Iniciar ou Especializar: o Dilema Fatal e Contraditório do Educador Físico
Por Afonso Antonio Machado (Autor).
Parte de Educação Física Escolar e Esporte de Alto Rendimento: Dá Jogo? . páginas 11
Resumo
A ampla produção dos intelectuais da teoria crítica da Escola de Frankfurt serviu como referências para reflexões acerca de como o esporte era um discurso ideológico representante das classes dominantes da sociedade. Pensadores como Adorno, Benjamim, Habermas, Horkheimer, Jurgen e Marcuse acusavam o caráter contraditório da “conquista racional” do mundo, destacando como a racionalidade técnica e científica converteria o homem num escravo de sua própria técnica, buscando provar que o avanço das ciências, da tecnologia e do progresso industrial cada vez mais afastava o homem da sua condição humana (VIANA, 1994).
Com base nessas ideias, o esporte também era, e ainda é, acusado de tornar o homem refém do sistema econômico vigente, a sociedade capitalista. Desta forma, as críticas marcadas pela utilização de termos como coisificação, alienação, repressão e manipulação incumbiram por associar os sistemas de ação do esporte e do trabalho, orientados pela lógica capitalista.
Assim, Torri e Vaz (2006) citam as denúncias realizadas pelos autores da Teoria Crítica do Esporte, acusando o paralelismo entre esporte e trabalho, com características de concorrência, disciplina, autoridade, rendimento e organização, com ênfase na ação repetitiva, mecanicista e estereotipada.
O princípio de rendimento inculcado no esporte, pela busca de recordes, vitória a qualquer custo; as imagens de mitos e heróis devido a seus feitos eternizados em recordes e façanhas, no intuito de utilizar suas imagens para vender sua força de trabalho; a espetacularização da mídia, também com a intenção de ganhar os benefícios do consumo na sua variedade de produtos, através de ibope e venda de materiais esportivos, usando a imagem desses atletas “heroicos”.
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