Importância da Pesquisa na Graduação Atrvés do Estudo de Caso do Colégio Estadual
Por Evânia Nunes de Angeli (Autor).
Em VI EnFEFE - Encontro Fluminense de Educação Física Escolar
Integra
Este estudo tem como objetivo central constatar como se desenvolve a prática da Educação Física em uma escola pública do estado do Espírito Santo e, secundariamente, mostrar para alunos de graduação em Educação Física a importância de se estabelecer um elo entre os estudos realizados dentro de sala de aula e as pesquisas realizadas fora dela.
Para se entender a relevância do meu estudo, é importante descrever como aconteceu todo o processo da pesquisa da qual participei.
Em agosto de 2001, iniciamos no LESEF a pesquisa "Itinerários da Educação Física na Escola - O caso do Colégio Estadual do Espírito Santo", que foi um estudo de caso de caráter empírico com o objetivo central de resgatar o percurso da Educação Física nas décadas de 70, 80 e 90, do século XX, no Colégio Estadual, destacando os discursos e as práticas que a mesma utilizou para justificar-se no currículo escolar. Esta pesquisa foi realizada pelos bolsistas do Laboratório de Estudos em Educação Física (LESEF), do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD), da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), do qual faço parte e tem previsão para ser finalizada em julho de 2002, estando, portando, em fase de conclusão.
Em meados de janeiro, por solicitação do professor da disciplina Educação Física Escolar II, do Curso de graduação em Educação Física da UFES, iniciamos (como alunos dessa disciplina) uma pesquisa mais restrita, que deveria ser realizada numa escola e que nos levasse a, conhecer a realidade da Educação Física no interior da escola. Essa pequena mas significativa, pesquisa foi, juntamente com outros trabalhos, requisito parcial para a conclusão da referida disciplina.
Intencionalmente, a escola escolhida por nós foi o Colégio Estadual, que naquele momento já nos oferecia suporte, visto que já conhecíamos parte de sua história, por meio da pesquisa anteriormente mencionada, que vinha se realizando no LESEF. Escolhemos esse Colégio por percebermos que uma pesquisa seria estimuladora e facilitadora da outra e que haveria uma troca de informações que possibilitaria maior entendimento do nosso objeto de estudo.
O Colégio Estadual foi escolhido como objeto de estudo em ambas as pesquisas por sua tradição em Educação Física e por ter estrutura física privilegiada em relação às outras escolas públicas da cidade.
A pesquisa "A Educação Física na realidade escolar no Estado do Espírito Santo: um estudo de caso do Colégio Estadual" desenvolvida por solicitação da disciplina Educação Física Escolar II, sobre a qual descreverei a partir de agora e a pesquisa desenvolvida no LESEF, possibilita a visualização de como a Educação Física era desenvolvida nas décadas de 70, 80 e 90 nesse Colégio e de como essa disciplina vem sendo desenvolvida atualmente.
Metodologia
Os dados da pesquisa proposta na sala de aula foram obtidos através de uma entrevista feita com a diretora, duas com professores de Educação Física, três com professores de outras áreas (escolhidos aleatoriamente), uma entrevista informal com a coordenadora e questionários aplicados a 15 alunos, sendo cinco alunos de cada série (1º, 2º e 3º ano do ensino médio), todos do turno vespertino. Coletamos dados junto à secretaria da escola sobre a estrutura física da mesma, além de informações sobre o contingente escolar.
Resultados e discussão
Através dos dados coletados, pudemos analisar as informações seguindo as seguintes matrizes: a) A importância da Educação Física na Escola, b) A visão da Educação Física, c) Os conteúdos das aulas de Educação Física, d) O modo de avaliação da Educação Física, e) A participação nas aulas de Educação Física, f) Sobre reunião pedagógica, g) A relação afetiva entre aluno e professor e h) As mudanças necessárias na área. Essas matrizes serão discorridas a seguir, respectivamente.
a) Os alunos pesquisados disseram que a Educação Física na escola tem o intuito de proporcionar mais disposição e melhor saúde, sendo uma forma de exercitar o corpo e melhorar o condicionamento físico para evitar o sedentarismo. Encontramos também alunos que não vêem nenhuma importância nessa disciplina. Na opinião dos professores das demais áreas, a Educação Física torna-se importante na medida em que educa os alunos, proporciona a saúde do corpo, é uma atividade de recreação, e promove a integração entre os alunos. Eles concordam com os alunos ao considerarem a Educação Física colabora na luta contra o sedentarismo. Quanto à opinião da diretora, optamos por citar a sua fala: "ajuda o adolescente a, nem sei a que, mas ela desenvolve de modo geral o físico e o intelecto...".
