Resumo

Amigos

Escrevo este texto de um SPA, às vésperas da volta para casa, depois de sete dias vivendo uma singular experiência. Para quem não sabe, Sorocaba, cidade que resido, é considerada por muitos como a “Capital dos SPAs-Médico” do Brasil.

Vários motivos me trouxeram para cá nessa segunda oportunidade, sendo o principal deles que vim para APRENDER. Lógico que eliminei uns quilinhos, mas estava também interessado em mergulhar nesse universo que mais se parece a um grande clube, logo, com muitas nuances de lazer.

Há exatos 20 anos também fui passar uns dias num SPA pela primeira vez, na região de Cabreúva/SP, motivado por um, digamos, “desafio acadêmico”. Explico: um dos alunos da Modalidade de Recreação e Lazer da Faculdade de Educação Física (FEF) da UNICAMP, onde atuei até aposentar-me recentemente, veio me procurar para orientar sua monografia de conclusão de curso que girava em torno do tema “Lazer em SPAs”.

Fui com olhos de observador de comportamentos em situações de “livre escolha” e de gestor de espaços com potencial para a vivência do lazer.

Lá constatei que a combinação de baixa ingestão calórica com uma oferta desorganizada de atividades física-esportivas “de lazer” pode ser fatal! Ao final do terceiro dia, jogando futebol (!), tive uma forte distensão na musculatura posterior da coxa direita que mal me permitiu andar em seguida… e pelas semanas seguintes. Ali conclui que não há lazer num SPA e, portanto, aquele aluno deveria ou mudar de tema ou de orientador…

Já naquela ocasião, embora a FEF/UNICAMP tivesse um grupo de pesquisadores muito forte, na época denominada ”Educação Física Especial”, pouco se falava em “Recreação Terapêutica”, ramo do lazer muito estudado especialmente na América do Norte (para quem se interessar pelo assunto, sugiro entrar, entre tantos, no site www.nrpa.org). Nessa linha de atuação, os aspectos lúdicos de uma dada atividade são utilizados para motivar pacientes a melhorar o seu desempenho, seja ele qual for. Certamente os Estados Unidos desenvolveram essa especialidade com grande afinco devido às inúmeras guerras em que se envolveram (e/ou criaram…), com soldados e paramédicos mutilados no retorno, abrindo-se um amplo leque de intervenção multiprofissional, que incluía a dimensão do lazer.

Voltando ao SPA, naquela oportunidade constatei um conjunto de equívocos de gestão do empreendimento como um todo, especialmente no planejamento e execução das ações desenvolvidas pelas pessoas que trabalhavam com as atividades recreativas, mostrando um perfil de pseudo “animadores sócio-culturais”, tanto na sensibilização e mobilização como na condução das experiências lúdicas propostas.

Com certeza, essas experiências de lazer no primeiro SPA foram trágicas!

Volto ainda nesta semana para falar mais especificamente desta semana em outro SPA.

Abraços

Bramante

Por bramante
em 20-02-2012, às 12:09

3 comentários. Deixe o seu.

Comentários

Bramante,
Estou felicíssimo pelo conteúdo dessa postagem, pois constato que entre a teoria e a prática continua a existir um grande abismo. Estou me referindo a dois aspectos que o administrador, professor e creio que todos os indivíduos deveriam desenvolver: a intiuição e a sensibilidade. Certamente o Padre António Vieira tornaria a afirmar: “Hà olhos de ver e olhos de enxergar”! Imagino que o aluno deveria mudar de orientador o quanto antes.
Certa feita resolvi produzir um programa de ensino de voleibol para funcionáros do Banco do Brasil e associados da AABB-Rio. Eram pessoas sua maioria acima de 40 anos, com histórico de pouca atividade física, especialmente as mulheres. Como ainda estava em atividade – funci do BB e Prof. de Ed. Física, atleta e técnico de vôlei – tinha um crédito muito grande em relação à clientela que fui acumulando a pouco e pouco somente com propaganda de “pé de ouvido”, isto é, cada indivíduo era portador da mensagem que passava com minhas atuações pedagógicas. Em resumo, para ajudá-los, fiz-me um deles e captei o que almejavam ao se deslocarem uma vez por semana, após o trabalho, para se divertirem. E deu certo! Como bem nos ensina, tornei-me um “animador sócio-cultural, tanto na sensibilização e mobilização como na condução das experiências lúdicas propostas”, pois muito além da prática esportiva (lúdica), produzia brincadeiras nas “aulas” e encontros sociais eventuais ao longo do ano bem simples, como o “siri-amigo” que eu mesmo pescava e preparava, queijos e vinhos etc. Como alguns relatavam, “a semana parecia que só tinha um dia, a quarta-feira, o dia de nossos encontros”. Outros, “è uma pena sair daqui agora e ter que esperar mais uma semana para nos reunirmos”.
Minha lição: “A identificação com cada indivíduo faz-se rápida e de forma sensitiva; não há que impor, mas descobrir-lhes os desejos. Assim, o labor ultrapassa o limite da atividade física e compõe-se nas demais atividades sociais dos indivíduos”. Em troca, sorrisos e gratidão, ou melhor, missão cumprida.
Este aprendizado não foi em livros, mas na prática. Durante 4-5 anos desenvolvi projeto na praia para até 400 crianças (8-13 anos), inclusive perto de 20 jovens da APAE. Eram duas aulas semanais e, paralelamente, desenvolvíamos atividades filantrópicas e sociais, inclusive teatro (APAE). Jogar voleibol? Nem sempre, mas que havia muita diversão não há dúvida! E a procura para inscrição de novos alunos era constante.
Como já ouvi dizer, “só quem teve fome dá valor a um prato de comida”! As prateleiras das bibliotecas universitárias estão repletas de pesquisas… Quê valor?

Por Roberto Pimentel
em 21-02-2012, às 8:24.

Bramante,

Ir ao SPA como observador é muito interessante. Fiz a mesma coisa faz uns bons anos num local cheio de “energia” num hotel famoso no Guarujá. A responsável pelos eventos possuia até um programa na TV. O tempo passou, mas parece que esses centros de emagrecimento/lazer/esportes continuam os mesmos. Será que existe uma maneira de melhorar tudo isso?

Por Edison Yamazaki
em 21-02-2012, às 19:19.

Roberto e Edison, grato pelos comentários.

Pelo que eu leio do Roberto, sem dúvidas, vc desenvolveu todas as caraterísticas não apenas para atender as demandas dos distintos grupos como “foi além”. Esse “ir além” está ficando cada vez mais difícil de se conseguir. Nem vou falar dos alunos universitários que frente a uma proposta de engajamento de auxílio a uma experiência voluntária, vem a primeira pergunta “quanto eu ganho com isso”, quando poderia estar “aprendendo de graça”… (Por favor, a todos que me leem, compreendo os limites da “utilização de mão de obra barata/escrava”…)
“Será que existe uma maneira de melhorar tudo isso”, foi a pergunta desafiadora do Edison. Acredito que sim. Estou publicando a “parte II” exatamente com algumas pistas concretas.
P.S. Meu caro Roberto, continuo acreditando nessas pesquisas que “estão ocupando as prateleiras”…rs. Sem conhecimento, não há intervenção que trasforme…