Resumo

A Síndrome da Dor Anterior no Joelho (SDAJ) caracteriza-se por uma dor difusa retropatelar e peripatelar na articulação do joelho, exacerbada por atividades de sobrecarga sobre a articulação femoropatelar. Muitos estudos têm sido realizados no sentido de compreender os mecanismos causadores da SDAJ e suas consequências. Entre os aspectos pesquisados encontram-se a ativação muscular, relação de ativação e de capacidade de geração de força entre os músculos vasto medial e vasto lateral, a força quadriciptal e dos músculos do quadril, e as alterações mecânicas do membro inferior. Segundo a literatura, um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento dessa patologia é a fraqueza dos extensores do joelho. A fraqueza dos extensores do joelho pode estar associada à inibição muscular (IM) que o músculo quadríceps femoral sofre em função dos estímulos dolorosos. Esta alteração na geração de força e na capacidade de ativação muscular parecem alterar a morfologia do quadríceps e influenciar as alterações mecânicas ao nível da articulação femoropatelar. Para o melhor do nosso conhecimento, não foi encontrado na literatura nenhum estudo sistemático que investigasse simultaneamente os diversos aspectos da SDAJ, tentando assim estabelecer uma relação entre os aspectos morfológicos, mecânicos e elétricos dos extensores do joelho com a SDAJ. O presente estudo tem por objetivo comparar as propriedades mecânicas, morfológicas e mioelétricas dos extensores do joelho entre sujeitos acometidos pela SDAJ e um grupo controle saudável (GC). Nossa hipótese era de que os pacientes com SDAJ apresentarão uma redução nas propriedades mecânicas, morfológicas e mioelétricas dos extensores do joelho em decorrência da inibição muscular (IM) crônica produzida pela síndrome. Além disso, o estudo também tem por objetivo avaliar se existe diferença na metodologia de aplicação da técnica de interpolação de abalo para avaliação da IM do quadríceps a partir da comparação do uso de estímulos elétricos supramáximos sobre o nervo femoral (padrão ouro) com a estimulação sobre o ponto motor (nova metodologia) em sujeitos saudáveis e indivíduos com SDAJ. Nossa hipótese era de que a estimulação sobre o ponto motor será menos desconfortável que sobre o nervo femoral e os resultados de IM serão menos variáveis (com uma menor dispersão) em função desse menor desconforto. No Capítulo I, foi realizado um levantamento da literatura sobre as variáveis que foram avaliadas no decorrer do estudo, buscando informar ao leitor o que já foi feito na área, as lacunas e contradições acerca da SDAJ. No Capítulo II, foi realizado um estudo transversal sobre a avaliação da IM do quadríceps femoral, a partir da Técnica de Interpolação de Abalo (ITT), com a aplicação do abalo sobre o nervo femoral (NF) e sobre o ponto motor (PM). Vinte e nove sujeitos do sexo feminino, com idade entre 20 e 40 anos, sintomáticas (SDAJ, n=16) e assintomáticas (GC, n=13) para SDAJ, foram submetidas a avaliação da IM sobre o PM e NF no ângulo de 60° de flexão do joelho (0°=extensão máxima). Os resultados demonstraram que, para o grupo SDAJ, o PM apresenta resultados inferiores de IM comparado ao NF; já para o GC, os resultados foram semelhantes entre os dois pontos de estimulação. No Capítulo III foram realizadas avaliações da capacidade funcional, da IM e das propriedades mecânicas, morfológicas e mioelétricas dos extensores do joelho. Trinta e duas mulheres, com idade entre 20 e 40 anos, sintomáticas (SDAJ, n=16) e assintomáticas (GC, n=16) para SDAJ, foram avaliadas. Os resultados apontam para uma maior IM e reduções na capacidade funcional, no torque isométrico, na espessura da cartilagem femoropatelar e na arquitetura muscular do grupo SDAJ em relação ao GC. A revisão de literatura realizada no Capítulo I demonstrou que a literatura apresenta divergências sobre as alterações neuromecânicas decorrentes da SDAJ em mulheres. Os resultados do Capítulo II indicam que a avaliação da IM por meio da ITT é melhor tolerada por mulheres jovens sintomáticas para SDAJ quando avaliada no NF em comparação ao PM. Já no Capítulo III foram observados maiores valores de IM e reduções na capacidade funcional, torque isométrico, espessura da cartilagem femoropatelar e arquitetura muscular nos sujeitos com SDAJ em comparação ao GC saudável.

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