais na identidade masculina e suas transformações. In: ELIAS, N.; DUNNING, E. A busca da excitação. Tradução de Maria Manuela Almeida e Silva. Lisboa: Difel, 1992, p. 389-412.
DUNNING, E.; MAGUIRE, J. As relações entre os sexos no esporte. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 5, n. 2, p. 321-348. Jul./Dez., 1997. Disponível em: . Acesso em: 12 Nov. 2017.
ELIAS, N.; DUNNING, E. A busca da excitação. Tradução de Maria Manuela Almeida e Silva. Lisboa: Difel, 1992.
FAUSTO-STERLING, A. Dualismos em Duelo. cadernos pagu (17/18) 2001, p. .9-79.
FIGUEIREDO, L. C. A invenção do psicológico- quatro séculos de subjetivação 1500-1900. São Paulo: Escuta, 2007.
FRANZINI, F. Futebol é "coisa para macho”? Pequeno esboço para uma história das mulheres no país do futebol. Rev. Bras. Hist., São Paulo, v.25, n.50, p.315-328, Dez., 2005. Disponível em: . Acesso em: 16 out. 2017.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: o nascimento da prisão. 20 ed. Tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 1999.
GOELLNER, S. V. Mulheres e futebol no Brasil: entre sombras e visibilidades. Rev. bras. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.19, n.2, p.143-51, 2005.
_______. Imagens da mulher no esporte. In: DEL PRIORI, M.; MELO, V.A. (Orgs.). História do Esporte no Brasil: do Império aos dias atuais. São Paulo: Editora UNESP, 2009, p. 269-292.
HARAWAY, D. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos pagu (5) 1995: pp. 07-41.
HARAWAY, D; KUNZRU, H; TADEU, T. Antropologia do Ciborgue: As vertigens do pós-humano. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2009, p. 26. 2000.
HOOKS. B. Mujeres negras: dar forma a la teoria feminista. In: HOOKS, B. et. Al. Otras Inapropriables. Feminismo desde las fronteras. Traficante de Sueños. Madrid, 2004.
KESSLER, C. S. Mais que barbies e ogras: uma etnografia do futebol de mulheres no Brasil e nos Estados Unidos. 2015. 375 f. Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Porto Alegre, 2015.
LOURA, G. L. Conhecer, pesquisar, escrever... Educação, Sociedade & Culturas, nº 25, 2007, p. 235-245.
JACO, J. F.; ALTMANN, H. Significados e expectativas de gênero: olhares sobre a participação nas aulas de educação física. Educação em foco, Juiz de Fora, v. 2, n. 1, p. 1-26, Jun., 2017.
MOURA, E. J. L. As relações entre lazer, futebol e gênero. 2003.112 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física, Campinas, 2003.
PLATERO, R. La masculinidade de las biomujeres: marimachos, chicazos, camioneras y otras disidentes. Jornadas Estatales Feministas de Granada. Mesa Redonda: Cuerpos, sexualidades y políticas feministas. 06 de Diciembre de 2009.
SCHAUN, A.; SCHWARTZ, R. O corpo feminino na publicidade: aspectos históricos e atuais. IV ComCult – Cultura da Imagem, GT Imagem e Gêneros, sob o titulo Corpos em Jogo: o feminino na Publicidade. Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. 12 a 15 de novembro, 2008.
SENNETT, R. O declínio do homem público: as tiranias da intimidade. Trad. Lygia Araújo Watanabe. São Paulo: Companhia das letras, 1988.
SILVA, L. C. Cartografias de mulheres na prostituição: territórios, heterotopias e suas interfaces com a psicologia. 2016. 163 f. Tese (Doutorado em Psicologia) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, Assis, 2016.
SOUZA, V. S. As idéias eugênicas no Brasil: ciência, raça e projeto nacional no entre-guerras. Revista eletrônica História em reflexão, v.6, n. 11, p. 1-23, Jan./Jun., 2012. Disponível em: . Acesso em: 03 Dez. 2017.