Futebol em Tempos de Pandemia: Quando a Bagunça e a Incerteza Não Têm Vez
Por João Batista Freire (Autor), Rafael Moreno Castellani (Autor).
Integra
Não é segredo para ninguém a grande quantidade de trocas de treinadores que costumeiramente acontece no futebol brasileiro. Inclusive, em reportagem do diário El economista, o Brasil é tido como uma “máquina de dispensas”, sendo o país com mais demissões de treinadores no decorrer das temporadas.
Não é nosso interesse neste texto tratar dos motivos e das consequências dessas seguidas e rotineiras demissões de treinadores do futebol brasileiro. Mas sim, trazer para reflexão a atual situação vivida pela população brasileira em decorrência da pandemia e o estágio em que se encontra o futebol nacional nesse contexto. E, para esta reflexão, nos apoiaremos no pedido de rescisão contratual solicitado há alguns dias pelo agora ex-treinador do Flamengo, Jorge Jesus.
Antes de entrarmos no cerne da problemática que gostaríamos de abordar, seria interessante questionarmos o porquê de tamanha revolta e crítica, por parte da imprensa, torcedores e até de outros treinadores, com a notícia da saída de Jorge Jesus, ao passo que as inúmeras demissões de treinadores parecem não causar comportamento semelhante.
Mas afinal, o que teria feito o treinador da equipe mais forte e vencedora em 2019 no futebol brasileiro - que realizou investimentos exorbitantes, inclusive arcando com salários de nível europeu para seu treinador – decidir por romper um contrato recém renovado para se transferir à equipe portuguesa do Benfica?
Como não conversamos com ele, ou ouvimos diretamente dele resposta a esta questão, vamos levantar inicialmente duas hipóteses: as incertezas de um país que não consegue controlar a pandemia, sobretudo pela irresponsável, trágica e lamentável atuação do Governo Federal; e a desorganização daqueles responsáveis por gerir e organizar o futebol brasileiro.
Jorge Jesus é, sem sombra de dúvida, um excelente treinador, talvez, até um dos melhores do mundo. E aí pode haver uma terceira hipótese: no futebol europeu sua visibilidade será bem maior que no futebol brasileiro. É sempre bom lembrar, também, que nenhum técnico brasileiro, nos últimos anos, teve à mão, elenco tão qualificado quanto teve Jesus no Flamengo. Quem sabe algum treinador brasileiro revelasse sua competência caso tivesse elenco tão precioso para dirigir. Vejamos agora o que o recém anunciado treinador do Flamengo, Domènec Torrent, fará com essa equipe.
Voltemos, porém, às condições adversas do futebol brasileiro. Não deve ser fácil para Jesus ou qualquer outro treinador preparar uma equipe de futebol nas condições do Brasil atual. Imaginemos a situação de Jorge Jesus na volta das atividades do futebol carioca em plena pandemia. Quantas mortes a cada gol do Flamengo? O que comemorar? Sem contar as conversas de dirigentes flamenguistas com o presidente Jair Bolsonaro a respeito da volta do futebol e das transmissões televisivas, além do encontro do próprio ex-treinador flamenguista com Bolsonaro, que lhe valeu a publicação de uma foto com o presidente, que marcará (ou manchará?) seu currículo.
Enfim, o futebol voltou. Sem público: aparelhos eletrônicos imitam o som, e cartazes imitam a presença, de torcedores. Em campo, como consequência da precipitada e mal planejada volta aos treinos e disputas oficiais, temos visto equipes mal treinadas, jogadores fora de forma e sem o “famoso” ritmo de jogo. Times razoavelmente organizados antes da pandemia, nesta volta mostram-se confusos e bagunçados.
Ainda que continuemos com mais de 1000 mortes diárias (em média) em decorrência da pandemia, parece-nos que desta vez não haverá outro adiamento do Campeonato Brasileiro. A nossa maior e principal competição nacional de futebol está há poucos dias de seu início. Agora é aguardar para vermos o nível a ser apresentado pelas equipes e como será a já famosa e esperada troca de treinadores, a única coisa certa em todo o campeonato.