Resumo
Este trabalho tem por objetivo discutir a exclusão feminina do design dos videogames de futebol. Para isso investigamos os dois jogos mais vendidos no Brasil intitulados Pro Evolution Soccer e FIFA Soccer. A pesquisa se desenvolveu em três momentos. Primeiro observamos a prática de jogo de quatro alunos e uma aluna de uma escola pública a fim de analisar o design do jogo e sua relação com os jogadores. Em seguida fizemos um estudo bibliográfico, buscando identificar porque tais jogos excluem o futebol feminino. Foi possível evidenciar diversos contextos que contribuem direta ou indiretamente para essa exclusão. Por último, propusemos uma atividade sobre a exclusão do futebol feminino para os alunos da mesma escola para investigar como eles entendiam essa exclusão no futebol físico e no futebol digital. O trabalho teve como principais referências as pesquisas de Consalvo (2013) e Bryce, Rutter e Sullivan (2006), Crawford (2009) e Crawford e Gosling (2005) sobre identidade de gênero e videogames esportivos. Percebemos que a exclusão do futebol feminino não pode ser atribuída a um fator isolado. Os dois videogames buscam reproduzir a realidade do futebol e a transmissão do esporte pela televisão a partir de contextos em que o futebol feminino tem sido marginalizado. Além disso, o público feminino não tem sido considerado pelas empresas produtoras como um público-consumidor ideal, apesar de seu grande potencial de consumo. Como consequência da exclusão do futebol feminino do design dos videogames de futebol, os jogos eram percebidos como diversão masculina, afastando as mulheres da prática de jogo e os alunos-jogadores tinham pouco conhecimento a respeito da modalidade feminina. Portanto, é preciso ressignificar os videogames de futebol para além da mera diversão, pois eles podem contribuir para consolidar valores e conceitos tradicionais que colocam a mulher em posição desvantajosa no esporte e na sociedade.