Resumo
O futebol para cegos é uma modalidade esportiva coletiva capaz de proporcionar a prática do fenômeno futebol às pessoas cegas. Suas regras são baseadas nas adotadas pelo futsal. As adaptações existentes visam contemplar as características específicas das pessoas cegas. Neste contexto, este estudo se apresenta com o objetivo de descrever e analisar as características específicas do futebol para cegos: Quais os contextos e os personagens mediadores do desenvolvimento e prática dessa modalidade? Como se dá a estruturação coletiva das equipes? Quais as estratégias tático-técnicas utilizadas pelos jogadores diante de suas diferentes percepções? Em busca da concretização de tal objetivo, utilizou-se a entrevista semi-estruturada para coletar os dados junto a seis jogadores que integraram a seleção brasileira nos Jogos Paraolímpicos de Atenas 2004, no Pan-americano de 2005 e no Mundial de 2006; e os técnicos que já passaram ou não pela seleção, mas que já dirigiram equipes que se destacam no cenário nacional. Após a transcrição das entrevistas elas foram analisadas pela Análise de Enunciação, uma das técnicas da Análise de Conteúdo. Os dados evidenciaram o ciclo de mediação cultural do futebol para cegos, influenciado pelo fenômeno futebol e protagonizado pelos seguintes personagens: jogadores de futebol, família, professor/técnico, amigos e jogadores de futebol para cegos. Tais personagens interagem nos conseguintes contextos para a mediação da aprendizagem da modalidade: instituto/entidade, eventos (paradesporto), seleção brasileira da modalidade e faculdades de educação física. Para o exercício da base regencial as equipes desenvolvem estratégias de comunicação baseadas na padronização de termos, na descentralização e na personalização. Os sistemas táticos dão sentido e sustentam a comunicação, pois a filtragem da informação é dependente da função exercida por cada jogador. Para os princípios ofensivos, as equipes utilizam jogadas pré-estabelecidas e aperfeiçoam o patrimônio tático-técnico da modalidade. Defensivamente, as equipes centram sua organização na movimentação da bola, caracterizando a defesa por zona e possibilitando a realização de coberturas. Na transição entre os pólos defensivo e ofensivo, as equipes procuram se utilizar do sentido visual do goleiro, que com lançamentos rápidos tenta surpreender o adversário. Para a leitura do jogo, os jogadores constroem um mapa mental da quadra a partir de referenciais sonoros e cinestésicos. Tal imagem mental permite que eles se orientem pelo espaço de jogo, tomando como base os pontos referenciais fixos previstos em regra. A comunicação de sua equipe e também da adversária, permite a localização dos referenciais móveis (jogadores). Conhecer as características dos outros jogadores, tanto parceiros quanto adversários, também auxilia a leitura do jogo. De posse das informações obtidas pela leitura do jogo, o jogador as processa de acordo com sua capacidade perceptiva e seleciona as estratégias tático-técnicas que julga necessárias para resolver a situação problema em que se encontra.