Editora Centro Cultural do Ceará. Brasil 2013. 192 páginas.

Sobre

Seria apenas um livro comum se o pintor, escritor e ex-jogador de futebol, Nando Antunes, não contasse também, no livro, sua vida como professor do Plano Nacional de Alfabetização, o PNA, criado pelo educador Paulo Freire e extinto pelo governo ditatorial em 1964.


“Em um determinado dia lá em Portugal, no hotel que eu morava, recebi a visita de dois cretinos da PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado), que era a polícia política portuguesa, comandada pelo Salazar – de triste memória, aliás. Estavam bem informados a meu respeito. Tremi na base porque tinha apenas 22 anos e numa época que as comunicações praticamente só funcionavam através de cartas. O telefone era por cabo submarino e era difícil uma ligação pra minha casa. Me ameaçaram até com a ida para a guerra nas Áfricas Portuguesas por ser filho de português. Quem me salvou foi a esposa de um empresário do clube que tratava do meu contrato. Ela praticamente me colocou no avião. Saí fugido, cheguei no Rio e não contei a verdade. Disse apenas que não tinha gostado de Portugal. Precisava proteger meus irmãos, que faziam muito sucesso. Sabíamos que o Zico seria um dos melhores do mundo.”

Sim, talvez ainda tenha sido pouco divulgado, mas Nando Antunes tem como irmãos, os craques Antunes, Edu e Zico, e também se tornou jogador profissional, tendo passado por América, Madureira, Ceará e times de Portugal, porém sua carreira foi abreviada no Belenenses, conforme o relato dele mesmo acima. 

A publicação é repleta de boas histórias e revelações, como as que dão conta que tanto Edu, na Copa de 70, quanto Zico nas Olimpíadas de 72, podem ter sido preteridos justamente por Nando ser considerado um professor subversivo.

Outra história que chama a atenção é a relação próxima que Nando tinha com a prima Cecília Coimbra, então colaboradora do MR-8, o Movimento Revolucionário Oito de outubro. Isso fez dele um inimigo em potencial do regime. Recentemente Cecília presidiu o grupo Tortura Nunca Mais.

E já que não podia brilhar em campos e torneios oficiais, Nando se recusou a parar de jogar e continuou fazendo a diferença em jogos no Clube Dos Vitalícios, nas suas peladas em Quintino. Hoje, além de pintar e escrever, dá palestras e faz debates sobre as relações entre futebol e ditadura. Nando Antunes foi o primeiro jogador de futebol anistiado do Brasil. E Zico é seu irmão.