Resumo
Esta pesquisa objetivou investigar, por intermédio de um programa de formação continuada no âmbito da cultura corpora l de movimento, as possíveis implicações no repensar e na transformação da prática pedagógica de um grupo de professoras no que diz respeito ao ensino dos conteúdos da área de Educação Física. A investigação, de natureza qualitativa,teve como referencial empírico um programa de formação continuada realizado por uma Universidade pública em parceria com uma Secretaria Municipal de Educação do interior paulista. Ao longo de dois anos e meio o material empírico foi constituído com observações de campo do programa, análises documentais, questionários, entrevistas semiestruturadas,relatos orais e escritos e observações da prática pedagógica de um grupo de professoras.Participaram da primeira etapa das coletas sessenta e dois professore s(as) da rede de ensino com formação em Pedagogia ou Educação Física, sendo que oaprofundamento da investigação focalizou um grupo de catorze professoras Pedagogas e oito estudantes-monitores(as) do curso de Licenciatura em Educação Física. Com fundamentação naanálise de conteúdo, as considerações tecidas à luz da literatura revelaram que dentre as principais dificuldades dos professores(as) em relação a área da Educação Física predominou a falta de domínio dos conhecimentos específicos, procedimentos didático-pedagógicos e embasamento teórico, sendo que corresponde a esses fatores as suas expectativas de formação continuada. A partir da avaliação do programa, realizada pelas professoras, verificou-se uma composição multidimensional da satisfação, com destaque para o desenvolvimento da ação formativa na perspectiva da colaboração entre os sujeitos envolvidos. As possíveis mudanças na prática pedagógica, de acordo com as percepções das professoras, resultaram do aprofundamento dos conhecimentos acadêmico-científicos do movimento corporal, como o domínio dos objetivos, conteúdos e procedimentos didático-pedagógicos, a sistematização, o embasamento teórico e a análise crítica da cultura corporal de movimento. Também evidenciaram-se novos olhares para a criança como sujeito social e a compreensão do movimento corporal como linguagem infantil. As vivências corporais desenvolvidas na formação im pulsionaram o despertar da corporeidade, atuando como um elemento construtor de um novo olhar tanto para si como para o outro. Finalmente, outra implicação do programa consistiu na (re)construção da identidade docente ao favorecer reflexões sobre o que significa ser professor. Constatou-se que os elementos propícios da formação continua da a agregar mudanças na prática pedagógica reportam à construção de espaços para o(a) professor(a) atuar ativamente na condução da ação formativa, à prática pedagó gica como o eixo orientador da formação, a aprendizagens compartilhadas entre Universidade e Escola, à continuidade das ações formativas em superação a atividades pontuais e ao entrelaçamento da formação com o desenvolvimento profissional docente. Entretanto, evidenciou-se a não incorporação plena da autonomia pelas professoras na condução da formação, o que enseja o protagonismo do professor para tornar a formação elemento intrínseco à profissão, contribuindo para fortalecera identidade docente. Ademais, construções coletivas se mostraram propícias para uma formação que vise a emancipação e não a instrumentalização do professorado, reafirmando a corresponsabilidade de professores, pesquisadores, gestores e outros atores educacionais e sociais para alicerçar projetos e ações educacionais integradas