Gravidez: Construção ou Desconstrução do Corpo
Por Johanna Coelho Von Mühlen (Autor).
Integra
INTRODUÇÃO:
Muitas vezes o corpo é estudado de forma técnica, ou seja, tornando-se um objeto de pesquisa quantificável. Não está se questionando aqui a validade ou mérito dessa linha teórica, mas não podemos deixar de lado a natureza dinâmica de nossos sentimentos em relação ao o que é quantificado. Essa "medida" adquire um sentido particular, constituído de valores que foram construídos ao longo da vida. Muito dessa diferença se dá em relação ao contexto social em que o indivíduo participa. Porém, os resultados dos estudos analisados são contestados, muitas vezes pelos próprios autores, pois os mesmos encontraram respostas diferentes para mesma classe social (classes populares) e respostas similares para classes sociais diferentes (quando comparadas as classes populares e a classe média).
O presente estudo vem colaborar com essa discussão a cerca de como o corpo é percebido durante a gestação, tendo como objetivo identificar o significado das mudanças corporais que ocorrem nesse período.
Com a realização desse trabalho acreditamos contribuir para uma melhor compreensão das mulheres no período de gestação e com isso, futuramente, reavaliar os programas de atividades físicas para gestantes, freqüentados na maioria das vezes pelas classes média e média-alta, verificando se eles estão com propostas que atendam não somente o corpo grávido biológico, mas também o corpo grávido dentro do contexto particular de cada gestante.
METODOLOGIA:
A pesquisa é de tipo exploratória com abordagem qualitativa, portanto, realiza uma primeira aproximação com o tema pesquisado, não quantificando os dados obtidos.
A população é composta pelas grávidas que praticam hidroginástica no "Programa de Hidroginástica para Gestantes" da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Parte-se do pressuposto que as grávidas que participam desse grupo de atividade física sejam da classe média pelo fato de cada uma pagar um valor mensal à Universidade. A opção pela análise da classe média se deu em função de terem sido encontrados menos estudos sobre essa parcela da sociedade.
No início de uma aula das gestantes foi feita uma explicação sobre a pesquisa a ser realizada, questionando o interesse das grávidas em participarem da amostra. Das que se dispuseram, foi recolhido um telefone de contato e, posteriormente, foram agendadas as entrevistas individuais. As entrevistas foram baseadas em questionário semi-estruturado. O local de realização da entrevista ficou a critério de cada gestante.
Na discussão e análise dos resultados, os dados são apresentados transcritos, em conjunto com elementos teóricos, realizando assim uma análise de conteúdo do discurso das entrevistadas.
Por tratar-se de um estudo no primeiro momento apenas de caráter exploratório, e baseado no que é relatado durante a entrevista, ele limita-se no que tange a interpretação dos dados obtidos.
RESULTADOS:
As semelhanças entre as grávidas estão dentro dos fatos mais quantificáveis dessa pesquisa: estão grávidas do segundo filho, tem aproximadamente 17 semanas de idade gestacional e relatam estarem casadas. Elas também esclareceram que a gravidez do segundo filho foi pensada/planejada.
As diferenças começam a ser claras quando as gestantes são questionadas quanto aos seus sentimentos em relação ao seu corpo grávido, indo de respostas como "Gosto do meu corpo de grávida" até "Me sinto construindo um novo corpo". Frases como: a barriga atrapalha minha movimentação ou minhas roupas não entram mais, figuram entre as que foram unânimes entre as entrevistadas. Uma relatou que com as mudanças corporais que ocorrem na gravidez o seu corpo não voltará a ser o que era, e outra, coloca que dessa vez (segunda gestação) pretende voltar mais rápido a ter as formas de antes da gravidez.
Uma outra semelhança aparece quando questionadas sobre o porquê de procurar uma atividade física durante a gestação e se essa prática mudou o jeito de enxergarem seu corpo: elas argumentam terem procurado a hidroginástica somente para se exercitarem. Uma gestante relatou que talvez por ser seu segundo filho, não estava procurando no grupo da hidroginástica um momento de troca de relatos, angústias ou experiências. Em um momento informal da entrevista, uma afirmou que a idade da gestante afeta o modo como ela se percebe.
CONCLUSÕES:
Com base nas informações das entrevistadas podemos concluir que o fato de estarem grávidas do segundo filho gera alguns sentimentos semelhantes como o fato de sentirem-se mais seguras, o que fica claro com o não relato de busca do grupo de hidroginástica como um momento de convivência com outras grávidas. Com relação à forma como elas percebem as mudanças que estão acontecendo no seu corpo, as respostas ficam particularizadas e adquirem sentido único para cada um das entrevistadas. O aumento da barriga é a marca corporal mais citada.
Um fato interessante é que uma das grávidas se refere ao seu corpo grávido como um novo corpo e outra como um corpo diferente. Essa discordância aponta para o pensamento que cada grávida dá uma interpretação particular às formas adquiridas durante a gestação.
Popularmente dizemos que a gravidez é um momento em que a mulher prepara-se para a maternidade, o que traria sentimentos agradáveis à futura mãe. Algumas vezes, passa-se desapercebido pelo fato de que com as mudanças corporais que ocorrem nesse período (aumento de peso e outras) possam vir sentimentos que contrastam com esse momento "mágico".
É importante que durante a prática de atividades físicas para essa população, se ressalte a importância do reconhecimento do corpo com novas formas (temporárias) e esse estranhamento corporal se reformule, dando lugar a um pensamento que relativize as formas adquiridas sem perder o sentimento de identidade com o próprio corpo.