Editora Pandemonium . Brasil 2009. 276 páginas.

Sobre

Faz pouco mais de um século que o futebol se popularizou e, assim, se aproximou do que já estava havia muito tempo no domínio gostoso do povo - a música popular brasileira de origens africana e açoriana, e que logo passou a ter influências europeias. Mesmo provinda, em alguns casos, de ritmos não tão populares como a polca, a música sempre foi popular. Mas a música da elite era outra, de outro ritmo - a erudita.
Mas que estou eu a falar do que não entendo se não por gosto e admiração?! É que este livro de Beto Xavier, que faz detida e definitiva pesquisa sobre futebol no país da música, é um esforço em prol de identificar na cultura popular brasileira os seus verdadeiros traços de permanência e valor.
A música antecede em tudo o futebol, que foi uma invenção dos colégios ingleses para melhor preencher os grandes intervalos com a prática de uma formidável pelada: todos contra todos, cada um pela mínima glória de ao menos chutar ou entrever-se com o que chamavam de bola - na verdade, um objeto pequeno, arredondado, e que na sua crescente tecnologia ganhou uma cobertura de couro fechada até chegar a uma câmara de borracha cheia de ar e fechada por ventil.
Charles Miller, bem citado pelo autor na sua importância histórica, retornando da Inglaterra, trouxe duas bolas de futebol e passou a jogar o esporte em campos de críquete. Logo seus amigos de classe média aderiram à prática. Os que jogaram o primeiro futebol eram filhinhos-de-papai, mas logo o futebol se popularizou. A bola, os chutes, a correria e a alegria de jogar junto seduziram os meninos pobres e descalços das ruas adjacentes aos campos. Deu-se então a grande inversão: o público passou a ser formado por homens e mulheres bem vestidos, enquanto os jogadores eram de camadas pobres da população. Estes tinham mais tempo para jogar e uma inata vocação. O futebol tornou-se uma obra coletiva de encanto, arte e inigualável entretenimento. Chegou onde a música já estava com chorinhos, lundus, canções e sambas, e um se tornou dependente do outro em muitos sentidos. A investigação de Beto Xavier destaca esses gradativos encontros e demarca um crescimento e uma importância que já bem se pode afirmar que um é também o outro.
Fazia falta um registro sério e comprometido como esse de Futebol no país da música até para reabilitar mais uma dimensão cultural desse nobre esporte, aparentemente desprovido de grandeza e significado segundo a miopia elitista de muitos intelectuais

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