Notamos em suas palavras que a diretora não possui uma idéia clara sobre a Educação Física na escola.
De acordo com o professor de Educação Física, o fundamental para o desenvolvimento dos alunos nesta disciplina é a parte psíquica, psicomotora e motora. A interação com as outras disciplinas ajudam na liberdade de expressão, elimina o estresse e trabalha a memorização e a timidez.Observamos que o professor se importa com a combinação entre as áreas cultural e pedagógica nas aulas de Educação Física. Ele gostaria de revitalizar a Educação Física como prática esportiva, e por isso julga-se cético por buscar melhorias sozinho, e reclama da má remuneração, citando, inclusive, que na visão de outros professores a Educação Física atrapalha, ao invés de ajudar.
O outro professor entrevistado foi o de natação que não soube nos dar informações precisas acerca da Educação Física, já que a natação é, no Colégio Estadual, um conteúdo à parte, que não diz respeito às aulas de Educação Física, não participando, portanto, em nenhum momento do processo de ensino e aprendizagem da mesma.
b) Segundo a diretora da escola, "o esporte faz parte da vida, sem ele o adolescente não viveria". Na a visão dos alunos é que a Educação Física poderia ser melhor, porque o professor deixa a desejar dando-lhes as bolas, o que torna a aula "bagunçada". Porém para eles há uma diversão, recreação nas aulas.
c) Muitos alunos não souberam descrever quais são os conteúdos da Educação Física, enquanto outros acreditam ser esporte, competição, socialização. A diretora confirma que os conteúdos dessa disciplina na referida escola são modalidades esportivas como vôlei, basquete, futsal, handebol e natação. Já para o professor de Educação Física são regras, fundamentos e as práticas esportivas.
d) A forma de avaliação mais citada pelos alunos é a presença nas aulas, a participação e o desempenho, mas alguns não souberam responder a essa questão. A freqüência do aluno e a técnica são os critérios utilizados pelo professor de Educação Física como forma de avaliar o aluno.
e) De acordo com os alunos, o nível de participação deles nas aulas de Educação Física se dá em função de seu gosto pelo jogo, pois só quem freqüenta as aulas são os alunos que gostam de jogar.
f) Ao interrogarmos a direção escolar a respeito da reunião pedagógica, detectamos que, após a reformulação do ensino médio que retirou o horário de planejamento da carga horária do professor, a reunião pedagógica é feita em horário de aula, por isso as reuniões não são muito freqüentes. O professor de Educação Física citou que as reuniões pedagógicas ocorreram uma vez por ano, e que a cada bimestre há uma reunião por área.
g) Quanto à afetividade entre alunos e professores, o autoritarismo do professor e a desmotivação se faz presente nas aulas, mesmo assim os alunos dizem que gostam do professor de Educação Física. Segundo a diretora, a relação entre ela e os professores não é totalmente boa, por que "essa escola é uma pequena cidade, são 3000 alunos, aproximadamente 100 professores, 50 funcionários, pra você ter um relacionamento 100% com toda essa população, você teria que ser melhor que Deus".
Apesar de os professores de outras áreas relatarem que suas relações com os professores de Educação Física são as melhores possíveis, observamos que estes são motivos de ironia entre professores e coordenadores. Observamos também que os alunos ironizam um certo professor de Educação Física, apelidando-o de "Pardal", pois "canta as meninas". Mas os professores de Educação Física dizem que são amigos dos alunos.
h) Os alunos sugerem que a aula tenha mais dedicação por parte do professor e deles alunos, organização, dinamismo e criatividade do professor, como um número maior de aulas com outras opções de esporte, já que são sempre os mesmos que são dados, como relata um aluno: "pra que um ginásio poliesportivo se a gente só tem aula de futsal?".
