Resumo
Fundamentação: Evidências experimentais e clinicas apontam um estado gradativo de ativação imune-inflamatória em pacientes com insuficiência cardíaca (IC). Níveis elevados de diversas citocinas são encontrados na circulação e no músculo cardíaco de indivíduos com IC, correlacionando-se, invariavelmente, com o grau de gravidade da doença e agindo na disfunção endotelial, na indução de anemia, na apoptose miocitária e na perda gradativa de massa muscular esquelética. Existem controvérsias sobre a intensidade do exercício físico que mais favorece o tratamento de pacientes com insuficiência cardíaca (IC). Tem sido sugerido que o exercício intervalado de alta intensidade poderia proporcionar melhores resultados em termos de qualidade de vida (QoL) e parâmetros fisiológicos. Neste contexto, pouco tem sido estudado sobre os inflamatórios. Objetivo: Verificar o efeito terapêutico do exercício físico agudo e crônico de diferentes intensidades no perfil inflamatório em pacientes com IC. Método: Ensaio clínico controlado randomizado, desenvolvido durante 12 semanas, com vinte dois pacientes homens diagnosticados com IC compensados, fração de ejeção menor que 45%, média de idade de 53,8±8 anos, classe II e III da NYHA, aleatoriamente distribuídos em dois grupos: grupo submetido a exercício de moderada intensidade (GMI), exercitando-se com frequência cardíaca (FC) correspondente ao limiar aeróbio e grupo de exercício intervalado de alta intensidade (GAI), exercitando-se com FC correspondente ao limiar anaeróbio. Ambos os grupos realizaram exercício aeróbio em esteira rolante, três vezes por semana, durante 60 minutos de sessão de exercício. Foram feitas avaliações em quatro momentos: antes e após a primeira sessão de exercício e antes e após a última sessão (36°). Os marcadores inflamatórios circulantes foram determinados pela concentração plasmática de interleucinas (IL-1, IL-6, IL-10), fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), proteína solúvel sCD40, fator de crescimento vascular endotelial (VEGF) e proteína quimiotática de monócitos -1 (MCP-1), dosados por ELISA. A proteína de choque térmico de 70 kDa (HSP70) de células mononucleares foi dosada por Western Bloting e Kit por Elisa. Estas proteínas foram dosadas em nível plasmático (repouso) e em situação de exercício físico e choque térmico, intra, extracelular e a razão de ambas as situações. Antes e após o programa de exercício foram realizadas avaliações da: da função cardíaca e endotelial pelo ecodoppel (ECO); desempenho cardiorrespiratório por meio da ergoespirometria (VO2pico) e teste de caminhada de seis minutos (6MWT); qualidade de vida (QoL) por Questionário de Minesotta e SF-36. Resultados: Nas vias de sinalização inflamatórias, comparando o basal com à ultima sessão, verificou-se diminuição da IL-6 (p<0,001) para ambos os grupos, com maior queda para o GAI, assim como para o TNF-α comparando o mesmo momento. Na sessão de exercício, a mudança aguda aconteceu na última sessão para o TNF-α, VEGF e IL-10 em ambos os grupos. A expressão HSP70 aumentou em ambos os grupos, antes e após a realização do exercício (p <0,01). O GMI apresentou maior conteúdo intracelular de HSP70 com o exercício quando comparado com GAI, sendo que no nível de exportação extracelular, ambos os grupos apresentaram a mesma resposta. O treinamento proporcionou aprimoramento das respostas anti-inflamatórias verificadas pelaa razão intra e extra celular de HSP70. Houve melhora significativa da função diastólica do ventrículo esquerdo, avaliada pelo E/E´, apenas para o GAI. O VO2pico aumentou significativamente em 8,3% e 11,2% para o GMI e GAI, respectivamente. Independente da intensidade de exercício, verificou-se melhora superior a 15% em todos os domínios da QoL. Conclusão: Em ambos os grupos foi verificado aprimoramento da resposta anti-inflamatória e citoprotetora ao exercício, aguda e cronicamente. Foram observados ganhos significativos na função diastólica de VE e endotelial, desempenho cardiorrespiratório e na QoL, sem diferenças estatística entre os grupos.