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 Engajamento na escola


 Em dezembro de 1993 conclui a Licenciatura Plena em Educação Física e Desportos, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na mesma semana da minha colação de grau, recebi uma convocação referente ao concurso público da Rede Estadual de Educação, ao qual havia anteriormente realizado com êxito.


 Apresentei-me no colégio que me foi destinado, num bairro da zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro (Bangu). E, lá estou há seis anos ministrando aulas de Educação Física, para turmas de quinta a oitava séries do ensino fundamental e turmas do ensino médio.


 Como o colégio em questão teve sua inauguração na mesma época em que nele comecei a trabalhar, em 1994, tive a oportunidade de acompanhar de perto algumas turmas ao longo desse período.


 Algumas crianças e adolescentes que estudam neste colégio deste a inauguração foram meus alunos durante todos estes anos; e, este convívio semanal possibilitou uma maior proximidade com eles, propiciando um ambiente onde se sentem a vontade para expor suas opiniões.


 A pós-graduação


 Depois de dois anos de formada senti o impulso de voltar a estudar. Eu queria adquirir conhecimentos que viessem auxiliar minha prática pedagógica na escola.


 Procurei alguns cursos de aperfeiçoamento na área escolar e, no mesmo ano, comecei uma especialização em Educação e Reeducação Psicomotora, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).


 O conhecimento advindo das leituras, da troca de idéias com outros profissionais, do próprio pensar na e para Educação, ao invés de saciar minha vontade de aprender.


 A partir de então sentia necessidade de ler e de conhecer teorias, metodologias e práticas pedagógicas que se diferenciassem do que eu via acontecer constantemente nas escolas; pois, não gostaria de ver repertir-se o que vivenciei na escola, enquanto aluna nas aulas de educação física, como no curso de graduação.


 Nesta minha busca de conhecimento cheguei ao curso de Pós-graduação Lato Senso em Educação Física Escolar, ministrado pelo corpo docente do departamento de Educação Física e de Educação, da Universidade Federal Fluminense (UFF), que tinha como um dos quesitos para obtenção do título a elaboração de um trabalho final que versasse sobre algum tema eminente da área escolar.


 A escola e/ou a pós-graduação


 Afinal qual o intuito de fazer estes relatos a respeito de minha vida profissional e acadêmica?
Com eles pretendi mostrar todo o contexto que me impulsionou para a realização deste trabalho sobre Futebol Feminino na educação física escolar. Esclarecendo as razões que instigaram e impeliram a construção deste.


 Como já foi dito anteriormente ao lecionar durante anos no mesmo colégio construí uma relação muito próxima entre professores e alunos, e essa proximidade nos permite ter uma leitura mais apurada da realidade vivenciada e da natureza intrínseca do alunado.
Consegui observar mais atentamente e de maneira mais plena a evolução e amadurecimento corporal, intelectual, emocional e político dos alunos; ou seja, seu crescimento a partir de todos os aspectos relevantes na formação de um indivíduo.


 No entanto dois fatores foram muito importante neste processo, a experiência de vida profissional que me respaldava na apuração dos indícios na prática durante as aulas de educação física e a necessidade de apresentação de um trabalho sobre educação física na escola.
A conjunção desses dois aspectos fez com que viesse a tona alguns questionamentos que apontassem para um problema relevante na minha prática pedagógica. Problema esse que posteriormente pudesse configurar-se numa situação-problema e cuja sua relevância justificasse a elaboração e construção de um trabalho acadêmico na linha de pesquisa educacional e escolar.


 No levantamento destas questões práticas do cotidiano escolar, algumas situações que me intrigavam de alguma maneira nas aulas de educação física. Contudo o que me pareceu instigante foi a questão de que as alunas que durante muito tempo nas chamadas aulas livres escolhiam como atividade o jogo conhecido como ‘queimado’ ou ‘queimada’, não mais o faziam.


 Para os meninos tudo continuava como antes, futebol como prioridade máxima e única (se possível), porém as meninas já mostravam outro interesse. Também elas optavam pela prática do futebol e este fato estava tornando-se um acontecimento cada vez mais freqüente.


