Resumo
Esta pesquisa teve por objetivo compreender os significados da indisciplina escolar e das punições dela decorrentes sob a perspectiva de alunas consideradas indisciplinadas pelo(a)s profissionais, em uma escola pública de Ensino Médio do município de São Paulo. O estudo utilizou metodologia qualitativa e os seguintes instrumentos de pesquisa: análise dos documentos da escola, observações nos diferentes espaços escolares, entrevistas semiestruturadas com diversos profissionais da escola e com jovens. Partiu-se do pressuposto de que as muitas e distintas formas de disciplinamento eram uma das maneiras pelas quais a escola participava da construção das relações de gênero, ao mesmo tempo em que as relações de gênero eram constitutivas das concepções de disciplina e indisciplina ali dominantes. Como resultado, podemos apontar que havia uma multiplicidade de compreensões sobre a indisciplina escolar e sobre as regras que tinham validade efetiva: foi possível notar a presença de percepções diferenciadas entre educadores(as) e jovens no que tange à definição de quem seria indisciplinado ou não; as moças consideradas pelos profissionais como indisciplinadas nem sempre se viam dessa forma. Além disso, ao mesmo tempo em que os sujeitos naturalizavam os comportamentos atribuídos a rapazes e moças, estudantes e profissionais da escola também abordavam e avaliavam esses comportamentos de formas mais flexíveis e múltiplas, além de perceberem mudanças, procurando entendê-las. De forma específica, as jovens alunas apresentavam sentimentos ambíguos, marcados tanto pela percepção da escola como uma "prisão", como pela impressão de se sentirem mais livres na escola do que em casa. No último capítulo, as análises centraram-se nas percepções de injustiça das alunas consideradas indisciplinadas: havia tratamentos e punições diferenciados para elas e para os rapazes e também em relação a outras moças, em diferentes ambientes da escola, inclusive nas aulas de Educação Física. Esses tratamentos diferenciados ocorriam tanto pelo desconhecimento e confusão nas normas, como devido à visibilidade que adquiriam as moças tidas como indisciplinadas - já que não se adequavam a um modelo predominante de feminilidade aceito pelo(a)s profissionais e criavam diferentes formas de ser femininas na instituição escolar.