Resumo

Rev Port Cien Desp 6(1) 127–130 129 Nas últimas imagens do filme O ÚLTIMO SAMURAI, há uma troca de palavras entre o “artista” e o imperador. Pergunta o imperador: diz-me como morreu o meu mestre. A resposta não se fez esperar: prefiro falar-te do modo como viveu. Este PEDAÇO DE CONVERSA, que é de grande importância acerca do modo como nos referimos aqueles que já não partilham connosco o mundo das formas, mas sim DOS NOMES E DOS SENTIDOS MAIS ÍNTIMOS, é para mim muito importante. Precisamente porque gostaria de escrever algumas linhas, e muito breves, sobre um amigo da nossa Faculdade, um dos maiores investigadores do mundo acerca do exercício em idades pediátricas, uma voz sempre escutada, e com muita atenção, em qualquer lugar – o PROF. ODED BAR-OR. Guardo com especial carinho a participação num congresso na África do Sul em 1995, por ter tido grandes companheiros nesta aventura (o Manuel António, o António Prista e o Leonardo Nhantumbo). Entre investigadores prestigiados de várias partes do globo, contava-se o Prof. Oded Bar- Or. Numa das noites, em plena savana, e junto a uma fogueira que não se extinguiu, tive a honra de conversar longamente com o Prof. Oded Bar-Or sobre a sua e a minha vida, acerca da sua formação enquanto médico em Israel, e como investigador nos EUA e Canadá. Falou-me de muita coisa, sobretudo do modo como se deve estar na vida académica, das várias maneiras como deveríamos responder aos desafios que nos colocam, mas acima de tudo acerca da atitude a ter com a investigação com crianças e jovens. Das etapas que tal atitude consignam, sobretudo da utilidade do trabalho, uma espécie de “apostolado” à volta das crianças. Sempre ao seu serviço, sempre uma voz a defender os seus interesses. Sempre presente e disponível. Também em 1995 tive a honra de participar na organização, na FCDEF, de um seminário internacional que contou com a presença de vários amigos da nossa escola: os Profs. Gaston Beunen, Albrecht Claessens, Martine Thomis, António Prista, Sieuve Monteiro e Jorge Sequeiros. Também estava presente o Prof. Oded Bar-Or. Foi a primeira vez que veio ao Porto. Rapidamente se enamorou das suas gentes e desta cidade. Bem mais importante foi a sua disponibilidade em estar ao nosso lado. E sempre assim foi. Esteve connosco cerca de uma semana. Mais uma vez tive a honra de o acompanhar, de partilhar a sua presença, a sua atenção e interesse relativamente a tudo que se fazia na FCDEF. Sobre os seus docentes, alguns dos quais se tornariam, também, seus amigos. Em 2003 realizamos no Porto o Pediatric Work Physiology honrando a sua presença. Uma festa em torno do seu nome. Com a presença de alguns dos mais destacados investigadores do mundo e seus amigos (Professores Claude Bouchard, Robert Malina, Gaston Beunen, Cameron Blimkie, Thomas Rowland, entre outros). Nessa semana de Setembro vivemos numa festa contínua de ciência e de grande amizade. De descoberta e de exposição da amizade forte dos nortenhos e dos amigos da FCDEF. Prestamos-lhe, à nossa maneira, uma homenagem. O Prof. Oded Bar-Or passou a ser da nossa família. Ficou encantado, comovido. Penso que o seu coração, e o da sua esposa, passaram a ter um espaço portuense. Que não conseguiram apagar. Em 2005 recebi a notícia que já não se encontrava mais entre aqueles que convencionalmente designamos por “mundo dos vivos”. Não é verdade. Se o Prof. Oded Bar-Or fosse exclusivamente o seu corpo físico tal seria verdade. Mas não é. Este querido amigo e Professor está também na nossa escola sempre que nos lembrarmos dele, sempre que invocarmos o seu nome, sempre que tivermos à mão um dos seus escritos, sempre que pensarmos em crianças e exercício, sempre que pensarmos neste querido amigo que também faz parte do “corpo docente” da FCDEF. Gosto muito de um livro de poesia do grande poeta sul-americano Amado Nervo, cujo título é precisamente “Plenitude”. Nele escreve acerca da morte. Alguns dos seus versos rezam assim: Choras os teus mortos Com tanta intensidade Que até parece que és eterno. Não morreram! Partiram antes. Deixa que ao menos Repousem nos verdes campos da Paz, Os seus pés de tanto andarem. Não sei se conseguiremos preencher o seu espaço, tal era a sua grandeza. Fazes-nos muita falta, querido amigo. Mas também sei, que o facto inelutável desta “ausência” nos torna mais vigilantes, disponíveis e responsáveis para segurarmos o facho que firmemente tiveste na mão.