Resumo

A execução de duas tarefas simultâneas, como jogar um pequeno jogo (PJ) e contar o número de passes do seu próprio time, é denominado na literatura como tarefa dupla, sendo classificadas respectivamente como tarefas cognitivas ou motoras. Objetivos: Avaliar o impacto da realização de tarefas duplas sobre a coordenação interpessoal de jogadores de futebol durante PJ. Referencial teórico: Tem sido reportado na literatura que a realização de tarefas duplas aumenta as exigências atencionais dos atletas (LAURIN; FINEZ, 2019). Como consequência, pode gerar um custo (diminuição aguda) no desempenho. Porém, o treinamento com tarefas duplas pode trazer benefícios ao desempenho a longo e médio prazo (MOREIRA et al., 2021). A coordenação interpessoal, caracterizada pela sincronização de movimento de dois ou mais jogadores vem sendo utilizada para avaliar o desempenho tático de jogadores de futebol. Desta forma, vale a pena observar se a execução de tarefas duplas modifica a coordenação interpessoal de jogadores de futebol. Materiais e métodos: A amostra foi composta por 36 atletas de duas equipes de futebol da cidade de Belo Horizonte que participam do modulo I do campeonato estadual da categoria. Os atletas realizaram, quatro protocolos experimentais: 1) Tarefa simples (TS), 2) Tarefa Dupla Motora (TDM), 3) Tarefa Dupla Cognitiva 1 (TDC1), 4) Tarefa Dupla Cognitiva 2 (TDC2). As quatro condições experimentais foram realizadas durante PJ com a estrutura GR+3 vs. 3+GR. A dinâmica posicional foi analisada via GPS de 10 Hz da marca Catapult e processados no MATLAB. Foram avaliados os padrões de coordenação em comprimento e largura, identificados, como: anti-fase (jogadores se movimentando em direções opostas) e em-fase (jogadores se movimentando na mesma direção). Os dados foram analisados por meio do ANOVA one-way de medidas repetidas e post-hoc de Bonferroni. O nível de significância adotado foi de p <0,05. Resultados e Discussão: O percentual de tempo em sincronização em comprimento em anti-fase foi maior no protocolo TS quando comparado ao TDM (p=0,047). No percentual de tempo em sincronização no comprimento em-fase não foi observada diferença significativa entre os protocolos (p=0,591). O percentual de tempo em sincronização em largura em anti-fase foi menor nos protocolos TDM e TDC2 em comparação aos protocolos TS (p><0,001; p=0,005) e TDC1 (p><0,001; p=0,006). O percentual de tempo em sincronização em largura em-fase foi maior no protocolo TS quando se comparado ao protocolo TDM (p=0,049). Esses resultados confirmam os achados da literatura de que a realização da tarefa dupla motora geraria maior concorrência com os PJ (tarefa principal), consequentemente gerando maior custo no desempenho tático, uma vez que os atletas tiveram menor percentual de tempo em sincronização no protocolo TDM. Conclusão: Os resultados sugerem que a tarefa dupla motora gera impacto na coordenação interpessoal de jogadores de futebol durante PJ. Esse trabalho apresenta possibilidades da utilização de tarefas duplas realizadas durante PJ como tarefas de treino com o objetivo de aumentar as exigências atencionais do jogador. Essas tarefas podem auxiliar treinadores durante o processo de treinamento, otimizando o desempenho motor e cognitivo dos jogadores de futebol.

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