Resumo
O futebol, com essa força social de reunir multidões de apaixonados em espetáculos, a partir do seu artista principal, os jogadores, constitui-se em um agente social e de saúde. Tal tese determinou o caráter geral deste estudo, exploratório e descritivo, e orientou seu objetivo, de analisar histórias de vida e o contexto do trabalho de jogadores de futebol e as implicações destes com a produção social de subjetividade e de saúde. Utilizou-se como instrumento para coleta de dados a entrevista semidiretiva, aplicada a 16 jogadores de futebol profissional. Organizou-se a tabulação e análise de dados a partir do modelo de Creswell e o método do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) de Lefèvre e Lefèvre, utilizando figuras metodológicas, expressões-chaves e ideias centrais. A organização do discurso foi realizada em duas etapas de análise: Iniciação no Futebol; e Profissionalização, Carreira e Vida Pessoal. A etapa Iniciação no Futebol admitiu como elementos centrais o Sonho de ser Jogador de Futebol; Vulnerabilidades da Infância; Vulnerabilidade na Iniciação da Carreira; e Apoio familiar e Social; e na segunda etapa Profissionalização, Carreira e Vida: o Contexto do Clube de Futebol; Experiência em clubes estrangeiros; Vulnerabilidade da Persona/Empresários; Ídolo/Persona; Lesões: Mídia; Gestão de Carreira; Gestão Financeira, Transição de Carreira e Aposentadoria. Chamou atenção, particularmente, a importância dada pelos jogadores às vulnerabilidades propiciadas no contexto da profissão. A gestão não profissionalizada dos clubes de futebol interfere negativamente na carreira dos jogadores, não propiciando orientações e acompanhamento desde a iniciação de carreira até a profissionalização e aposentadoria. Vimos que as histórias de vida e de profissão do jogador de futebol como objeto de estudo auxiliam sobremaneira na compreensão do contexto social, político e cultural do futebol no Brasil. O futebol implica na produção social de subjetividades e interfere na construção identitária e social do brasileiro. O sonho de se tornar um jogador de futebol, um ídolo, um herói nacional e um milionário habita o inconsciente coletivo de milhares de jovens no país, contagiando pais, familiares, professores e outros atores sociais, potencializado por um considerável aparato industrial, de mídia e de mercado. Com isso, o futebol ajuda a moldar valores, crenças, atitudes e comportamentos afetando diversas áreas do viver de indivíduos e grupos envolvendo-se direta e indiretamente em seus domínios existenciais. Com sua força motriz o futebol torna-se também ferramenta para programas e projetos de proteção, prevenção, recuperação e promoção de saúde, muitos deles voltados para populações de crianças e adolescentes, inclusive para a formulação de políticas sobre álcool e drogas. O universo do futebol se inclui políticas, legislações e programas internacionais, inclusive da Organização Mundial da Saúde e ações intersetoriais envolvendo os setores público e privado com e sem fins lucrativos. A implementação atual no Brasil de um programa governamental de Promoção de Saúde para Adolescentes e Jovens a partir do futebol com foco na construção de projetos de vida e de futuro, objetiva minimizar as vulnerabilidades sociais. Esta tese busca articular estas diferentes vertentes setoriais, disciplinares e existenciais, tomando as histórias de vida e trabalho dos jogadores para sustentar a ideia de que o futebol pode e deve ser pensado como elemento contributivo para a saúde, para o desenvolvimento dos jovens e para a humanização de seu contexto profissional.