Resumo

O Transtorno Desenvolvimento da Coordenação (TDC) é um dos transtornos do neurodesenvolvimento mais prevalentes na infância, com impactos negativos no repertório motor, qualidade de vida e saúde geral das crianças. O diagnóstico dessa condição é mundialmente reconhecido pelos critérios clínicos estabelecidos pelo Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - Fifty Edition (DSM-5), cuja versão corrente recomenda a avaliação da influência ambiental, tal como das oportunidades para aprendizagem e uso das habilidades motoras, para o diagnóstico diferencial. Além disso, o uso de instrumentos específicos de apoio diagnóstico, tanto para triagem quanto para avaliação confirmatória, é recomendado. No entanto, a influência das oportunidades de prática motora sobre os parâmetros estabelecidos para identificação deste transtorno ainda não foi explorada. Diante deste cenário, este estudo propôs investigar a influência de diferentes quantidades de prática motora na identificação de crianças com TDC. Para isso, foram recrutadas 120 crianças, com idades entre sete e 10 anos de ambos os sexos, com duas condições de desempenho motor: indicativo de TDC (ITDC - n=60) e sem indicativo de TDC (sTDC - n=60). Foram formados oito grupos, de acordo com as quantidades de prática motora oferecidas: duas sessões - ITDC2 (n=16) e sTDC2 (n=14); quatro sessões - ITDC4 (n=14) e sTDC4 (n=16); seis sessões - ITDC6 (n=16) e sTDC6 (n=14); grupos controle - ITDC0 (n=14) e sTDC0 (n=14). Para a avaliação do desempenho motor foram utilizados os instrumentos MovementBattery for Children - Second Edition (MABC-2), o Developmental Coordination Disorder Questionnaire - Brasil (DCDQ-B) e o Motor Coordination Traffic Light Questionnaire (MC-TLQ). Esses instrumentos contemplam informações que apoiam a identificação dos sintomas clínicos descritos nos critérios do DSM-5 para identificação do TDC. Os resultados referentes ao percentil total da MABC-2 indicaram que nenhum dos grupos de crianças com ITDC se aproximou do desempenho motor das sTDC. O tamanho do efeito foi similar entre a maioria dos grupos (p>=0,05), exceto entre ITDC2 e sTDC2 (p<=0,05). Resultados semelhantes foram observados na análise do escore total do DCDQ-B, no qual a diferença significante foi observada apenas entre grupos para o ITDC2 e o sTDC2 (p<=0,00) e intra-grupo no sTDC2 (p=0,01). Ao final do estudo, a prevalência de crianças que se mantiveram na condição ITDC, foi de 2,64%, enquanto 3,66% apresentaram desempenhos motores que não condizem com os critérios para a presença do TDC. A proporção entre os sexos foi de dois meninos para uma menina. Em conclusão, as diferentes quantidades de práticas motoras parecem não ter influenciado na identificação do TDC, de forma a promover conhecimento quanto à quantidade específica para concluir o diagnóstico deste transtorno. Todavia, tais resultados sugerem que há um demasiado número de crianças sendo identificadas com TDC, sem realmente portarem este transtorno. Assim, reforça-se a necessidade de continuar as investigações quanto à forma de obter informações referentes à oportunidade e prática de habilidades motoras e reforça-se ainda a necessidade de repensar os procedimentos de identificação do TDC, da padronização e normatização de instrumentos, para que estes atendam, de forma mais precisa, aos critérios diagnósticos do TDC

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