 O trabalho acadêmico: Primeiros apontamentos


 Diante do objeto de estudo detectado, tentei formular a situação-problema em questão alicerçada por textos e autores preocupados com a temática gênero, gênero/escola, gênero/educação física e, especificamente, com o futebol feminino no âmbito escolar.
Sabendo-se que os papéis sociais sempre foram muito diferenciados entre homens e mulheres, surgiu a necessidade de se fazer um retrato histórico de como foi o início da participação da mulher nos espaços sociais antes de hegemonia masculina; dentre esses o esporte e as atividades esportivas.


 Faz parte do senso comum a idéia de que os meninos são mais ativos, dinâmicos e fortes e que as meninas, em contrapartida, são mais passivas, contemplativas e frágeis. Salles, Silva e Costa (1996 , p.259) abordam este assunto escrevendo que:


 "(...) historicamente foram definidas formas de agir particularmente femininas e masculinas. Cabendo ao homem, em uma sociedade machista como a nossa, o papel de assumir características próprias de um chefe, detentor do poder, determinando-lhe conceituações de agressivo, forte, viril, empreendedor, da razão, entre outros, enquanto à mulher coube, em contrapartida, o papel social de submissão e de sensibilidade, sendo inclusive determinadas as atividades mais recomendadas para o sexo frágil".


 Na história da humanidade a participação das mulheres nos esportes tanto ativa (entendida como a prática efetiva) quanto passiva (espectadora da atividade esportiva) foi muito tímida e pouco incentivada. Esse fato pode ser entendido como reflexo de uma sociedade onde os padrões sociais são bem diferenciados e definidos, caracterizando comportamentos tipicamente femininos ou masculinos. Faria Junior ( Futebol e Cultura Brasileira; p. 19/20, 1995) escreve que:


 "O reconhecimento de que muitas diferenças constatadas devem-se a construção social de gênero e não a diferenças de natureza biológica, permitirá uma compreensão mais criticamente adequada das desigualdades no desporto e e na educação física, levando o debate para a questão das estruturas de poder na sociedade".


 Daí a importância de compreendermos melhor como ocorreu a adesão da mulher à pratica esportiva.


 Acredito que entender esta questão ajudará na reflexão das contribuições que a utilização deste esporte pode trazer para o cotidiano da educação física escolar, na perspectiva da formação de um cidadão autônomo, crítico, que prime por uma sociedade mais democrática.
Na medida em que possa se constituir em referencial que dê subsídios ao professor para sustentar debates acerca de questões relativas ao gênero, à coeducação, à reflexão crítica sobre exclusão/inclusão, à marginalização da mulher em determinadas práticas e espaços, às discriminações, aos esteriótipos e estigmas sociais.


 Obs. A autora foi orientada neste trabalho pela profa. Ms. Neyse Luz Muniz


 Referências Bibliográficas


 Faria Júnior, Alfredo G. de. Futebol, questões de gênero e co-educação. Pesquisa de Campo . Rio de Janeiro, n.2, p. 17-39, 1995.
Kugelman, Claudia. O conceito de gênero: como tratar com menias e meninos? In: Sportpädagogik. Berlin. n. 1, p25-28, 1997.
Pfister, Gertrud. A história delas no esporte rumo a um aperspectiva feminista?. In : ROMERO, Elaine (ed.) Mulheres em movimento. Rio de Janeiro: Sprint, 1995.
Romero, Elaine. Diferenças entre meninos e meninas quanto aos esteriótipos. In: Revista Brasileira de Ciências do Esporte. Santa Maria. Vol. 14, n.1, 1992.
Sales, José Geraldo, Silva, Maria Cecília de P. e Costa, Marta de M. A mulher e o futebol - significados históricos. In: IV Congresso Brasileiro de História do Esporte, Lazer e Educação Física. Anais... Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho, 1996.
Saraiva, Maria do Carmo. Co-educação física e esportes. Ijuí: Editora UNIJUÍ, 1999.
Toscano, Moema. Introdução à sociologia educacional. Petrópolis: Vozes, 1984.