Resumo

Introdução: A quantidade mínima de atividade física necessária para obter benefícios para a saúde já foi amplamente determinada. Diferentemente, a influência da atividade física vigorosa/muito vigorosa (AFVMV, ≥ 6 equivalentes metabólicos) na saúde cardiovascular permanece controverso, sobretudo considerando seguimento de curto prazo. Objetivo: Avaliar a influência da AFVMV na variabilidade da frequência cardíaca (VFC) em adultos seguidos durante dois anos. Metodologia: Foram selecionados 1.290 indivíduos assintomáticos (60% mulheres, 42 ± 14 anos, 28 ± 6 kg/m2) do Estudo Epidemiológico do Movimento Humano (EPIMOV). Destes 754 voltaram para as reavaliações após um ano e 498 retornaram após dois anos de seguimento. Os participantes foram avaliados quanto à VFC em decúbito dorsal por 10 min, e selecionamos uma janela intermediária de 5 min para a análise. Foram quantificados o desvio padrão dos intervalos RR, raiz quadrada da média dos intervalos RR (RMSSD), potências das bandas de baixa e alta frequência e desvios padrão do gráfico de Poincaré. Os participantes usaram um acelerômetro triaxial (Actigraph GT3x+) acima do quadril dominante por 4-7 dias consecutivos para quantificar a quantidade e intensidade da atividade física habitual. Também avaliamos diretamente o consumo máximo de oxigênio (VO2max) durante um teste de exercício cardiopulmonar em esteira. Os participantes foram estratificados em cinco grupos de acordo com o AFVMV em min/semana (grupo 1, ≤ 1,30; grupo 2, 1,31-2,83, grupo 3, 2,84-6,83; grupo 4, 6,84-27,91; e grupo 5, > 27,91). Utilizamos modelos lineares múltiplos de efeitos mistos considerando as transformações logarítmicas da VFC e a frequência cardíaca de repouso (FCrep) como desfechos, os grupos de AFVMV e o tempo de seguimento como fatores fixos e os participantes como efeitoaleatório. Idade,sexo,riscocardiovasculareVO2maxforamajustadoscomocovariáveis.Resultados:AAFVMVassociou-secomalteraçõespositivasprogressivasdo RMSSD e da FCrep ao longo de dois anos de seguimento. Para o RMSSD, o grupo 5 não foi significativamente melhor que o grupo 4. Diferentemente, para a FCrep, o grupo 5 apresentou valores ainda melhores que o grupo 4 (p < 0,05) (Figura 1). Não houve efeitos significativos da AFVMV para as outras variáveis no curto follow-up do presente estudo. Contudo, observamos melhor VFC com o aumento da AFVMV para todos os índices de VFC estudados (p for trend < 0,05). Entretanto, o grupo 5 não diferiu do grupo 4 (p > 0,05) para nenhum dos índices como efeitos fixos. Conclusão: Podemos concluir que apenas 27 min/semana de AFVMV são suficientes para melhorar a VFC e a FCrep de adultos, com benefícios progressivos em curto prazo (i.e., apenas dois anos). Os resultados obtidos sugerem não haver efeitos deletérios da AFVMV para a modulação autonômica de adultos assintomáticos em curto prazo e, portanto, devem ser encorajadas para a prevenção de doenças cardiovasculares.

Acessar Arquivo