Resumo

INTRODUÇÃO: O crescente aumento nas taxas de cesáreas, observado no Brasil a partir da década de 1970, se tornou motivo destaque de discussão tanto entre os especialistas quanto entre pessoas preocupadas com os aspectos psicosocioantropométricos desse fenômeno. A indicação das cesarianas desnecessárias vem aumentando exponencialmente e o Brasil ganha destaque juntamente com a China por compreenderem quase 50% da taxa mundial das cesáreas eletivas. Ao pensarmos no parto como via de nascimento de um bebê, é possível relacioná-lo com implicações que essa via possa trazer para o lactente. A literatura aponta que bebês nascidos de cesárea apresentam maiores riscos de internação em Unidade de Terapia intensiva, além de 20% maior chance de desenvolver asma e diabetes tipo 1 na infância e adolescência, bem como complicações de natureza alérgica e relacionadas à obesidade. Há também estudos que relacionam o uso da anestesia nos parto natural e na cesárea a possíveis implicações no desenvolvimento motor infantil. Como o desenvolvimento motor ocorre de forma dinâmica e manifesta a integridade e funcionalidade do sistema nervoso central, ele sofre influência tanto de estímulos internos quanto de fatores ambientais, os quais podem aumentar a probabilidade de déficits no desenvolvimento neuropsicomotor na infância. Embora existam estudos que abordem as vias de nascimento e os relacionem com o desenvolvimento motor, pode-se observar que não há um consenso quanto aos seus efeitos no desenvolvimento infantil. Assim, o presente estudo teve como objetivo verificar a influência da via de nascimento sobre o desenvolvimento motor de lactentes a termo nos primeiros quatro meses de vida. MÉTODOS: O presente estudo teve uma amostra por conveniência e se constituiu por 109 lactentes a termo de ambos os sexos, nascidos de parto vaginal ou de cesárea. As variáveis analisadas foram a preensão palmar por meio do MFLEX, o desenvolvimento motor por meio da Alberta Infant Motor Scale (AIMS) e o controle postural por meio Test of Infant Motor Performance (TIMP). Os dados foram analisados por meio do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 22, adotando significância o valor de p < 0,05. Foi realizado o teste de normalidade dos dados Shapiro Wilk para as variáveis numéricas e, pela ausência de normalidade em algumas variáveis, optou-se por realizar testes não paramétricos para todas as variáveis. Desta forma, foi realizado o teste não paramétrico Mann Whitney para todas as variáveis numéricas referentes ao MFLEX, à AIMS e ao TIMP. Uma correlação de Pearson foi realizada para verificar a relação da variável idade com as variáveis do MFLEX, média da força máxima de preensão palmar da mão direita e da mão esquerda, e também com as variáveis média do tempo de preensão palmar da mão direita e da mão esquerda. Foi realizado o Odds Ratio para variáveis TIMP e AIMS com objetivo de identificar a razão de chances de atraso no desenvolvimento motor de acordo com a via de nascimento. RESULTADOS: Não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos nas variáveis avaliadas. O desenvolvimento motor grosso evoluiu de forma típica em ambos os grupos. A via de nascimento não demostrou ser um risco para sugestão de atraso no desenvolvimento motor. CONCLUSÃO: A via de nascimento não influencia negativamente o desenvolvimento motor de lactentes a termo nos quatro primeiros meses de vida nos quesitos comportamento de preensão palmar, desenvolvimento motor grosso e controle postural. Os lactentes de baixo risco, nascidos de parto vaginal ou de cesárea, apresentam um desenvolvimento motor típico. A minimização dos fatores de risco associado aos cuidados dos responsáveis e as demandas da tarefa parecem ser suficientes para proporcionar um desenvolvimento motor típico.

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