Resumo

a aprendizagem de habilidades motoras, a instrução é um dos fatores que interferem no resultado, que vem sendo pouco explorado quanto ao seu conteúdo. No ensino de habilidades aquáticas, as características espaciais da habilidade comumente são priorizadas, em detrimento de outras como a estrutura rítmica, que distingue uma habilidade de outra e é crucial para o alcance da meta na execução de uma habilidade, especialmente nas habilidades aquáticas. O ritmo é um princípio organizador, estruturado em níveis (pulso, métrica e variação rítmica), que é compartilhado intuitivamente entre indivíduos por diversas vias perceptivas, mas é pouco explorado quanto ao seu potencial pedagógico. O presente trabalho analisou os efeitos de uma instrução visual ou auditiva, retratando diferentes métricas, no processo de aprendizagem da pernada do nado peito, e as correlações com outros fatores como experiência anterior e frequência de exposição á instrução. Foi avaliado o desempenho de 50 participantes em três índices: o índice de pernada (IP), de configuração rítmica (ICR) e espacial (ICE). A amostra foi distribuída em quatro grupos conforme a instrução recebida: auditiva (A) ou visual (V), com métrica típica (T) ou alternativa (A) (AT, VT, AA, VA), bem como por experiência anterior em brincar na água, participação em aulas de natação e em aulas de atividades rítmicas (música, dança, capoeira, etc.), manifesta em questionário fechado. Cada um dos participantes executou ao longo da fase de aquisição, em três dias, 400 tentativas da tarefa em flutuação ventral, mais 50 tentativas no teste de retenção e 50 no teste de transferência, este em flutuação dorsal. Antes de cada ciclo de 10 tentativas puderam solicitar a instrução específica do grupo. As tentativas foram filmadas para obtenção dos índices de desempenho e posterior análise descritiva, de variância e tamanho do efeito. Todos os grupos melhoraram seu índice de pernada e a configuração espacial, mas não a rítmica. Foi constatado IP superior (p=0,075; r=0,258) dos grupos de instrução com métrica típica em comparação com a alternativa, no teste de retenção, e no ICE no teste de transferência (p=0,045, r=0,289), mas sem diferença entre as instruções auditiva e visual e quanto á solicitação da instrução. A experiência em brincar na água facilitou a aprendizagem (p=0,035; 8 r=0,541) enquanto aulas de natação a comprometeram, e a experiência em atividades rítmicas quase não se manifesta, o que relativiza a importância da instrução na aprendizagem de habilidades aquáticas e reforça o papel das experiências perceptivo-motoras. Em síntese, os resultados apontam para uma repercussão positiva da informação sobre a métrica típica, e há indícios de um melhor aproveitamento da instrução auditiva. O foco sobre a configuração espacial, comumente adotado no ensino de habilidades aquáticas, não se justifica, mas recomenda-se enfatizar a métrica da habilidade, e valorizar a diversificação de experiências motoras na água em detrimento do ensino de padrões motores pré-determinados

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