Integra

Amigos:

           Recebi alguns e-mails de pessoas que se interessaram por esse assunto do futuro que abordei no texto anterior e uma delas me perguntou “afinal, quais eram esses quinze temas que você identificou em 1990 que poderia impactar o campo do lazer nas décadas posteriores?”.

           Como mencionei, eles se encontram mais bem explicados num capítulo de livro, mas vou, ao menos, listá-los aqui:

1.      O entendimento das dimensões da recreação e do lazer: haverá a

necessidade de, cada vez mais, ampliar esse entendimento para além do senso comum e dos preconceitos existentes;

2.      Defesa dos recursos ambientais: a questão do “desenvolvimento

sustentável” já era levantada nessa ocasião, contrastando os desafios entre a visãoconservacionista e a preservacionista e o quanto o lazer, adequadamente programado nessas áreas mais sensíveis, poderia contribuir no “uso sem abuso”;

3.      Planejamento integrado: pregava a necessidade de se estabelecer a

cooperação, articulação e a organização entre os diversas órgãos prestadores de serviços nessa área para melhor potencializar os escassos recursos nela  alocados, especialmente no setor público,

Política de recursos físicos e equipamentos: a urgência de se

estabelecer estudos de “viabilidade” antes de se implantar as instalações de recreação e lazer para que depois de edificadas, sem o devido planejamento, não se invistisse tantos recursos, visando a “sustentabilidade” das mesmas;

5.      Ampliação dos recursos programáticos: os cuidados para não se

estabelecer uma “monocultura do lazer”, ampliando a oferta de um repertório de experiências mais abrangentes e democratizando o acesso a essas oportunidades, particularmente aos segmentos menos favorecidos;

6.      Formação e reciclagem de recursos humanos na área: destacava a

importância dos profissionais, adequadamente preparados, como a principal alternativa para potencializar os demais recursos, destacando-se a exigência multiprofissional dada a interdisciplinaridade que a área representa;

7.      O exemplo dos profissionais da área: pesquisas realizadas com alunos

que buscavam a pós-graduação na Unicamp na época demonstrava que eram poucos aqueles que vivenciavam uma experiência rica no seu próprio lazer que tanto professavam;

8.      O conhecimento e a participação da comunidade: a necessidade de

desenvolver diagnósticos de necessidades junto a comunidade a ser atendida visando aproximar a oferta da demanda, bem como potencializar a participação dessas pessoas na co-gestão dos processos;

9.      Enfoque mercadológico no planejamento: cada vez mais os gestores de

lazer irião precisar das ferramentas de marketing, até então utilizadas quase que exclusivamente pela iniciativa privada, para melhor atender as expectativas das pessoas que buscam essa área de serviços;

10. Informatização: cresceria seu uso num duplo sentido, tanto para

aperfeiçoar os mecanismos administrativos de registro e controle das aspirações dos usuários desses serviços como também poderiam se transformar em possantes conteúdos para a vivência do lazer;

11. Desenvolvimento de pesquisa na área: seria fundamental ampliar o

escopo e a quantidade das pesquisas no campo do lazer, especialmente as aplicadas, visando subsidiar ações mais qualificadas através de um amplo processo de disseminação dos conhecimentos acumulados;

12. O lar como o principal centro de entretenimento: a combinação perversa

de uma indústria do entretenimento oferecendo crescente número de opções para usufruir o lazer em casa com as dificuldades de mobilidade, segurança e o próprio custo, deveriam fazer do lar um local privilegiado para a vivência das experiências lúdicas;

13. O crescimento do setor privado na recreação: as academias de

ginástica, a transformação dos shopping-centers em espaços seguros de entretenimento, as experiências dos esportes radicais, entre outros, faziam antever a crescente oferta de lazer pela iniciativa privada, até mesmo para suprir (mais) uma lacuna do Estado;

14. Turismo – prós e contras: explorava os cuidados de se manter o equilíbrio

adequado entre a visão essencialmente econômica de exploração das belezas naturais do país com a alternativa de se incluir o “turismo social” na pauta das discussões frente a uma realidade de sutentabilidade dos ambientes naturais e construídos;

15. Prioridade política: embora incluído como um direito de todos na

Constituição, o cenário político, econômico e social da época ensejavam outras prioridades, relegando a dimensão do lazer das pessoas ao mero entretenimento de massa, sem considerá-la como uma alternativa importante e necessária para o desenvolvimento da qualidade de vida dos brasileiros.

           Esse texto escrito em 1990 foi “testado” neste ano por 140 técnicos do SESI que atuam no setor de seis estados brasileiros, verificando seu grau de importância ainda em 2010, bem como o atual grau de desempenho (atendimento às demandas), assim como projetado nessa mesma dupla dimensão (importância/desempenho) para 2030. Os dados dessa pesquisa empírica revelaram que esses tópicos não só continuam importantes com baixo nível de desempenho como serão ainda mais importantes em 2030, com uma projeção, diria, otimista, de desempenho dada pelos participantes desse trabalho.

           Você concorda?

Forte abraço.

Bramante

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