Resumo
Arrisco afirmar que a vida humana ocidental contemporânea aparenta partidas de futebol: embates, tempo medido, lutas pela titularidade e aceitação, torcidas agindo como partidos políticos, advertências, disputas, discussões de teses, improvisos, presença de regras e transgressões, práticas de alienação, simbologias de socialização, teatralização da vida social, encenações abstratas de guerra, entre outros. A princípio, o futebol associava-se às elites. No Brasil, popularizou-se de forma assustadora a ponto de tornar-se uma extensão do ambiente doméstico e do trabalho, em especial a partir do primeiro quartel do século XX, período em que as agitações operárias preocupavam empresários e governo (este último enquanto representante dos interesses dos possuidores e do Estado em si). O até então esporte das elites tornou-se uma poderosa expressão dos setores sociais mais empobrecidos, em uma disseminação impressionante, talvez por ser esta prática esportiva a única que inspire a possibilidade da quebra das hierarquias sociais, o que significa dizer que nem sempre o favorito vence. Não há como deixar de levar em consideração que a prática do futebol virou mania mundial a partir da realização dos torneios mundiais, determinado a partir de uma reunião da FIFA (Federação Internacional de Futebol) em 08 de setembro de 1928 em Zurich. Alguns meses depois, em Barcelona, especificamente em 17 de maio de 1929, estava batido o martelo: de quatro em quatro anos, a partir de 1930, a realização uma competição denominada “Copa do Mundo de Futebol”. A Copa do Mundo passou a determinar os olhares de e sobre o povo brasileiro, especialmente a partir de 1938, quando o projeto de incutir a visão de nação sobre o Brasil passou a ser colocado em prática por Getúlio Vargas. Paulatinamente, o futebol tornou-se a expressão da condição mental do brasileiro, refletindo o momento social, político, econômico e histórico vivido por ocasião da realização do torneio, reunindo múltiplos significados: jogo, ritual, entretenimento, espetáculo, diversão, paixão, congregação. Em países como o Brasil, a prática futebolística inspira o imaginário social, podendo ser vinculado à própria personalidade brasileira.