Os professores de outras disciplinas citaram que poderia haver um número maior de atividade física durante a aula e deveria haver uma mudança na prática pedagógica do professor de Educação Física. O número excessivo de alunos por aula, é citado pela diretora como uma dificuldade enfrentada pelo professor em ministrar uma boa aula. O professor de Educação Física diz serem necessárias várias mudanças, como a revalidação da Educação Física como prática desportiva, um professor exclusivo para o treinamento esportivo; aumento no número de aulas semanais, acréscimo aos conteúdos das aulas de noções de fisiologia, higiene e fundamentações teóricas, com uma integração interdisciplinar, que reforçasse a importância da Educação Física para a saúde e para a socialização, e que todos motivassem os alunos a fazerem as aulas. Esses deveriam ver a Educação Física como uma disciplina a ser feita por prazer e gosto, e que não reforçassem a freqüência como forma de reprovação.
Considerações finais
Depois de apresentados os dados e, com base neles, podemos dizer que a situação caótica em que se encontra o ensino de Educação Física no Colégio Estadual não é responsabilidade apenas dos professores. Esse caos é conseqüência, também, da falta de horário específico para o planejamento, advinda de uma política pública educacional defasada que não disponibiliza ao professor horário para estudo e para a preparação da aula, diferentemente do que fora um dia no Estado do Espírito Santo e, conseqüentemente nesse Colégio.
É importante destacar que o estado em que se encontra a Educação Física tão - glorificada no passado no Colégio Estadual - deve-se não só ao fato de os professores não disporem de tempo para o planejamento das aulas, mas de voltarem a essa disciplina totalmente para o esporte, seja em competições, seja nas aulas. A esportivização da Educação Física contava/conta com o apoio de toda a comunidade escolar, inclusive com o apoio do próprio governo do Estado, como pudemos constatar na pesquisa desenvolvida pelo LESEF.
A falta de formação continuada é mais um fator que contribui para uma prática não condizente com a proposta crítico-superadora que é a proposta pedagógica do nosso estudo. Tampouco podemos omitir o fato de que o professor pode não estar interessado na mudança de sua prática.
Concluímos, a partir dessa pesquisa, a importância de se elaborar um plano que intervenha na prática pedagógica da Educação Física desse Colégio, baseado na proposta pedagógica crítico-superaddora, a fim de dar subsídios teóricos aos professores das disciplinas em suas práticas.Esse plano contribuirá para os professores com reflexões acerca de outros conteúdos, métodos, avaliação e planejamento das aulas de Educação Física, auxiliando-os na relação professor/aluno, proporcionando uma maior participação dos alunos nas aulas e oportunizando uma efetiva utilização das instalações do Colégio.
Esta pesquisa "A Educação Física na realidade no Espírito Santo: um estudo de caso do Colégio Estadual", estando aliada e intimamente ligada à pesquisa "Itinerários da Educação Física na escola: O caso do Colégio Estadual" foi de grande valia para o crescimento dos pesquisadores/bolsistas envolvidos em todo o processo de estudo e que, interessados num resultado gratificante e no próprio crescimento acadêmico, se viram diante de situações-problemas que os fizeram ler, estudar, discutir e refletir acerca de tais situações.
Foi possível observar, e confirmar, a importância desse tipo de pesquisa como elemento de formação para um futuro profissional, bem como constatar a relevância de se buscar fora de sala de aula, seja em campo ou em dados bibliográficos, algo que foi proposto em aula.
Obs. A autora, Evânia Nunes de Angeli, é membro acadêmico do LESEF/CEFD/UFES e bolsista PET
Referências bibliográficas
- Caparroz, Francisco Eduardo. A produção teórica elaborada nos anos 80/90 sobre a educação física escolar: a crítica da determinação das estruturas macrossociais. Elementos para repensar a trajetória histórica da educação física na escola. In Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, Goiânia, V.l, p.72, outubro, 1997.
- Soares, et al. Metodologia do ensino de Educação Física (Coletivo de Autores). São Paulo: Cortez, 1992.