Integra
Arraial do Cabo, 11 de dezembro de 2042
Hoje, voltei ao sótão e remexi no baú das velharias. Bem no fundo do baú e no meio de muita tralha, deparei com um verbete de um dicionário, que elaborei aquando da publicação de um livrinho, que dava pelo nome de “Inovar é Assumir Um Compromisso Ético Com a Educação”.
Já me tinha esquecido dele e dos restantes, que a ele estavam colados por força da humidade. Tentarei recuperar alguns, para vo-los dar a conhecer. Cá vai aquele que redigi sobe “inovação”.
Há trinta ou quarenta anos, de que estaríamos a falar, quando falávamos de avaliação educacional?
O termo “inovação” tem origem etimológica no latim “innovatio”. Refere-se a ideias, métodos ou objetos criados, que não semelhantes a ideias, métodos ou objetos conotados com padrões anteriores.
Diz-nos o dicionário que “inovação” é ação ou ato, que modifica antigos costumes, manias, legislações, processos... Isto é, ação ou ato renovador de algo, ou de alguém. Significa a abertura de novos caminhos, a descoberta de estratégias diferentes daquelas que habitualmente utilizamos. Pressupõe invenção, a criação de algo inédito.
Em suma: inovação é efetivamente algo novo. Que, em princípio, contribui para a melhoria de algo, ou de alguém. Que pode ser replicado, por exemplo, a partir da criação de protótipos.
Após décadas de adaptação de teorias existentes, a realidades que se transformaram e perante aceleradas mudanças sociais e inovação tecnológica, será necessário rever o modo de produção de conhecimento. O seu crescimento exponencial, os dados da pesquisa no campo da neurociência e da inteligência artificial, ou a sutil convergência entre a teoria da complexidade e a produção científica radicada no paradigma da comunicação, exigem que, para além de uma tomada de consciência da obsolescência do modelo escolar, assumamos um compromisso ético com a educação, inovemos.
Mas, como caracterizar inovação? Proponho cinco critérios.
Primeiro critério: o ineditismo.
Como diria Jacques de La Palice, Inovação será algo inédito. Significa trazer à realidade educativa algo efetivamente novo, ao invés de não modificar o que seja considerado essencial. Pressupõe, não a mera adoção de novidades, inclusive as tecnológicas, mas mudança na forma de entender o conhecimento.
Segundo critério: a sustentabilidade.
A inovação organizacional é considerada quase sinônimo de adaptação, pois tudo que foi inventado passou por um processo de recriação do já existente, transformando-o em novas formas e qualidades – no contexto da escola, uma recriação assente na tradição.
Terceiro Critério: a replicabilidade.
Há quem confunda inovação com uma qualquer “alternativa romântica”, iniciativa de uma escolinha isolada, um projeto de morte anunciada. Há quem considere inovador um modelo híbrido, mistura de resquícios de práticas do paradigma da aprendizagem com instrucionismo, circunscrito a escolas particulares e raríssimas escolas ditas “públicas”.
Quarto critério: ser insituinte.
Àquilo que é novo não poderemos aplicar raciocínios dedutivos. Inovação será algo que possui capacidade de se renovar, se reinventar, estar em permanente fase instituinte.
Quinto critério: ser útil.
No campo da educação, será um processo transformador, que promova ruptura paradigmática, mesmo que parcial, com impacto positivo na qualidade das aprendizagens e no desenvolvimento harmónico do ser humano, que a todos garante o direito à Educação.”
Sei que sois mais sábios que eu, queridos netos. Por isso, vos pergunto:
Quereis atualizar este verbete?