Resumo

Existe um perfil de torcedor de futebol que tem como prática torcer por um time de seu estado e por outro, sediado em uma região diferente. Ele é pejorativamente chamado de “torcedor misto”. Essa alcunha foi criada por torcedores que não concordavam com esse modo de se torcer. O perfil de torcedor “misto” existe em praticamente todos os estados do Brasil. Essa realidade fez com que, desde 2008, alguns grupos de torcedores, contrários àquele modo de se torcer, organizassem faixas, camisetas, vídeos e comunidades virtuais para mostrar seu ponto de vista e estimular os “mistos” a torcerem somente por um time de seu estado. Esse movimento, conhecido como “anti-mistos”, teve início na região nordestina, tendo como uma de suas sentenças de maior repercussão aquela que classifica os “mistos” como “A vergonha do Nordeste”. Este trabalho tem como objetivo compreender algumas das situações sociais, históricas e subjetivas que estimulam o advento deste perfil de torcedor, tomando como recorte a Região Nordeste. Analisando o futebol brasileiro como um campo (Bourdieu), constatou-se que os times que detém os principais tipos de capital e são mais ativos nas instituições desse campo - sendo dominantes - são clubes de Rio de Janeiro e São Paulo. Os clubes nordestinos e das demais regiões ocupam a condição de dominados. Essas situações tornam os clubes dominantes bastante atraentes ao fã do esporte, que também vê na escolha do time uma forma de conseguir reconhecimento e distinção. As principais emissoras de TV do país são sediadas nos estados de Rio de Janeiro e São Paulo. Através de sua rede de afiliadas pelo território nacional, diariamente levavam aos fãs de futebol por todo país considerável quantidade de informações sobre os clubes daqueles estados, incluindo transmissões ao vivo de suas participações em torneios brasileiros e internacionais. Essa presença constante na mídia ajuda esses clubes a se tornarem simbolicamente muito próximos do dia a dia do torcedor nordestino, mesmo que geograficamente distantes. Essa proximidade contribui para que esse torcedor não interprete aqueles clubes como algo que “pertence aos outros” (argumento recorrente entre os “anti-mistos”), mas sim alguma coisa da qual ele também pode fazer parte.

Acessar Arquivo