Resumo

INTRODUÇÃO: A verticalização da cabeça contra a gravidade constitui um importante marco do desenvolvimento motor e é uma das principais metas para adquirir o controle postural. Um dos sistemas sensoriais importante para a manutenção da postura é o sistema vestibular, o qual participa, além da manutenção da própria postura, na regulação do equilíbrio, do tônus muscular e da posição da cabeça no espaço. As crianças com paralisia cerebral (PC) apresentam atraso para o desenvolvimento do controle postural e consequentemente no controle cervical, devido a diversos fatores. Favorecer o controle cervical nestas crianças é essencial para que elas tenham melhor contato visual e interação com o meio onde vivem. OBJETIVO: O objetivo geral do presente estudo foi verificar os efeitos de um programa de intervenção de estimulação vestibular no controle cervical e no perfil sensorial de crianças com paralisia cerebral classificadas com nível V segundo o Sistema de Classificação da Função Motora Grossa (GMFCS). MÉTODOS: Vinte e uma crianças com idade de 9 a 35 meses foram aleatoriamente alocadas em dois grupos: Grupo Controle (composto por crianças submetidas a intervenção motora baseada no conceito neuroevolutivo Bobath – 1 vez por semana durante 30 minutos/ 8 semanas) e Grupo Experimental (composto por crianças submetidas a intervenção motora idêntica ao grupo controle, além de um programa de estimulação vestibular domiciliar com um balanço comercial tipo jumper – 5 vezes por semana/ duração de 8 semanas). As avaliações do controle cervical e do perfil sensorial foram realizadas antes (Avaliação Pré Intervenção) e após (Avaliação Pós Intervenção) o período de intervenção proposto para os dois grupos. Para a avaliação do controle cervical foi realizada a análise cinemática da cabeça por meio do tempo de elevação (em segundos) e de sustentação da cabeça (em segundos) na posição prona. Para a análise cinemática da cabeça as crianças eram posicionadas em prono com o uso de um rolo de espuma com 15 cm sob as axilas e com o pescoço pendente, permitindo que a criança o movimentasse livremente. Foi utilizado uma câmera tipo webcam posicionada na lateral e à direita da criança para identificar o início e o final de cada movimento de extensão da cabeça, o qual era estimulado por um objeto luminoso e musical. O brinquedo era apresentado durante 1 minuto, na linha média, na altura dos olhos da criança em uma distância de no máximo 20 centímetros. Após o movimento de extensão da cabeça, a examinadora permanecia movimentando o objeto a fim de eliciar a permanência da posição da cabeça em extensão. Para a análise do perfil sensorial utilizou-se o instrumento Initial Development of the Infant/Toddler Sensory Profile 2 (ITPSP 2). O ITSP2 é um questionário, realizado por meio de entrevista com os pais ou cuidadores da criança que possam informar sobre o processamento sensorial e o desempenho nas atividades diárias. As variáveis analisadas no presente estudo foram: a) controle cervical: tempo de elevação da cabeça (em segundos) e tempo de sustentação da cabeça (em segundos); b) perfil sensorial: apresentadas por meio de frequência de ocorrência de cada uma das seguintes categorias - baixas registro, procura sensorial, sensibilidade sensorial e evitamento/ fuga sensorial, além das categorias de processamento sensorial (geral, auditivo, visual, tátil, movimento, oral e comportamento). Tais variáveis eram divididas em comportamentos semelhantes aos desempenhos típicos e diferentes do esperado. Para a análise dos dados, considerou-se a comparação das variáveis entre as avaliações Pré e Pós intervenção. Foi realizado o teste ANOVA one way com pos hoc de Tukey para análise dos dados cinemáticos, e o teste McNemar na avaliação das concordâncias das variáveis categóricas do perfil sensorial. RESULTADOS: Ao comparar as avaliações pré e pós intervenção pôde-se observar que as crianças do grupo experimental obtiveram maior tempo de sustentação da cabeça comparada com as crianças do grupo controle. Com relação ao tempo de elevação da cabeça não houve diferença entre os grupos controle e experimental. Na comparação entre as avaliações pré e pós intervenção do perfil sensorial, não foi encontrada diferença significativa em nenhuma das variáveis analisadas. CONCLUSÕES: Os resultados sugerem que a estimulação vestibular favorece a manutenção do controle de cabeça na posição prona em crianças com paralisia cerebral classificadas com GMFCS nível V, no entanto, não foi suficiente para modificar o perfil sensorial de crianças com PC.

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