Homenagem ao Prior do Crato
Por Jorge Olímpio Bento (None), Jorge Olímpio Bento (Autor).
Integra
D. António, Prior do Crato (1531 –1595), era filho natural do Infante D. Luís e neto de D. Manuel I. Em 1574 assume o posto de governador da praça de Tânger, e em 1578 acompanha D. Sebastião na campanha em Marrocos.
Após o desaparecimento de D. Sebastião, na batalha de Alcácer-Quibir (4 de agosto de 1578), regressa a Portugal e reclama o trono. A pretensão é negada; o país fica entregue provisoriamente ao velho cardeal D. Henrique, seu tio. Este falece a 31 de janeiro de 1580, precisamente quando as Cortes reúnem em Almeirim para designar o ocupante do trono, disputado por diversos pretendentes. Entre estes destacam-se a duquesa de Bragança (D. Catarina), Filipe II de Espanha, e D. António. Filipe II subornou os ‘grandes’ do reino com o ouro vindo das Américas, e eles (como sempre agem os possidentes!) penderam para o seu lado.
D. António atrai o povo para a sua causa, à semelhança da situação vivida aquando da crise de 1383-1385. A 24 de julho de 1580 é aclamado rei de Portugal pelo povo, no castelo de Santarém. E também em Lisboa, Setúbal e em numerosos lugares. Um mês mais tarde, a 25 de agosto, as suas forças são derrotadas na batalha de Alcântara pelos espanhóis e seus cúmplices.
D. António foge para o Norte, sendo perseguido até Viana do Castelo. Durante 6 meses, abriga-se em mosteiros e em casas de partidários. Em 1581 procura em vão apoio militar na Inglaterra. Em 1582 vai para a ilha Terceira, que havia tomado o seu partido. No continente e na Madeira, o poder era já exercido por Filipe II, reconhecido pelas Cortes de Tomar em 16 de abril de 1581 como Filipe I de Portugal.
Chegado a Angra, D. António mandou de imediato reforçar as defesas da cidade, face à iminência de um ataque espanhol e à ação dos corsários. Na Terceira, tinha ocorrido, em 15 de julho de 1581, a primeira tentativa de desembarque dos espanhóis, dando origem à batalha da Salga, sendo os invasores completamente derrotados. Participaram nessa invasão os escritores Miguel Cervantes e Lope de Vega. Finalmente em 1583, quando D. António já não se encontrava no local, forças espanholas muito superiores logram dominar a ilha, após violentos combates.
D. António exila-se então em França. Depois de alguns meses, desloca-se à Inglaterra, onde negoceia o auxílio da rainha Isabel I, visando tomar Lisboa. Ataca a capital em 3 de junho de 1589, provocando grande estrago. Porém, a armada inglesa, comandada pelo famoso almirante Francis Drake, é atingida pela peste e retira-se. D. António viu assim gorada a tentativa de tomar a cidade, de resto bem guarnecida pelos espanhóis. Parte novamente para o exílio; até à morte em Paris (26 de agosto de 1595), continuou a lutar pela restauração da independência de Portugal.
O fim do domínio filipino consuma-se em 1 de dezembro de 1640, quando D. João, neto da sua prima, a duquesa D. Catarina de Bragança, é aclamado como rei D. João IV. Nesse dia glorioso, Miguel de Vasconcelos, um exemplar dos corifeus e traidores de 1580/81, sofreu a justa punição; e D. António pôde finalmente descansar em paz.