Resumo
Os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) na região do ombro acometem a maioria dos trabalhadores brasileiros. Além de causar dor, os DORTs podem causar absenteísmo e presenteísmo, repercutindo em gastos com o tratamento/reabilitação. Algumas estratégias são utilizadas para minimizar tais impactos, entre elas, podemos citar a prática de atividade física e monitoramento da intensidade da dor. Contudo, nenhum estudo avaliou a associação entre as atividades físicas laborais e de lazer com a dor no ombro em trabalhadores de fruticultura. Diante disso, o objetivo do presente estudo foi analisar a influência do tempo das atividades físicas laborais e de lazer na percepção da intensidade da dor no ombro em trabalhadores de fruticultura na região do Vale do São Francisco. Trata-se de um estudo descritivo e correlacional de corte transversal, a amostra constituída por 180 trabalhadores de fruticultura, com idade média de 33,9 anos, sendo 72,8% do sexo feminino. O questionário elaborado possuía os instrumentos: 1) Escala Visual Numérica (EVN); 2) Ficha de Atividades Físicas Ocupacionais e de Lazer; 3) Copenhagen Psychosocial Questionnaire e Job Stress Scale, que avaliaram informações sobre as características pessoais, psicossociais e laborais dos trabalhadores. A análise dos dados foi realizada utilizando o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 20. A variável dependente foi a intensidade da dor, considerando a EVN, sendo categorizada em (baixa e alta), com pontos de corte EVN >3 e EVN >4, a fim de realizar uma análise de sensibilidade. As variáveis independentes foram os fatores pessoais, laborais e psicossociais. Foi utilizada uma regressão logística multivariada, com uma estimativa da razão de chances (Odds Ratio = OR) e intervalos de confiança de 95%, para expressar o grau de associação entre a variável dependente e independentes. Valores de p <0,05 foram utilizados para expressar associações significativas. Os resultados demonstraram que os trabalhadores classificados como insuficientemente ativos no lazer possuem 139% mais chances de apresentar dor de alta intensidade (EVN >3) no ombro (OR: 2,39; p=0,049). Em relação ao ponto de corte EVN >4, os trabalhadores insuficientemente ativos no lazer apresentam 185% mais chances de relatar dor de alta intensidade no ombro (OR: 2,85; p= 0,036). Além disso, o tempo de trabalho em atividades overhead é um fator de risco para dor de alta intensidade para EVN >3 e EVN >4, observandose um OR = 1,01 e valores de p < 0,001. Os trabalhadores classificados como eutróficos apresentaram 65% menos chances (OR = 0,35; p = 0,020) de relatar dor de alta intensidade (EVN > 3) e 80% menos chances (OR = 0,20; p = 0,001) para o (EVN > 4). Esses resultados permitem concluir que os trabalhadores efetivos da fruticultura de uvas apresentaram uma alta prevalência de dor intensa nos últimos três meses para a região do ombro. Além disso, os trabalhadores insuficientemente ativos no lazer, com sobrepeso e obesidade apresentam mais chances de relatarem dor intensa. Observou-se também que longos períodos em tarefas overhead (≥ 100 minutos) aumentam as chances de os trabalhadores relatarem dor de alta intensidade no ombro.
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