Resumo

O ritual de preparação para os jogos de futebol ou o “fechamento” é uma prática específica do universo futebolístico brasileiro, que se consolidou como um dos elementos constituintes do habitus dos jogadores brasileiros (PETROGNANI, 2016). Deste modo, a presente investigação objetiva analisar a função simbólica e instituinte das ações que compõe o ritual de preparação para os jogos do Mirante E. C., equipe de futebol pertencente ao campo futebolístico amador da cidade de Ponta Grossa, localizada no estado do Paraná-Brasil. Neste estudo optou-se pela etnografia, pois ela guia os pesquisadores no processo interpretativo do “ponto de vista” e da “visão sobre o mundo” dos indivíduos pertencentes ao grupo investigado, através das interpretações de suas práticas simbólicas (GEERTZ, 2003). Para tanto, acompanhou-se os jogos do Campeonato Amador Principal e do Campeonato Amador Máster, além de amistosos, peladas, espaços de socialização, festividades e etc. No decorrer deste processo, permaneceu-se mais de três anos in loco, totalizando aproximadamente 180 saídas a campo. Ao longo das observações participantes, a importância do ritual de preparação tornou-se evidente através de frases de jogadores como: “Um time perde só quando o árbitro apita o final do jogo, mas sabemos quando um time não vai vencer, antes dele entrar em campo” (Diário de Campo, 23/10/2016). Além da dimensão espiritual e emocional, o ritual é também uma prática agregadora de capital simbólico (BOURDIEU, 1998). No caso do Mirante E. C. o elogio ou a crítica “em público” durante a preparação para os jogos, nos vestiários e em campo, somada a outras ações, fundamentava a instituição ou destituição social de um agente. Para os jogadores mais jovens, significava passar a fazer parte da “Família”, “Ser Mirante”, já para os agentes pertencentes à família, o próximo passo viria em longo prazo, com suas instituições ao posto de “veteranos”.