Editora Eduff. None None. 277 páginas.

Sobre

Prefácio

Vem em boa hora a publicação de Futebol em sala de aula, organizado por Lívia Gonçalves Magalhães e Rosana da Câmara Teixeira, para somar esforços no auxílio ao ensino de História e Ciências Sociais na graduação universitária e no ensino médio. Ele entra em campo no momento mesmo em que há um desinvestimento na educação e na ciência por parte das autoridades do governo federal, e que, além disso, se empenham em colocar essas matérias de forma compulsória na segunda divisão. O futebol, ele próprio, foi, em sua versão moderna como esporte, uma invenção da escola. Das escolas de elite inglesas, esse esporte teve uma difusão rápida e extraordinária em direção às classes trabalhadoras daquele país. Foi adotado como técnica, ao mesmo tempo, disciplinar e estimulante por outras escolas de elite em outros países da Europa e da América Latina, bem como sob a forma de clubes amadores inicialmente compostos por ex-alunos de escolas secundárias e universitárias de elite, a exemplo da Inglaterra. Foi adotado por empresas e instituições de enquadramento da população trabalhadora como instrumento de aprendizado da competição e do espírito de equipe. E em todo o mundo houve um processo de apropriação do esporte pelas classes populares, paralelamente a um processo de profissionalização dos atores do esporte. O futebol ilustra assim, de forma exemplar, fenômenos e processos sociais mais gerais como o desenvolvimento de técnicas educativas; a circulação entre cultura popular e cultura erudita (o futebol dito popular anterior era um ritual popular masculino de dois bandos frequentemente tidos como violentos em torno de uma bola, e foi disciplinado no interior da escola, tendo sido popularizado de volta de outra forma); os conflitos entre classes, grupos sociais e grupos étnicos, tendo por roupagem inicial o choque entre uma ética amadorística de elite e a profissionalização de um novo domínio de atividades. Também ilustra os fenômenos de comercialização dos entretenimentos, bem como a criação de um mundo social e econômico à parte com seus próprios especialistas. Se, de início, o futebol foi uma criação escolar, sua ida para o mundo e para todas as classes, etnias e gêneros tornou-o um fenômeno autônomo com repercussões em diferentes domínios da vida. Tornou-se um grande catalizador de emoções coletivas, nacionais, locais, clubísticas e uma linguagem de uso e de interesse quase universal. O futebol pode voltar, assim, à escola para motivar o ensino de temas da História e das Ciências Sociais que estão por detrás das práticas de seus diferentes atores e de processos históricos não intencionais mais amplos em que esse esporte está envolvido. Assim, os temas tratados neste livro são motivadores para o ensino de uma ampla gama de fenômenos e processos sociais com os quais o futebol está relacionado: política internacional e diplomacia, literatura, legados das copas e repercussões sobre a cidadania, profissionalização, história oral, práticas e aprendizagens das torcidas organizadas, gênero (torcedores: machismo, homofobia e homossexualidades transgressoras), o ensino durante as ditaduras no Brasil e na Argentina, modernização do Rio de Janeiro durante períodos da República, povos indígenas e também relações raciais no Brasil. Essa gama de temas é convidativa para a proposição de ainda outros a serem usados pelos professores em sala de aula.

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